A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifesta profundo pesar pela morte do médico e pesquisador Isaias Raw, na madrugada desta quarta-feira, 14 de dezembro, aos 95 anos. Raw se associou à SBPC em 8 de novembro de 1948, quatro meses após sua fundação – era o sócio mais longevo da entidade.
Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo em 1950, foi professor da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador do Instituto Butantan. Membro da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Biomédicas desde 1987, sua atuação principal era no desenvolvimento de vacinas e biofármacos.
Raw era amplamente reconhecido por seu trabalho como cientista, mas também por sua veia empreendedora e sua atuação em defesa da saúde pública.
Foi diretor do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (Ibecc) e criou os kits “O Cientista”, com experiências para fazer em casa. Fundou a Editora das Universidades de São Paulo e de Brasília, unificou os vestibulares de São Paulo (com Walter Leser), dirigiu a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec), e criou a Fundação Carlos Chagas e o Curso Experimental de Medicina da USP.
Perseguido durante a ditadura militar, exilou-se no exterior, atuando em Israel e nos Estados Unidos, em instituições como MIT e Harvard. De volta ao Brasil, no período da redemocratização, dedicou-se a transformar o Instituto Butantan no maior centro produtor de soros e vacinas do País. Segundo ele, era fundamental o Brasil se tornar autossuficiente na produção de imunobiológicos, e foi com essa percepção aguçada que contribuiu para a criação do Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos, em 1986. Raw foi uma liderança no Brasil para a modernização da produção de soros. O ex-diretor do Instituto Butantan, Paulo Lee Ho, descreve seus feitos heroicos em uma bela homenagem feita Raw nas celebrações dos 120 anos do Instituto Butantan, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em março de 2021.
Orientando de Raw entre os anos de 1962 e 1966, durante seu doutorado, o professor titular aposentado da USP e ex-diretor da SBPC, Walter Colli, reverenciou sua imensa contribuição para a ciência no Brasil em homenagem prestada ao cientista quando a SBPC lançou o livro sobre a história dos 70 anos de sua fundação, em julho de 2020. Em seu discurso, Colli abordou seu grande papel de agitador educacional, com ideias e projetos dirigidos a professores e alunos, um verdadeiro cientista-empreendedor. “Isaias é um nacionalista, mas não daqueles comuns, vazios e ufanistas. Onde ele via uma lacuna, na ciência ou na educação, ia lá para tentar preenchê-la, sempre pensando no bem comum”, afirmou na ocasião.
Amigos de longa data, Colli conta que quando conversavam, Raw sempre dizia que estava escrevendo um livro. “Isaias foi uma pessoa inquieta, ele sempre dava uma importância muito grande no processo de educação. Ele achava que educação era fundamental. Mesmo como estudante de Medicina, criou um Museu de Ciência, já que gostava muito de biologia. Eu devo muito a ele. Além de ter perdido um amigo, a ciência brasileira perde um grande cientista-educador”, finaliza.
A SBPC se solidariza aos amigos, familiares e entes queridos de Isaias Raw nesse momento de tristeza.
Jornal da Ciência