Dois artigos que serão publicados na edição de amanhã (28) da revista científica Science, reforçam que o que aconteceu no museu poderia ter sido evitado caso houvesse um maior investimento na área. O primeiro, intitulado “Falta de apoio à ciência desaponta o Brasil”, é uma carta assinada por 21 pesquisadores, entre eles, 12 brasileiros, que afirmam que o fogo que consumiu os arquivos históricos é uma metáfora do estado atual da ciência no país. “Os líderes de todos os níveis não conseguiram fornecer nem mesmo a infraestrutura mais básica e crucial para preservar coleções genuinamente inestimáveis e recursos culturais”, diz um trecho do texto.
Os autores são ligados à Universidade Cornell, Universidade da Flórida e à Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos e da Universidade Federal do Rio de Janeiro e afirmam que o país deve refletir como acontecimento e investir na proteção dos museus e coleções para o benefício da ciência e da sociedade em todo o mundo. Eles apontam ainda a queda no financiamento no museu nos últimos 5 anos e a falta de investimentos em reformas, segurança e proteção.
O segundo artigo, “Brasil em crise”, é assinado pela professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Barbuy. Ela afirma que o incêndio “foi um trágico lembrete para o Brasil e para o resto do mundo de como é importante para as sociedades apoiar as instituições e empreendimentos que preservam e promovem a ciência e a cultura”, e observou que as próximas eleições são uma oportunidade para o Brasil priorizar a ciência. Ela cita no texto que orçamento atual do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) é de apenas 40% em comparação com 2010.
Outro aspecto levantado por ela é a suspensão de ingresso do país no European Southern Observatory (ESO), em março, com a decisão do governo de não pagar a taxa de adesão. O pagamento de 270 milhões de euros em 10 anos foi aprovado pelo congresso em 2015, mas não ratificado pelo governo, pelo que nunca chegou a ser feito. “Isso impediu o acesso do Brasil ao maior e mais completo observatório do mundo, localizado na América do Sul”, relatou. O Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Sbpc), Ildeu Moreira concorda com a carta. “A metáfora citada pela publicação corresponde à nossa realidade. Espero que essa destruição não se estenda para outras áreas da ciência brasileira. Estamos preocupados”.