SBPC lamenta a morte do professor emérito da UFMG Ângelo Machado

O docente, que era sócio desde 1952 da entidade, teve uma grande atuação na divulgação científica. Grande parceiro da SBPC, participou da entidade em várias frentes. Leia a nota da SBPC em homenagem a Ângelo Machado

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta o falecimento de Ângelo Barbosa Monteiro Machado, aos 85 anos, nesta segunda-feira (06), em Belo Horizonte. Ele faleceu em razão de uma pneumonia aspirativa.

Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Machado era sócio da entidade desde 1952. Sempre atuante, ele participou da SBPC em várias gestões, sendo secretário Regional em MG por quatro mandatos (1969 a 1977), conselheiro por quatro mandatos (1977 a 1981, de 1983 a 1987, de 1989 a 1993, de 1995 a 1999) e membro da diretoria (1979 a 1981 e 1981 a 1983).

Dono de uma trajetória única, Machado formou-se médico, mas jamais exerceu a profissão, dedicando-se desde cedo à paixão pela entomologia. Ele se formou em Medicina pela UFMG em 1958. Em 1963, ainda na UFMG, obteve o título de doutor em Medicina e no período de 1965 a 1967 fez pós-doutorado na Northwestern University (Chicago).

O professor foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mineira de Letras e presidente do Conselho Curador da Fundação Biodiversitas, ONG especializada na conservação de espécies ameaçadas de extinção.

Entre suas descobertas relevantes no campo da medicina, Machado mudou, nos anos 1960, o conceito então existente sobre as lesões do sistema nervoso autônomo na doença de Chagas.

Na área da entomologia, dedicou-se ao estudo das libélulas, tendo descrito 98 espécies e 11 gêneros novos desses insetos. Ele foi homenageado com seu nome em 56 espécies de animais. As libélulas, por sinal, eram uma das paixões do professor. Ele reuniu uma coleção com 35.250 exemplares de 1.052 espécies ao longo de seis décadas.

O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, lembra que Machado era uma pessoa ativa, entusiasmada, dona de um humor refinado e que dedicou parte de sua vida à divulgação científica. “Ele ajudou a criar as revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, foi um grande colaborador por anos dessas publicações, e escreveu livros e peças infantis”, destaca Moreira.

Machado publicou 37 livros infanto-juvenis e três para adultos. Também escreveu seis peças infantis e outras duas comédias. Por seu trabalho, recebeu entre outros os Prêmios Jabuti de literatura infantil (1993) e SESC-SATED de melhor texto de teatro infantil (1996).

O presidente da SBPC lembra ainda com carinho das palestras alegres ministradas por Machado. “Ele era criativo e sabia cultivar a plateia com sua vivacidade. Suas palestras eram momentos de muito aprendizado e diversão”, comenta.

Em 2017, Machado foi homenageado na 69ª Reunião Anual da SBPC por sua contribuição à ciência e por sua trajetória na própria SBPC (veja a cerimônia neste link). “Foi estudando a libélula que descobri a principal função da libélula: fazer o Ângelo Machado feliz.” Foi assim que o próprio Ângelo Machado, com sua singeleza e simpatia características, resumiu sua renomada trajetória de pesquisa.

Leia abaixo a homenagem da SBPC ao pesquisador:

HOMENAGEM DA SBPC A ÂNGELO MACHADO

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), todos os seus associados, conselheiros, diretores e sociedades científicas afiliadas, e com certeza toda a comunidade científica brasileira, estão muito entristecidos hoje com o falecimento do professor Ângelo Barbosa Monteiro Machado (1934-2020). Cientista brilhante, no campo da entomologia e da neurociência, grande e entusiasmado educador e divulgador da ciência, ambientalista muito ativo, escritor e dramaturgo de grande competência e sucesso, Ângelo Machado foi uma pessoa de enorme importância para a ciência brasileira e para a ciência e a cultura mineira. Ângelo foi sócio da SBPC por 68 anos, tendo sido secretário regional em MG por quatro vezes, conselheiro da entidade também por quatro mandatos e membro da diretoria de 1979 a 1983. Viveu a SBPC intensamente por quase sete décadas e a ele devemos muito. Foi um dos divulgadores da ciência mais atuantes do país, especialmente competente, brilhante e cativante em seus livros, artigos e palestras para as crianças, tendo produzido uma vasta literatura infanto-juvenil. Um dos mais ativos colaboradores da revista Ciência Hoje, desde o seu início, tinha um amor especial pela Ciência Hoje das Crianças, da qual foi um dos criadores, e para a qual contribuiu intensamente e por muitos anos. Dotado de um excepcional senso de humor e grande contador de estórias, deliciava palestras com sua alegria contagiante e suas narrativas encantadoras. A SBPC homenageou-o em sua 69a Reunião Anual, na UFMG, em Belo Horizonte, em um momento particularmente emocionante, no ano em que  completava 83 anos. As centenas de pessoas, que lotavam um grande auditório, contagiaram-se todos com sua alegria e não resistiram a cair em uma sucessão de risadas. Ele finalizou seu emocionante discurso de agradecimento dando mérito às suas amadas libélulas, das quais descreveu uma centena de espécies novas, por terem feito dele um homem feliz. Certamente, inúmeras crianças brasileiras devem igualmente agradecer a Ângelo Machado por ele ter contribuído para suas formações e para muitos de seus momentos alegres.

Nossas condolências e nosso abraço carinhoso aos seus familiares.

Adeus, querido Ângelo Machado! Muito obrigado por tudo que fez pela ciência, pela educação, pela cultura, pelo meio-ambiente e pelas crianças brasileiras, por nossa gente e nossa natureza. E por nos ter feito a todos que o conhecemos, que aprendemos com você, que o lemos ou escutamos, pessoas mais alegres, melhores e mais humanas!

Ildeu de Castro Moreira

Presidente da SBPC

 

Jornal da Ciência