Ao longo de seus quase 70 anos a SBPC desempenha um importante papel na expansão e no aperfeiçoamento do sistema nacional de ciência e tecnologia, e a difusão e popularização da ciência no País sempre figuraram como elementos fundamentais para a consolidação de uma cultura científica que envolva toda a sociedade. Diante do cenário crítico que o setor enfrenta, com cortes drásticos de orçamento, o engajamento de toda a população torna-se, mais do que nunca, vital. Com o objetivo de ampliar a divulgação sobre as pesquisas desenvolvidas no Brasil e aproximar ainda mais a ciência do cidadão, a SBPC começa a delinear um projeto estratégico de divulgação científica para o biênio 2017-2019. O primeiro passo foi dado nesta quarta-feira, 20, com um encontro que reuniu um seleto grupo de divulgadores científicos brasileiros, jornalistas e youtubers, para compartilhar experiências e discutir ideias de como expandir as possibilidades de comunicação.
“Estamos empenhados na construção de um projeto de divulgação científica que vá além dos já criados e consolidados – como o Jornal da Ciência, o JC Notícias, a revista Ciência & Cultura, entre outros. Esses veículos já são consagrados como publicações para a comunidade científica e alguns segmentos mais específicos. O grande desafio que enfrentamos neste momento é o de aproximar a ciência do cidadão”, enfatizou a vice-presidente da SBPC, Vanderlan Bolzani.
Participaram do encontro a jornalista Luisa Massarani, diretora-executiva da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPOP), a jornalista Mariluce Moura, professora da Universidade Federal da Bahia e criadora da revista Pesquisa Fapesp, Reinaldo José Lopes, jornalista da Folha de S. Paulo, Átila Iamarino, biólogo e criador do canal de YouTube Nerdologia, e Paulo Miranda Nascimento, criador do Canal do Pirula, também no YouTube. Lopes, Pirula e Iamarino são parte de uma rede de YouTubers de ciências, o ScienceVlogs Brasil, que reúne canais de divulgação científica nacionais.
Os participantes trocaram ideias, propuseram colaborações e lançaram sugestões, como investir em produção de vídeos, buscar especialmente inserção na televisão aberta, e implementar programas de capacitação de cientistas para divulgar ciência.
“Jornais e revistas atingem os tomadores de decisão. Mas o que chega nas pessoas hoje são os vídeos e redes sociais”, afirmou Iamarino. Seu canal, Nerdologia, foi criado em 2013 e possui quase dois milhões de seguidores. Ele ressaltou ainda que é importante que o cientista esteja preparado para se comunicar por vídeo e pelas mídias sociais. “Ninguém está sendo formado para se comunicar nesses meios”, ressaltou.
Conhecido como Pirula, Paulo Miranda Nascimento, afirma que é possível envolver pessoas influentes, youtubers que não necessariamente falam de ciência, mas que atingem um público de milhões de pessoas no País. Mas, para isso, é preciso que a SBPC tenha uma estratégia, apresente uma solução e pense de que maneira esse público pode se engajar com os diversos assuntos de ciência e, também, participar. “Existem várias pessoas que podem se interessar. É preciso, no entanto, haver um meio de campo, com uma mensagem objetiva: ‘O que vamos fazer para resolver esse problema? Por que a ciência estar sem dinheiro pode ser ruim para todos? Dessa maneira, dá para fazer uma campanha com pessoas influentes que pode alcançar a metade do Brasil”, disse o youtuber, que possui quase 600 mil inscritos em seu canal.
Reinaldo José Lopes também reforçou que é preciso privilegiar a produção de vídeos e salientou que o projeto precisa ser ambicioso: “o tempo para meias medidas passou”, disse. Conforme observou, com o prestígio histórico que a SBPC possui, é possível encontrar oportunidades para viabilizar tais iniciativas.
“Foram levantadas três linhas importantes na discussão: um projeto mais a curto prazo seria usar a plataforma do YouTube, e o expertise dos youtubers, para criar vídeos. Isso poderia estar associado a uma capacitação, para ensinar como produzir um vídeo, falar diante das câmeras. E, no médio prazo, pensar em um programa de TV”, resumiu Massarani.
A jornalista Mariluce Moura acrescentou que é importante considerar as diferenças regionais do Brasil e, especialmente, como juntar diferentes mídias para alcançar a população jovem. “A divulgação científica no Brasil ainda é muito tímida, e muito concentrada no eixo São Paulo-Rio de Janeiro”.
Na avaliação da vice-presidente da SBPC, a reunião foi muito boa e refletiu bem o universo de ações em que os jornalistas e youtubers podem colaborar com a SBPC para uma divulgação científica mais ampla e que toque, de fato, os jovens de todos os segmentos e a população em geral. O próximo passo será criar uma pauta de trabalho em que todos possam colaborar, que se dará em breve.
“Enquanto a sociedade brasileira não acreditar na importância da ciência para seu dia a dia, como saúde, alimento, higiene, água, ambiente, poluição, etc., não conseguiremos que governo e políticos tenham em suas prioridades programáticas educação, ciência e tecnologia. Reverter o quadro dramático de cortes no financiamento desta tríade fundamental ao País passa também pela clareza da sociedade sobre tal importância. As pessoas não podem defender algo que até conhecem, mas não conseguem capitalizar benefícios concretos. É fundamental unir forças para divulgar a ciência que é feita no Brasil e os seus feitos”, concluiu Bolzani.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência