SBPC e ABC alertam para cenário de redução de bolsas concedidas pelo CNPq e possível apagão científico

Segundo dados do órgão de fomento, apenas 10,6% das solicitações serão atendidas; entidades também se preocupam com o orçamento do CNPq para 2026

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) manifestam sua preocupação com o resultado do edital nº 049/2024 do CNPq, referente à concessão de bolsas de pesquisa no País.

Conforme dados informados pelo órgão de fomento no começo desta semana, apenas 10,58% da demanda será atendida. A situação é ainda mais grave ao pensar que, neste ano, o edital teve um número de solicitações 17% superior à da chamada do ano passado.

“Esses números evidenciam um descompasso preocupante entre o número de doutores formados anualmente pelo nosso sistema de pós-graduação e as possibilidades de permanência desses jovens doutores no sistema de geração de conhecimento — especialmente diante das deficiências nas políticas de contratação, tanto no setor público quanto no privado”, alertam as entidades em documento.

Confira o documento na íntegra:

A SBPC E A ABC ALERTAM PARA O RISCO DE APAGÃO CIENTÍFICO E PROPÕEM RECOMPOSIÇÃO EMERGENCIAL DAS BOLSAS DO CNPq

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) manifestam sua preocupação com o resultado do julgamento do Edital 049/2024 do CNPq, referente à concessão de bolsas no país. Conforme dados informados pelo CNPq relacionados ao resultado preliminar divulgado em 7/10/2025, apenas 10,58% da demanda será atendida O quadro torna-se ainda mais grave ao considerarmos que a demanda bruta neste edital foi 17% superior à da chamada do ano anterior, enquanto os recursos disponíveis permaneceram os mesmos em ambos os editais.

Esses números evidenciam um descompasso preocupante entre o número de doutores formados anualmente pelo nosso sistema de pós-graduação e as possibilidades de permanência desses jovens doutores no sistema de geração de conhecimento — especialmente diante das deficiências nas políticas de contratação, tanto no setor público quanto no privado.

É importante destacar que as bolsas de pós-doutorado têm valores aquém do adequado, considerando a qualificação e o estágio de carreira dos candidatos. As políticas de formação de recursos humanos altamente qualificados — tão necessários ao desenvolvimento científico, tecnológico e social do país — devem ser acompanhadas de programas que possibilitem sua absorção pelo mercado de trabalho. Caso contrário, fomentaremos o êxodo de profissionais qualificados. Sem doutores em atividade, não há pesquisa, não há inovação, não há desenvolvimento tecnológico e não há a tão desejada soberania nacional.

Essa situação tende a se agravar no próximo ano, diante da previsão de recursos ainda mais limitados para o CNPq. Mesmo levando-se em conta as 5300 bolsas de pós-doutorado concedidas em conjunto pela CAPES e CNPq, o contraste entre os 25 mil doutores formados anualmente e a concessão de menos de 1.000 bolsas de pós-doutorado pelo CNPq é gritante.

Diante desse cenário, a SBPC e a ABC solicitam a revisão do orçamento previsto para as agências de fomento em 2026, de modo a possibilitar o atendimento da demanda reprimida por bolsas e projetos de pesquisa, e reitera o apelo por mudanças nas políticas de fixação de doutores no país, condição essencial para assegurar o futuro da geração de conhecimento e da ciência brasileira.

 

São Paulo e Rio de Janeiro, 9 de outubro de 2025.

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Academia Brasileira de Ciências

 

O documento pode ser acessado neste link.

Jornal da Ciência