SBPC lamenta morte do professor José Pereira de Queiroz Neto

Com experiência na área de Geociências, com ênfase em pedogênese e morfogênese, ele foi secretário regional da SBPC-SP por dois mandatos (1988-1990 e 1990-1992)

José Pereira de Queiroz Neto

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifesta profundo pesar pelo falecimento neste domingo, 26 de maio, do engenheiro agrônomo e professor titular aposentado de Geografia Física pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), José Pereira de Queiroz Neto, aos 94 anos. Com experiência na área de Geociências, com ênfase em pedogênese e morfogênese, Queiroz Neto era sócio da entidade desde 1963 e foi secretário regional da SBPC em São Paulo por dois mandatos (1988-1990 e 1990-1992).

Queiroz Neto graduou-se em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq – USP), em 1952, e em Chimie Agricole pela Université de Rennes I (França), em 1956. Concluiu especializações em Géologie et Pédologie, Physiologie Végétale, Pedologie Tropicale e Étude des Milieux Naturels des Amériques Latines, todas na França.

Ingressou como docente no curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) em 1965. Tornou-se doutor em Ciências do Solo em 1969, com a tese intitulada “Interpretação dos solos da serra de Santana para fins de classificação”.

Cumpriu pós-doutorado no Centre National de la Recherche Scientifique (França), em 1970. Obteve o título de livre-docente em 1975, com a tese “Pedogênese no Planalto Atlântico: contribuição à interpretação paleogeográfica dos solos da Mantiqueira Norte Ocidental”.

Foi professor visitante da Universidade de Caen, França, e do Instituto de Edafologia de Madrid, CSIC-Espanha. Atualmente era professor titular aposentado da FFLCH-USP e professor emérito pela Universidade de São Paulo.

Ao lamentar a morte de Queiroz Neto, Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, lembra que o conheceu em 1976 em uma assembleia que reuniu docentes da USP, assim que souberam que a ditadura militar negara condições de se realizar a Reunião Anual prevista para Fortaleza. “Eu não era associado à SBPC, mas fui lá. Lembro que meu então sogro, o professor Francisco Jeronymo Salles Lara, do Instituto de Química, cumprimentou um homem alto e o apresentou a mim: era José Pereira de Queiroz Neto, da Geografia. Passei toda a assembleia me remoendo, por não ser ainda associado. No dia seguinte, pelas 8 horas da manhã, saí de casa e fui até a rua Cardeal Arcoverde, onde me inscrevi como sócio – falando diretamente com a secretária-geral da SBPC, Carolina Bori. Fui um dos novos associados dessa leva: a do protesto contra a mais visível tentativa da ditadura de interferir em nossa SBPC”, comenta.

Queiroz era criança quando sua tia, Carlota Pereira de Queiroz, se elegeu como primeira deputada federal no Brasil, nas eleições de 1933 para a Constituinte, o primeiro pleito em que mulheres puderam votar e ser votadas. E ele era irmão de Maria Isaura, também Pereira de Queiroz, uma grande referência na sociologia. “Um tempo depois, lembro que fomos à Reitoria da USP, protestar junto ao reitor de plantão contra uma reforma no Estatuto que tornaria a Universidade ainda mais autoritária. A pequena comitiva era encabeçada por Antonio Candido; o reitor começou a nos enrolar, dizendo que o texto seria debatido por nossos “representantes”: ele se referia aos membros das Congregações, órgãos que não tinham nenhuma representatividade; Maria Isaura tomou a palavra: “Vossa magnificência está a nos fazer de tolos”; o reitor perdeu a voz, não sabia como se dirigir àquela grande dama. Ela deixou esta vida em 2018, poucos meses após completar cem anos de idade. Já seu irmão, nascido em 1929, estava com 94 anos ao falecer, esse domingo. Ambos honraram muito a USP e a comunidade acadêmica brasileira”, afirma Janine Ribeiro.

A SBPC se solidariza aos amigos, familiares e entes queridos de José Pereira de Queiroz Neto neste momento de tristeza.

Jornal da Ciência