
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lançou, nesta quarta-feira (18), durante a abertura de sua Reunião Regional no Espírito Santo, o livro “Ennio Candotti”, uma homenagem à trajetória do físico e presidente de honra da entidade, que faleceu em dezembro de 2023. Figura central na divulgação científica e no fortalecimento do acesso ao conhecimento em todas as regiões do Brasil, Candotti presidiu a SBPC por quatro mandatos e deixou um legado de luta e esperança para a ciência nacional. O lançamento ocorreu na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória, que sedia o evento até esta sexta-feira, dia 21.
A cerimônia de lançamento reuniu ex-colegas de Candotti na Ufes, onde ele lecionou por mais de uma década, a partir de meados dos anos de 1990, além de autores do livro – amigos e colegas que tiveram a honra de conviver com ele. A mesa foi presidida pela vice-presidente da SBPC, Francilene Garcia, pela diretora da entidade, Fernanda Sobral, e pelo presidente de honra da SBPC, Ildeu de Castro Moreira.
A obra, organizada pela Diretoria da SBPC e pelo Centro de Memória Amélia Império Hamburger (CMAIH), traça um panorama da atuação de Candotti em diversas frentes, desde sua paixão pela divulgação científica, passagem pela UFRJ, Ufes e SBPC, até seu envolvimento com políticas públicas e iniciativas inovadoras na Amazônia, onde fundou o Museu da Amazônia (MUSA). É uma coletânea de memórias e reflexões sobre um dos mais importantes cientistas e divulgadores do conhecimento do Brasil. Para Fernanda Sobral, uma das organizadoras da publicação, “ler este livro é conhecer uma história de vida que é uma lição para todos nós”.
Francilene Garcia lembrou o compromisso de Candotti com a ciência, as universidades e sua relação com a sociedade: “Ennio é uma daquelas pessoas que não desistia. Uma de suas grandes lutas era que nossa biodiversidade fosse reconhecida para essa sustentabilidade tão procurada”, comentou.
Ildeu Moreira, que conheceu Candotti em 1975, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressaltou o caráter político do físico e sua atuação na renovação dos cursos universitários, além de sua influência na Constituinte e na interiorização da ciência no país. “Ennio foi o presidente da SBPC que mais organizou reuniões regionais. Era um sonhador e realizador, com uma capacidade impressionante de mobilizar pessoas e transformar ideias em ações concretas”, afirmou. Moreira também destacou a contribuição de Candotti à divulgação científica, sua paixão, incluindo a criação da revista Ciência Hoje e sua versão infantil, a Ciência Hoje para Crianças.
O livro, que está disponível gratuitamente para download no site da SBPC, abre com um capítulo escrito por Fábio Magalhães Candotti, filho do homenageado, que aborda o espírito artístico de seu pai. “Meu pai enxergava e desejava a beleza no mundo”, escreve. Outros capítulos trazem relatos de colegas e colaboradores próximos, além de fotografias históricas do cientista nascido na Itália em 1942 e naturalizado brasileiro – com a curadoria do Centro de Memória da SBPC, sob coordenação da historiadora Áurea Gil.
Laércio Ferracioli, professor da Ufes, revisita na obra o período em que Candotti atuou no Espírito Santo e recorda seu papel na formação de novos cientistas: “Não era um sonhador, era um realizador. Ele estava sempre construindo o futuro”, afirmou na cerimônia de lançamento.
Lucia Melo, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, escreveu, com Celso de Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, o capítulo “Ennio Candotti e sua contribuição inestimável para a ciência brasileira”. Na solenidade da Ufes, descreveu Candotti como “um encantador de serpentes, cujas ideias sempre aglutinavam pessoas”.
Laila Salmen Espindola, diretora da SBPC e professora da Universidade de Brasília (UnB), é autora do capítulo “Homenagem feita em nome da SBPC durante Cerimônia do Prêmio CAPES de Tese 2023 em 14 de dezembro de 2023”, que resume a homenagem lida poucos dias após a morte de Candotti, em 6 de dezembro daquele ano. Ali, contou que ele preparava dados para apresentar ao presidente Lula sobre um projeto revolucionário para fixar cientistas na região. “Professor Ennio Candotti era o registro vivo da dignidade do conhecimento adquirido nos livros, nos artigos, em laboratórios… e da sabedoria de quem saboreia a natureza… quem fala de onde vem, de onde é”, declara em seu texto.
Sérgio Lucena, diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes, destacou a generosidade e a capacidade de articulação do físico: “Foi de uma reunião com ele que nasceu o embrião do INMA, aqui no Espírito Santo. Foi a ideia dele levar esse projeto ao MCT para que se tornasse um Instituto Nacional. E deu certo”, contou no evento.
O livro pode ser acessado gratuitamente pelo link: https://portal.sbpcnet.org.br/livro/ennio_candotti.pdf.
Daniela Klebis, Jornal da Ciência