Depois de um final de semana com muitas reviravoltas, em que a Secretaria Regional da SBPC de Santa Catarina articulou um manifesto, assinado por 74 entidades científicas e da área da saúde, que acabou ganhando grande repercussão na mídia, o Governador do Estado de SC anunciou no domingo o recuo de sua decisão de reabrir o comércio e serviços não essenciais a partir desta quarta-feira. A ciência e a vida prevaleceram sobre a política da desinformação e do imediatismo.
O risco iminente à vida humana que a pandemia covid-19 representa, exige respaldo científico para ser enfrentada, de modo a garantir a confiabilidade das informações, apontando as medidas preventivas e corretivas a serem tomadas. Na semana passada, medidas sobre afrouxamento do confinamento social e retomada das atividades econômicas foram anunciadas pelo Governo do Estado de Santa Catarina. A Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de Santa Catarina (SBPC-SC) tomou a frente em um processo emergencial de avaliação científica dessa arriscada atitude, juntamente com especialistas em saúde pública, imunologia, virologia e epidemiologia de diferentes entidades. Esse grupo de pesquisadores de diferentes áreas se uniu para elaborar um manifesto de alerta ao governo e à população, sobre a importância de se observar os dados científicos e técnicos no planejamento de medidas que devem ser tomadas para conter o avanço descontrolado do vírus.
Os reflexos de uma ação científica rápida, forte e articulada
A partir da divulgação, no dia 27 de março de 2020, da “manifestação de entidades científicas e da área da saúde sobre o plano estratégico de retomada das atividades econômicas, anunciado pelo governo do estado de Santa Catarina”, pôde-se verificar que a confiabilidade da ciência permanece sendo um alicerce para a tomada de decisões dos governantes comprometidos com a vida da população. A nota pública foi referendada por mais de 73 entidades de diversas áreas: acadêmico-científicas, sindicais, de serviços e/ou assessoria à saúde, entre outras.
A nota não desmerece a importância da questão econômica: “a ciência, assim como o sistema público de saúde, é diretamente dependente do desenvolvimento econômico, mas é também um de seus mais importantes propulsores”, esclarecendo que a ciência não está se opondo à legítima preocupação do Estado com a vida econômica mas, assim como ela serve para trazer inovação, desenvolvimento e riquezas, também deve dar suporte e proteção à vida, antes de mais nada.
O manifesto ajudou a promover uma reversão na implementação do plano estratégico do governo, considerando-se a última declaração do governo de SC, que prorrogou os cuidados de quarentena por mais sete dias, a contar de 1º de abril. Diferentemente do contexto macro político — que desconsidera a ação da C&T, acentuando uma percepção de política pública pautada apenas em interesses econômicos – em SC demos provas de que a comunidade científica articulada pode e deve ter muito peso na tomada de decisões de grande impacto coletivo.
Organização de uma força tarefa permanente
Considerando que a pandemia e suas consequências ainda estão apenas começando, e que a necessidade de orientação científica sobre o tema só crescerá, o grupo de entidades científicas contatadas pela SBPC-SC decidiu, nesta segunda-feira 30 de março, constituir uma rede de apoio científico às autoridades do Estado, ficando à sua disposição para dirimir dúvidas, interpretar dados e indicar estratégias que sejam baseadas nas mais confiáveis evidências científicas disponíveis.
Fica instituída, assim, a “Força tarefa de cientistas para o enfrentamento da pandemia covid-19 no estado de Santa Catarina”, liderada pela SBPC-SC, mas com sustentação científica e técnica de entidades como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a Sociedade Brasileira de Imunologia, a Sociedade Brasileira de Virologia e os Departamentos de Saúde Pública e de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC. Além disso, o grupo catarinense contará com um canal de diálogo direto com os cientistas da Fiocruz do Rio de Janeiro, que têm atuado de forma exemplar no enfrentamento da crise no Brasil e países vizinhos. Colocando-se à disposição dos deputados estaduais, do Governador do Estado e dos órgãos do sistema judiciário de SC, os cientistas esperam poder contribuir para que os catarinenses saiam dessa terrível crise, mais fortes, mais unidos e com o menor número possível de vítimas.
Kelly Vieira Meira, Rejane Dione Cord e André Ramos
Equipe da Secretaria Regional da SBPC em SC