A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) participou, na última semana, data dos exatos 4 anos da declaração do início da pandemia – 11 de março de 2020 -,do evento de anúncio do Memorial da Pandemia de COVID-19. A iniciativa vem de uma parceria do Ministério da Saúde com o Ministério da Cultura para a criação de um museu vivo que traga a linha do tempo da pandemia no País, mas que também repercuta os avanços da Ciência na área e o papel do Sistema Único de Saúde (SUS).
A ideia é que o espaço abrigue uma exposição de longa duração com todos os episódios marcantes da pandemia, como as primeiras notícias do isolamento social, o mapeamento genético do vírus, as primeiras vacinas, o avanço tecnológico na área médica e, também, as iniciativas sociais que tentavam suprir as necessidades básicas das populações desassistidas, além das dores da perda e do luto.
Ao assinar o acordo que formaliza a criação do Memorial, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a parceria com a Pasta de Cultura: “Essa é uma das ações transversais que envolvem várias áreas e há uma forte interseção entre a saúde e a cultura. E há um debate em âmbito internacional dentro da OMS [Organização Mundial da Saúde] ao reconhecer a cultura como determinante social da saúde.”
Já a ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou que a ideia do Memorial vem “para afirmar às futuras gerações que custou caro as vidas que perdemos, principalmente por saber que a tragédia poderia ter sido menor”.
O acordo firmado entre os ministérios prevê, além da criação do Memorial, a formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas nas áreas de saúde e cultura que, preferencialmente, utilizem a estrutura do SUS.
Diretora da SBPC destaca o papel das iniciativas sociais
Foi na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho de 2023, em Curitiba, que a ministra Nísia Trindade anunciou a decisão de governo de criar o Memorial, “como política de memória do triste tempo vivido durante a pandemia”.
Representando a SBPC na programação do evento, Laila Salmen Espindola, diretora da entidade e professora titular da Universidade de Brasília, fez um resgate das iniciativas realizadas durante a pandemia de COVID-19. Na época, a pesquisadora coordenou o Programa de Pós-graduação em Medicina UnB, ao mesmo tempo, a SBPC lançou uma série de mobilizações em defesa de políticas públicas para conter a emergência sanitária e em defesa da vida.
“O Memorial da Pandemia de COVID-19 precisará ser um local de reencontro das famílias com os seus entes queridos, o reencontro de mães que não puderam enterrar os seus filhos. Um local simbólico para reparar o luto, um local de despedida. O Memorial também precisará ser edificado com compaixão e ética, e com a sensibilidade e os valores naturais aos seres humanos, que foram tão bem exercidos pelos profissionais da Saúde.”
Espindola destacou o papel das ações humanitárias durante a pandemia, como o Prontuário Afetivo, uma iniciativa do Hospital Universitário de Brasília. “O Prontuário Afetivo foi idealizado para tentar acalmar os familiares que não podiam visitar os seus entes e, também, diminuir a angústia que os profissionais de saúde tinham com essa situação. Os recados das famílias eram anotados nos prontuários afetivos e colados ao pé do leito dos pacientes.”
Para a pesquisadora, as ações sociais e humanitárias no período da pandemia foram essenciais, principalmente com o Governo anticiência que o Brasil possuía na época. “A Ciência permitiu o anúncio do fim da pandemia, a vitória da vida. Porém, o impacto da pandemia resultou em uma avalanche de pessoas com saúde mental fragilizada. Tudo isso agravado com o momento de desconstrução do País na época, pela falta de afeto e de amor do então chefe de Estado, que anunciava o desprezo pelas vidas perdidas, o prazer ante a dor do outro. Uma das ocasiões foi em abril de 2021, quando ele posou para fotos segurando uma placa com os dizeres ‘CPF cancelado’. O Memorial precisa ser o local para as famílias colocarem os CPFs cancelados com seus respectivos prontuários afetivos.”
A diretora da SBPC, em nome dos cientistas, agradeceu aos pacientes que, mesmo em um momento de tamanha fragilidade, permitiram a realização de pesquisas, e também ressaltou o desempenho dos pesquisadores brasileiros durante o período da pandemia. O País publicou mais de 17 mil artigos com a temática da COVID-19 e SARS-COV-2, dentre os 520 mil publicados sobre o tema, o que fez com que o Brasil ficasse na 10ª posição entre os países com maior produção científica no assunto, segundo dados da plataforma Web of Science.
“Vimos como a ciência reagiu rápido à pandemia, e se organizou para transformar esse período em um ambiente propício para pesquisas. Foram iniciados diversos projetos de cooperação, entre programas de pós-graduação, hospitais universitários, hospitais públicos e privados, secretarias de saúde, universidades nacionais e internacionais, entre outros. Enfrentar uma pandemia é, sim, assunto de Ciência e Tecnologia”, concluiu.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência, com informações do Ministério da Saúde