A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgaram nesta quarta-feira, 9 de abril, uma carta conjunta em defesa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e da comunidade científica fluminense.
No documento, as entidades manifestam profunda preocupação com declarações recentes do governador Cláudio Castro, que desqualificam o trabalho da fundação e atacam injustamente os pesquisadores do estado.
A carta ressalta o papel estratégico da FAPERJ no desenvolvimento científico, social e econômico do Rio de Janeiro, e exorta o governo estadual a cumprir o compromisso de fortalecer a instituição.
“Reduzir toda essa produção a um juízo depreciativo é não apenas equivocado, mas perigoso, pois deslegitima o papel da ciência como alicerce de uma sociedade mais justa, saudável e desenvolvida”, alertam no documento.
Leia abaixo a carta na íntegra:
CARTA DA SBPC E DA ABC EM DEFESA DA CIÊNCIA E DA FAPERJ
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) manifestam publicamente sua profunda preocupação com as declarações do governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que desqualificam o trabalho desenvolvido pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e atacam, de forma infundada, a comunidade científica fluminense.
A FAPERJ recebe uma porcentagem fixa da arrecadação estadual, conforme a Lei Estadual nº 5.448/2009, que determina o repasse de 2% da arrecadação líquida de impostos do estado. A alegação de que “95% da verba vai para projetos que nunca mostram nenhum resultado” é grave, injusta e desrespeitosa com milhares de pesquisadores e instituições que, com competência e compromisso, produzem conhecimento, inovação e soluções concretas para os desafios do estado e do país. A FAPERJ tem um papel estratégico no desenvolvimento do Rio de Janeiro, apoiando desde estudos sobre vacinas e novas terapias até pesquisas sobre mudanças climáticas, segurança alimentar, engenharia de infraestrutura, inteligência artificial, arqueologia, energias renováveis, economia e políticas públicas.
Projetos financiados pela FAPERJ, por exemplo, contribuíram decisivamente para o enfrentamento da pandemia de COVID-19, com o desenvolvimento de testes diagnósticos e a modelagem da propagação do vírus. Outros exemplos incluem tecnologias para o monitoramento de encostas e prevenção de deslizamentos em regiões de risco, estudos sobre a Baía de Guanabara com impacto direto na recuperação ambiental e no turismo, e pesquisas voltadas ao fortalecimento da indústria fluminense com base em ciência de ponta.
Além de sua relevância científica e social, os investimentos realizados pela FAPERJ geram retorno econômico concreto para o estado do Rio de Janeiro. Pesquisas em inovação tecnológica resultam na criação de startups, na melhoria da competitividade industrial e no desenvolvimento de soluções aplicáveis aos setores produtivo, ambiental e de serviços. Projetos apoiados pela fundação já levaram ao registro de patentes, à modernização de processos industriais e ao aprimoramento de políticas públicas baseadas em evidências. Trata-se de uma política pública com retorno de curto, médio e longo prazo — tanto em geração de emprego e renda quanto na redução de custos sociais e na melhoria da qualidade de vida da população fluminense.
Reduzir toda essa produção a um juízo depreciativo é não apenas equivocado, mas perigoso, pois deslegitima o papel da ciência como alicerce de uma sociedade mais justa, saudável e desenvolvida.
Lamentamos ainda as declarações do governador que sugerem que a comunidade científica teria se oposto à presença de uma mulher no comando da FAPERJ. Essa afirmação é infundada e distorce os termos reais do debate. As manifestações públicas feitas por entidades e pesquisadores refletiram a preocupação legítima com a condução da política científica no estado. Por entendermos a relevância estratégica da FAPERJ, defendemos que sua liderança esteja em diálogo permanente com a comunidade acadêmica e com os desafios do sistema estadual de ciência, tecnologia e inovação. Isso é fundamental para garantir a continuidade e a efetividade das ações da Fundação em benefício da sociedade fluminense. Finalmente, recordamos que, ao trocar a direção da FAPERJ, o governador prometeu respeitar a comunidade científica e as pesquisas que ela conduz.
A SBPC e a ABC reiteram seu compromisso com a defesa da ciência, da educação, da liberdade acadêmica e do investimento público responsável em pesquisa. O estado do Rio de Janeiro precisa de mais ciência, mais tecnologia e mais inovação – não menos. E para isso, é fundamental fortalecer a FAPERJ, não deslegitimá-la. Por isso mesmo exortamos o governador a cumprir sua promessa neste sentido, poucos meses atrás, quando substituiu a direção da FAPERJ.
Atenciosamente,
HELENA BONCIANI NADER
Presidente da ABC
RENATO JANINE RIBEIRO
Presidente da SBPC
Confira o documento neste link.
Jornal da Ciência