A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta a morte do físico Luiz Pinguelli Rosa, ocorrida nesta quinta-feira (3), aos 80 anos. Sócio da SBPC desde 1978, Pinguelli Rosa foi conselheiro da SBPC por três mandatos (1987-1991, 1993-1997 e 2007-2011).
A Diretoria da SBPC manifesta seus sentimentos aos familiares e amigos do professor, cuja obra permanece viva em seus livros e também nas gerações de pesquisadores que lhe devem sua formação.
Luiz Pinguelli Rosa nasceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1942. Formou-se em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), concluiu o mestrado em Engenharia Nuclear pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coppe/UFRJ (1969), e o doutorado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1974).
Professor emérito e titular do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), foi professor do Programa de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ, além de secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, organismo científico do Governo do Brasil para estudar o problema do aquecimento global e suas implicações para o País e auxiliar na criação e promoção de políticas públicas. O docente também era membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Suas áreas atuais de pesquisas se concentravam em planejamento energético, mudanças climáticas, além da epistemologia e história da ciência. As pesquisas de Pinguelli Rosa já se dedicaram à engenharia nuclear, física de reatores, física teórica e física de partículas.
Ao longo da carreira assumiu diversos cargos e responsabilidades. Ele foi presidente da Eletrobrás entre 2003 e 2004 e dirigiu, por quatro mandatos, a Coppe. Ele também participou da elaboração de projetos tecnológicos para a usina nuclear de Angra 1.
Atuou no exterior quando foi pesquisador e professor visitante das Universidades de Standford (SLAC), da Pennsylvania, de Grenoble, e de Cracóvia na Polônia, do Centre International pour l’Environnement et le Développement em Paris, do Centro Studi Energia Enzo Tasseli, do Ente Nazioanale per l´Energia Nucleare e Fonti Alternative, ambos na Itália, e da Fundação Bariloche na Argentina. Foi ainda membro do Conselho do Pugwash (1999-2001), entidade fundada por Albert Einstein e Bertrand Russel, a qual ganhou o Nobel da Paz em 1995.
É autor, coautor e organizador de livros sobre política energética, entre os quais: “Energia, tecnologia e desenvolvimento: energia elétrica e nuclear”; “Energia e crise”; “A política nuclear e o caminho da bomba atômica”; “Estado, energia elétrica e meio ambiente: o caso das grandes barragens”; “A reforma do setor elétrico no Brasil e no mundo: uma visão crítica”; “A reconstrução do setor elétrico”.
Orientador de dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutorado, recebeu diversos prêmios e honrarias nacionais e estrangeiros como o Forum Award da Sociedade Americana de Física, em 1992; a comenda com o grau de Chevalier de L’Ordre des Palmes Académiques, concedido em 1998 pelo Ministério da Educação da França; o Prêmio Golfinho de Ouro, categoria ciências, concedido no ano 2000 pelo Conselho Estadual de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro e as Medalhas da Ordem do Mérito do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa, em 2003.
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, ressalta que Pinguelli Rosa foi, além de um grande pesquisador, um grande brasileiro. “Como presidente da Eletrobrás, ele defendeu os interesses nacionais. Lembro que, ao receber uma condecoração junto com ele, Pinguelli em seu discurso repudiou as privatizações e criticou a má condução do setor elétrico do governo da época, cujo presidente era Fernando Henrique Cardoso. Ele foi um militante da energia e da soberania nacional”, comenta.
Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da SBPC, lamenta a perda de Pinguelli Rosa que era, além de amigo, um incentivador. “O Brasil perde um grande brasileiro. Brilhante, inventivo e batalhador. E a ciência e a universidade brasileira perdem um grande cientista, um grande professor e um lutador incansável. Tristeza”, disse.
Além de lamentar a morte do amigo, Otávio Velho, presidente de honra da SBPC, ressalta o papel desbravador do físico. “Ele foi uma figura muito importante na área de engenharia do Brasil. Ao conciliar o trabalho acadêmico com o tecnológico, com a preocupação em desenvolver tecnologias nacionais, transformou a Coppe no maior centro de engenharia do País”, afirma. “Ele conseguiu orquestrar a relação da universidade, centros de tecnologia e empresas. Um desses exemplos foi a relação construída da Coppe com a Petrobras no desenvolvimento de uma tecnologia brasileira para explorar águas profundas. Além disso, ele orquestrou a conexão da Coppe com outros institutos brasileiros. Relação essa que tem feito falta nos tempos atuais onde só se fala em privatização “, lembra.
Velho também ressalta a visão interdisciplinar de Pinguelli Rosa. “Como ele tinha uma preocupação com as energias, acabou se envolvendo em questões ambientais e até criou uma área de ciências sociais na Coppe para incentivar a interdisciplinaridade”, comenta.
Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa) e presidente de honra da SBPC, também lamentou a morte de Pinguelli Rosa. “Perdi, perdemos um amigo. Ficaram as páginas que ele escreveu. Lembramos. Foram heróicas”, disse.
Luiz Bevilacqua, professor emérito da UFRJ, por sua vez, lembra que Pinguelli foi um homem dedicado ao serviço público e idealista na busca de uma educação integral no que se refere a ação universitária e do papel do Estado na gerência de funções essenciais para a sociedade. “Sempre com autonomia intelectual, ele foi um grande professor sempre atualizando os temas de que tratava. Pinguelli dedicou sua vida na busca de melhores condições da população e na busca da independência do Brasil contribuindo para o progresso das Nações sem subordinação mas com independência”.
A Reitoria da UFRJ e a Coppe/UFRJ decretaram luto oficial por três dias.
Em nota, a Reitoria da UFRJ “lamenta profundamente a partida de Pinguelli, defensor nato da universidade brasileira e da difusão da ciência e da tecnologia. Seu compromisso com uma universidade de qualidade que transpira pesquisa deixará uma lacuna entre nós e um aprendizado permanente”.
“Em meu nome e em nome da diretoria, da qual Pinguelli fazia parte, e de todo Corpo Social da Coppe, prestamos nossas sinceras condolências e solidariedade aos familiares e amigos do nosso querido professor Pinguelli”, afirma Romildo Pereira, diretor da Coppe/UFRJ, em nota oficial.
O velório ocorrerá hoje (03), das 17 às 19h, no Átrio do Palácio Universitário da Praia Vermelha.
A SBPC se solidariza aos amigos, familiares e entes queridos de Pinguelli nesse momento de tristeza.
Jornal da Ciência