A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) encaminhou a autoridades a “Moção de Repúdio: Operação Ouvidos Moucos e o Caso do Ex-Reitor Luiz Carlos Cancellier”. O documento foi aprovado por unanimidade pela Assembleia Geral Ordinária de Sócios da SBPC, realizada no dia 27 de julho, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante a 75ª Reunião Anual.
A moção foi endereçada aos presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do Senado Federal, Rodrigo Pacheco; da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, para o procurador-geral da República, Augusto Aras; e para a Polícia Federal.
Segundo o documento, a espetacularização da operação Ouvidos Moucos levou à destruição de reputações e à violação de direitos fundamentais. O processo criminal atropelou trâmites legais, aglutinou irregularidades e acabou por condenar uma pessoa inocente, provocando um dano irreparável à sua dignidade e, por fim, resultando em sua morte.
“É inaceitável que tenham se passado seis anos desde esse episódio lamentável e não tenha havido, até o momento, qualquer manifestação de desculpas. A falta de responsabilização e a ausência de retratação demonstram uma total indiferença à dor e ao sofrimento causados por essas instituições”, afirma a entidade.
Leia a moção na íntegra:
Moção de Repúdio: Operação Ouvidos Moucos e o Caso do Ex-Reitor Luiz Carlos Cancellier
A tragédia envolvendo o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier é uma mancha sombria na história do Brasil e uma prova contundente dos abusos cometidos pela operação Ouvidos Moucos. Hoje, com profundo pesar, atualizamos essa triste narrativa com a confirmação de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não encontrou qualquer irregularidade na gestão do professor.
Preso, humilhado e perseguido, Luiz Carlos Cancellier teve sua vida virada de cabeça para baixo. Detido e algemado, foi libertado em 36 horas, mas com a proibição de circular na própria universidade que ele tanto amava e servia. Dezoito dias depois, em um ato de desespero, o professor tirou sua própria vida, atirando-se do alto de um shopping center em Florianópolis. Em seu bolso, foi encontrado um bilhete, que dizia: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade.”
A espetacularização da operação Ouvidos Moucos levou à destruição de reputações e à violação de direitos fundamentais. O processo criminal atropelou trâmites legais, aglutinou irregularidades e acabou por condenar uma pessoa inocente, provocando um dano irreparável à sua dignidade e, por fim, resultando em sua morte.
É inaceitável que tenham se passado seis anos desde esse episódio lamentável e não tenha havido, até o momento, qualquer manifestação de desculpas. A falta de responsabilização e a ausência de retratação demonstram uma total indiferença à dor e ao sofrimento causados por essas instituições.
Luiz Carlos Cancellier foi uma vítima de um período assombroso na história da República brasileira. Sua trajetória como educador e gestor exemplar foi tragicamente interrompida pela irresponsabilidade e abuso de poder. Enaltecer sua pessoa é reconhecer não apenas a injustiça sofrida por ele, mas também a importância de lutarmos por uma Justiça verdadeiramente justa, que respeite os direitos humanos e garanta o devido processo legal para todos os cidadãos.
Além disso, é preciso garantir uma verdadeira autonomia universitária, para que o abuso de poder, a precipitação dos órgãos de Justiça e a espetacularização midiática não voltem a atacar nem a universidade, nem os atores que a constroem.
No Brasil, conquistamos a partir da Constituição de 1988 a autonomia financeira, autonomia administrativa e a liberdade de pensamento, ou seja, a liberdade de cátedra. No entanto, a previsão constitucional necessita de um conjunto de proteções – jurídicas, políticas e institucionais – para ser efetiva.
Nós, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), repudiamos veementemente as ações que levaram à perseguição e prisão injusta do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier e seguimos na luta para que a história não se repita.
Jornal da Ciência