Em documento divulgado nessa quinta-feira, 16, as entidades científicas apontam abandono da região pelas autoridades que têm por missão constitucional e legal protegê-la e afirmam que política atual vai contra valores mais elementares da ética e do convívio digno e humano em sociedade
NOTA
As entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro (ICTP.Br), comprometidas com o futuro do meio ambiente e comunidades indígenas do país, manifestam sua indignação perante o assassinato do indigenista e funcionário da Funai, Bruno Pereira, e do jornalista britânico, correspondente do jornal The Guardian, Dom Phillips.
Crimes como este, somando-se a inúmeros outros, são resultados diretos dos conflitos na região amazônica, promovidos por grupos contraventores extrativistas que fomentam práticas ilegais de desmatamento e ocupação, que cresceram nos últimos anos de maneira substancial, em decorrência do abandono da região pelas autoridades que têm por missão constitucional e legal protegê-la. Proteger a natureza, proteger os povos originários, proteger os habitantes e os recursos da Amazônia. Essa é uma demonstração objetiva de que o Brasil, atualmente, está na contramão da conservação dos seus biomas e utilização de seus potenciais para criação de riquezas, de maneira sustentável e equilibrada, respeitando os povos tradicionais e sua diversidade cultural.
Para as entidades que subscrevem esse documento, a Amazônia é um ecossistema com infinitas possibilidades no campo das pesquisas e desenvolvimento tecnológico, com importância vital para o equilíbrio climático do planeta e afirmação da soberania do país nas relações internacionais.
A região preservada possui muito mais valor econômico para o Brasil que as práticas predatórias de exploração e a expansão desenfreada da fronteira agrícola e da pecuária, as quais cresceram substancialmente nos últimos cinco anos. Os limites do conhecimento nas áreas da biotecnologia e bioeconomia, apontam para o futuro de um novo oásis que compatibiliza a necessidade de manter a floresta de pé, a permanência e proteção das populações nativas e a geração de riquezas com maior conteúdo tecnológico e valor agregado, compatíveis com os desafios da sustentabilidade do planeta.
Bruno Pereira e Dom Phillips foram brutalmente mortos porque acreditavam que todos esses elementos são necessários para o desenvolvimento brasileiro, contribuição ao equilíbrio do meio ambiente em escala global e à garantia dos direitos humanos dos povos indígenas originários da Amazônia.
Nossos sentimentos e solidariedade às famílias e amigos de Bruno e Dom, assim como a todas as vítimas que ergueram as mesmas bandeiras deles e tombaram pela força das armas dos bárbaros predadores da grande Amazônia.
Nossa indignação, portanto, se coloca diante de uma política que vai contra os valores mais elementares da ética e do convívio digno e humano em sociedade.
Brasília, 16de junhode2022.
Academia Brasileira de Ciências (ABC);
Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes);
Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap);
Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies);
Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif);
Conselho Nacional dos Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti);
Instituto Brasileiro de Cidades Inteligentes, Humanas & Sustentáveis (Ibrachics);
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Jornal da Ciência