SBPC e ABC solicitam ao Senado que adie votação do PL do Licenciamento Ambiental

Entidades científicas alertam para retrocessos socioambientais e pedem que o Senado abra espaço para debate técnico e democrático sobre o PL 2159/2021

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) enviaram, nesta terça-feira (14), uma carta ao presidente do Senado Federal, senador David Alcolumbre, solicitando o adiamento da votação do Projeto de Lei 2159/2021, que trata do licenciamento ambiental. Para as entidades, o projeto representa um grave risco à proteção socioambiental no Brasil e avança no Congresso sem o necessário diálogo com a sociedade civil e a comunidade científica.

No documento, assinado pelos presidentes Helena Bonciani Nader (ABC) e Renato Janine Ribeiro (SBPC), as entidades alertam que o projeto enfraquece os mecanismos de controle ambiental, promovendo retrocessos disfarçados de modernização. O alerta ganha ainda mais peso diante da proximidade da COP 30, quando o Brasil estará sob atenção internacional. “Uma proposta que agride o presente e o futuro de nosso País mancharia irremediavelmente os esforços conduzidos até aqui no cenário global”, afirmam SBPC e ABC.

As entidades ressaltam ainda que a aprovação apressada do texto prejudica o debate público qualificado e ignora evidências científicas que apontam os riscos de degradação ambiental agravada no contexto das mudanças climáticas. “Reduzir instrumentos de proteção ambiental condenará o Brasil e suas futuras gerações a um quadro ainda mais crítico de perda de resiliência e oportunidades de desenvolvimento sustentável”, afirmam.

Leia o documento na íntegra:

 

Exceleníssimo Senhor

Senador DAVID ALCOLUMBRE

Presidente do Senado Federal

Brasília, DF.

 

Senhor Presidente,

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que congrega mais de 160 sociedades científicas do Brasil, vêm solicitar à Presidência do Senado Federal que postergue a votação do PL 2159/2021, que dispõe sobre o licenciamento ambiental.

A votação iminente do PL, que tem profundas consequências para a sociedade e economias brasileiras, inviabiliza uma participação mais ampla da sociedade civil e da comunidade científica sobre as alterações propostas.

As análises técnicas conduzidas até o momento indicam que sua aprovação representará um retrocesso substancial na proteção ambiental no Brasil, travestido de flexibilização do licenciamento para aumento de sua eficiência.

Vasta literatura científica e evidências claras dos desastres socioambientais vividos pelo Brasil em anos recentes são fatos que demonstram cabalmente que o agravamento das mudanças climáticas, o declínio de nossa biodiversidade e de nossos biomas já comprometem nosso desenvolvimento e a segurança de nossa população. Reduzir instrumentos de proteção ambiental condenará o Brasil e suas futuras gerações a um quadro ainda mais crítico de perda de resiliência e oportunidades de desenvolvimento sustentável.

A comunidade científica vê com enorme preocupação o espaço exíguo de organização e revisão do texto para uma nova legislação, que trará o risco de abrir um palco de judicialização e de maior desgaste entre os poderes constituídos.

Estamos a poucos meses de sediar a Conferência da Partes da Convenção Quadro da Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30. Os esforços até aqui conduzidos para encaminhar soluções globais seriam indelevelmente manchados por uma proposta que agride o presente e o futuro de nosso País.

Certos de contar com sua reflexão e liderança, solicitamos ao Senado Federal que abrigue as preocupações da ciência e da sociedade brasileiras em prol do direito constitucional a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

 

Respeitosamente,

 

HELENA BONCIANI NADER

Presidente da ABC

RENATO JANINE RIBEIRO

Presidente da SBPC

Acesse a versão em PDF da carta neste link.

Jornal da Ciência