A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviou uma carta às ministras da Saúde, Nísia Trindade, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, solicitando a abertura urgente de um edital para a coleta e análise de dados sobre os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul.
No documento, a SBPC alerta para a necessidade de centralizar dados em tempo real e disponibilizá-los para a população e órgãos de gestão, visando à proteção e restauração de ecossistemas, desenvolvimento de planos diretores, políticas climáticas adequadas e construção de sistemas resilientes. “A emergência climática que estamos enfrentando exige uma resposta coordenada baseada em evidências científicas”, enfatiza a entidade.
A SBPC ressalta ainda a necessidade de um estudo detalhado e integrado sobre saúde pública, manejo de resíduos, monitoramento ambiental e avaliação toxicológica, visando desenvolver políticas climáticas justas e sistemas de saúde resilientes. “Somente com uma radiografia exata dessas diferentes áreas podemos aportar conhecimento qualificado em como direcionar todas as ações para proteger e restaurar ecossistemas naturais e desenvolver planos diretores que consideram adequadamente o contexto ambiental”, destaca na carta.
Esta iniciativa é a primeira ação concreta após o encontro realizado no dia 3 de junho entre a SBPC e sociedades científicas, onde se decidiu a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para apoiar as ações de enfrentamento da emergência climática no RS. Segundo a vice-presidente da SBPC, Francilene Garcia, “a iniciativa da SBPC em colaboração com as sociedades científicas é alertar as autoridades e tomadores de decisão acerca da relevância de se ouvir os cientistas no processo de reconstrução, especialmente em questões que envolvem investimentos a médio e longo prazo.”
Conforme conta Garcia, que coordena o GT, esta demanda inicial da SBPC junto aos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovação e da Saúde tem como objetivo conseguir recursos para que pesquisadores das instituições gaúchas possam iniciar a coleta de dados em campo, fundamental para compor as referências inicias das pesquisas que serão desenvolvidas.
“As pesquisas deverão abordar desde aspectos relacionados à saúde pública, incluindo levantamentos com foco em doenças infecciosas e saúde mental, até coleta de dados para a avaliação toxicológica dos ecossistemas atingidos. Temos a presença de várias doenças que estão sendo trazidas pelo lixo, pelas águas que se acumularam durante um bom tempo. É possível que o Estado enfrente uma epidemia de dengue. E ainda, buscando informações e evidências científicas para identificação das razões substanciais para essas inundações e caminhos para evitá-las. Tem uma questão importante, que é a própria integração dos dados da defesa civil com os da saúde para um monitoramento mais efetivo. Então essa primeira nota de solicitação liderada pela SBPC ao Ministério da Saúde e ao MCTI é exatamente para dar início a essas ações”, diz Garcia
Além de Francilene Garcia, o GT é composto por Abilio Afonso Baeta Neves (PUC-RS), Ana B. Gorini da Veiga (UFCSPA), Eduardo Périco (Univates), Flávio Kapczinski (UFRGS), Gerhard Overbeck (UFRGS), João Antonio Pêgas Henriques (UNIVATES, INNVITRO), Jorge Guimarães (UFRGS), Jorge Audy (PUC-RS), Livio Amaral (UFRGS) e Odir Dellagosin (FAPERGS, UFPel). Marcia Margis, secretária-regional da SBPC no Rio Grande do Sul e professora da UFRGS, é a vice coordenadora do grupo de trabalho.
Leia a carta às ministras neste link.
Daniela Klebis, Jornal da Ciência