SBPC lamenta morte da cientista Maria Marques

Professora emérita da UFRGS atuou como secretária regional da SBPC-RS e se destacou na área da fisiologia endócrina
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Foto: Carlos Edler

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta a morte da Maria Marques, professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aos 97 anos, ocorrida no dia 01 de agosto. Maria Marques foi secretária regional da SBPC-RS entre os anos de 1977 e 1978, era docente titular aposentada do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS e teve atuação destacada na área da fisiologia endócrina.

Nascida em Jaguarão, cidade de fronteira com o Uruguai, Marques sempre foi incentivada para os estudos por seu pai, engenheiro agrônomo com especialização em universidade americana e europeia.

Desde cedo sonhava em ser professora, o que a levou a se inscrever no bacharelado em história natural na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Puc-RS). Lá, Marques foi aluna do professor Riet Corrêa, a convidou para ser sua assistente ao término do curso, em 1950. Decorridos três anos, a cátedra de Fisiologia da Faculdade de Medicina foi transformada em Instituto de Fisiologia Experimental, voltado ao ensino e à pesquisa. Marques foi convidada para ingressar no novo instituto como auxiliar de pesquisa.

No Instituto de Fisiologia Experimental, Marques teve a oportunidade de trabalhar diretamente com o professor Bernardo A. Houssay, renomado cientista argentino, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. Ela contribuiu ativamente em sua formação com sua dedicação à pesquisa. Em 1965, concluiu o doutorado em ciências na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, sob a orientação do professor Paulo Sawaya, grande mestre introdutor da fisiologia comparada no país.

Em sua longa carreira universitária na UFRGS, onde se tornou professora titular de fisiologia em 1983, orientou alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Ajudou a criar e consolidar o curso de Pós-Graduação em Fisiologia, tornando-o atualmente um dos três no país que oferecem programas de doutorado específicos na área de fisiologia credenciados pelo CFE.

Pesquisou aspectos comparativos da ação da insulina, assim como insulina extrapancreática em vertebrados e invertebrados. Em seus estudos em tartarugas, identificou receptores para insulina em glândulas endócrinas, o que confirmou em ratos e demonstrou que esse hormônio atua diretamente sobre as glândulas adrenais e tireoide. Na década de 90 investigou a produção de insulina na mucosa gastrointestinal da tartaruga e sua possível função e a ação desse hormônio em invertebrados.

Aposentada em 1994, continuou pesquisando e orientando estudantes como bolsista 1A do CNPq. Muitos de seus discípulos são hoje docentes e ativos pesquisadores no Departamento de Fisiologia da UFRGS e em outras universidades de seu estado.

Sua produção científica no campo da fisiologia endócrina, em especial sobre aspectos comparativos da produção e ação da insulina, inclui dois capítulos em livros editados no exterior, numerosos artigos publicados em periódicos internacionais, alguns em revistas locais e uma centena de comunicações em congressos nacionais e internacionais.

Desempenhou várias funções de liderança na UFRGS e em sociedades científicas: foi presidente da Sociedade de Fisiologia do Rio Grande do Sul (1976-1980) e presidente da Sociedade Brasileira de Fisiologia (1991-1994).

Em reconhecimento à sua contribuição como cientista e professora, a Sociedade de Fisiologia do Rio Grande do Sul instituiu um prêmio a jovens pesquisadores denominado “Prêmio Maria Marques”. Em 1996 recebeu o título de professora emérita da UFRGS e foi eleita membro associado da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em 1998, recebeu do presidente da República do Brasil o título de comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Jornal da Ciência, com adaptações da ABC