A abertura da 71^a edição da Reunião Anual da SBPC, realizada neste domingo, no Teatro Glauce Rocha, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), contou com uma nova categoria de homenagens a pessoas que, mesmo atuando em áreas distintas à ciência, promovem atividades que reforçam a importância do conhecimento científico para a vida das pessoas: “Amigos da Ciência”. Foram homenageados o casal João e Branca Moreira Salles, criadores do Instituto Serrapilheira, representados na ocasião por Natasha Felizi, diretora de divulgação científica da instituição; o ex-deputado federal Sibá Machado; e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, e atual secretário executivo da Iniciativa para a Ciência e a Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), Celso Pansera.

“Nos últimos anos, a SBPC, junto com a comunidade científica, está empenhada em divulgar o papel da ciência no dia a dia da população e a importância que descobertas científicas têm para o aumento da qualidade de vida em nosso planeta e, em especial, em nosso país”, relatou Lucile Maria Floeter Winter, diretora da SBPC, que apresentou a nova homenagem. Ações como o programa “SBPC vai à Escola” e as atividades realizadas em diferentes regiões do País no Dia Nacional de Ciência foram apontadas por ela como exemplos nesse sentido.

A essas ações se somam as vozes de pessoas que, apesar de atuarem em outras áreas, têm alavancado atividades que reforçam essa visão da importância da ciência. “Por isso, a SBPC resolveu instituir neste ano a homenagem que foi denominada “Amigos da Ciência””, anunciou Winter.

A SBPC presta homenagens, em toda Reunião Anual, a figuras que atuam de forma inspiradora dentro da comunidade científica e que apresentam importância institucional para a SBPC. Nesta edição de 2019 foram homenageados o poeta Manoel de Barros, in memorian; a professora titular da UFMS, Maria Ligia Rodrigues Macedo; e Eunice Maria Fernandes Personini, secretária da presidência da SBPC.

Inspiração nos traços do poeta

Poeta matogrossense, Manoel de Barros (1916-2014) fez parte da chamada Geração de 45 de escritores modernistas, ao lado de outros grandes nomes, como João Cabral de Melo Neto e João G

uimarães Rosa. Em suas obras, nas quais a SBPC encontrou inspiração, a natureza é uma fonte inestimável de sabedoria e a ciência é uma parte da relação humana com ela. Já dizia o poeta, “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá,/ mas não pode medir seus encantos” (Livro sobre Nada, 1996).

“Acreditamos que este encantamento sem medida pelo universo e essa curiosidade, que é a fonte na qual se nutrem a ciência e a poesia, sejam um elemento essencial para a busca do conhecimento e para a construção de um mundo melhor e mais humano”, disse Claudia Masini d’Avila-Levy, secretária da SBPC. A homenagem póstuma prestada ao poeta pela SBPC foi recebida pelas mãos de seu neto, Felipe Barros.

Zela como poucos pela SBPC

A presidente de honra da SBPC, Helena Nader, prestou uma emocionada homenagem à Eunice Maria Fernandes, funcionária da instituição há 45 anos. “Eunice, a nossa Nicinha, é uma pessoa discreta, diligente, dedicada e empenhada, perseverante, cuidadosa e cuidadora, enfim, um ser muito especial que conhece e zela como poucos pela nossa SBPC”, definiu Helena.

A biografia de Eunice, que entrou para o quadro da instituição em 1974, se confunde com a da própria SBPC. Desde 1988 ela atua como secretária da diretoria, tendo trabalhado diretamente com oito presidentes da SBPC — Carolina Bori, Ennio Candotti, Aziz Nacib Ab’saber, Sérgio Henrique Ferreira, Glaci Zancan, Marco Antonio Raupp, Helena Nader e Ildeu de Castro Moreira, atual presidente.

“Nicinha participou da formação e capacitação de dezenas de milhares de jovens brasileiros nestes 45 anos de trabalho na SBPC — nas reuniões anuais e regionais, colóquios e eventos pelo Brasil afora, em grande capitais e em pequenos municípios”. Ainda, lembra Nader, a importância de sua contribuição vai muito além: Nicinha vivenciou as atividades da SBPC em diferentes situações políticas do País, da ditadura militar ao movimento das Diretas Já, pela redemocratização; da Constituinte ao movimento estudantil dos cara pintadas; dos anos de tortura aos anos de diálogo. “Sempre na luta pela educação, pela ciência, pelo meio ambiente, pelos direitos humanos, pela saúde, pelo estado democrático de direito. Ela é nossa memória, nosso orgulho. Feliz a instituição que pode ter em seus quadros pessoas como a Eunice”, exaltou Nader.

Prêmio José Reis

A abertura da 71^a  Reunião Anual da SBPC também foi palco para a entrega da 39^a edição do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica. O físico Marcelo Knobel foi agraciado com o prêmio, que neste ano contemplou a categoria “pesquisador e escritor”. Ele foi o escolhido de um total de 91 inscrições de profissionais de todo o país.

Em viagem ao exterior, Knobel não pode participar do evento, mas enviou um vídeo de agradecimento. “É com muita alegria que recebo hoje o Prêmio José Reis de Divulgação Científica. Gostaria de agradecer ao CNPq, à comissão que trabalhou para a escolha e a todos os pesquisadores e às pessoas que participaram de uma maneira ou de outra durante a minha trajetória como pesquisador e divulgador da ciência”, disse.

Knobel é professor titular do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFWG), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde realiza pesquisas na área de magnetismo e materiais magnéticos. O físico assumiu em 2017 a reitoria da instituição, cargo que ocupa atualmente. Pesquisador 1A do CNPq, Knobel se dedica também a temas como divulgação científica, percepção pública da ciência e ensino superior. Participou desde cedo do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Científico (Labjor) da Unicamp, coordenou o Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri) e atuou como diretor executivo do Museu Exploratório de Ciências da instituição.

“Eu, como pesquisador, cientista neste nosso país que está vivendo momentos muito difíceis, tenho que atuar cada vez mais nessa área que é tão fundamental para o próprio desenvolvimento do Brasil. Temos que mostrar para a sociedade, para os políticos, para todos, que não existe qualquer perspectiva de futuro se não tivermos uma ciência e uma tecnologia fortes”, alertou.

O prêmio é concedido anualmente, desde 1978, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a iniciativas que contribuam significativamente para tornar a ciência, a tecnologia e a inovação conhecidas do grande público.

A premiação foi recebida pela pesquisadora Sabine Righetti, da Unicamp, das mãos de Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC, e de João Luiz Filgueiras de Azevedo, presidente do CNPq.

Ana Paula Morales – especial para o Jornal da Ciência