“Se o homem é aquilo que a educação faz dele, para onde estamos caminhando?”

Luana dos Santos Neres, aluna de graduação em ciências biológicas na Universidade de São Paulo (USP), em seu depoimento para a campanha “Ciência, pra que Ciência?” alerta que os cortes estorvam aquilo que era para ser o pilar para a construção do futuro da nação. A SBPC convida todos a participar da campanha. Envie seu vídeo e compartilhe!

Diversos participantes da campanha “Ciência, pra que ciência?”, lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), lamentam os cortes no orçamento de bolsas na Capes e no CNPq, principais agências de fomento à ciência do País. Para eles, além de comprometer o futuro de pesquisas importantes para o desenvolvimento do País, estes cortes podem prejudicar a carreira profissional de muitos brasileiros.

É o que afirma Giulia Wiggers, professora da Universidade Federal do Pampa, que pesquisa reatividade vascular com metais pesados. “Para uma universidade do interior, como a Universidade Federal do Pampa, os cortes serão nefastos. A gente corre riscos de fechamento de laboratórios, redução do número de publicações, de pesquisas, e, principalmente, redução do número de alunos, de formação de recursos humanos. Quando se pensa em recursos humanos, se pensa em pessoas querendo se formar, querendo produzir ciência. Isso não se recupera nem em uma década”, ressalta.

Patrícia Valério, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica em seu depoimento que seu trabalho desenvolvido durante o período acadêmico abriu portas para ela. “Durante meu processo de doutoramento, publiquei alguns artigos e um deles tem mais de 270 citações em revistas internacionais. Tudo o que eu desenvolvi durante meu processo acadêmico me gerou convites para atuar como professora ou palestrante em mais de 10 países, na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. Portanto, eu considero que tenho levado o nome do nosso país para fora e honrado tudo o que eu recebi em termos de bolsas, que permitiram que eu fizesse a minha carreira acadêmica. A gente precisa das bolsas”, diz Patrícia Valério.

Luana dos Santos Neres, aluna de graduação em ciências biológicas na Universidade de São Paulo (USP), lembra que desde a Grécia Antiga, o desenvolvimento e o progresso, mesmo que de forma implícita, têm sido alcançados e enaltecidos com o conhecimento como um pilar propulsor. “Impedir o fazer ciência, impedir a construção do conhecimento constitui, portanto, o maior e mais deletério óbice para a construção do futuro do País”, diz. Citando Kant, ela ainda questiona: “Se o homem é aquilo que a educação faz dele, para onde estamos caminhando, uma vez que com estes cortes, de forma indubitável, estamos negligenciando e estorvando aquilo que era para ser o pilar para a construção do futuro da nação?”.

Pesquisas

Outro que está preocupado com os cortes é Henning Ulrich, professor titular do Instituto de Química da USP, onde lidera estudos sobre doenças neurodegenerativas e busca tratamentos para Parkinson, depressão e Alzheimer. “O corte de bolsas da Capes e do CNPq fortemente atrapalham a minha pesquisa, pois não terei mais alunos de doutorado e mestrado”.

“Os cortes nas bolsas não afetam só a minha pesquisa, eles afetam as pesquisas de milhares de cientistas. Por isso, sou contra os cortes”, afirma Gabriela Barbosa, geógrafa e doutoranda na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bolsista Capes, ela estuda o turismo na cidade de Campinas, sob o olhar da geodiversidade e da geoconservação. “A atividade turística tem crescido muito nos últimos anos e é uma atividade que permite uma abordagem um pouco mais sustentável, diminuindo impactos e gerando renda”, explica.

Campanha

Diante desse cenário, a SBPC convida todos os estudantes e pesquisadores, desde a iniciação científica até a pós-graduação, bolsistas e ex-bolsistas, profissionais de todas as áreas e todos os amigos da ciência a participar da campanha e compartilhar suas histórias, que serão amplamente divulgadas nas redes sociais da entidade. Basta gravar um breve vídeo, com duração de 30 segundos a um minuto, acessar este link, preencher um breve formulário e seguir as instruções para carregá-lo. O depoimento pode ser gravado em celular mesmo, em alta definição, com o aparelho na horizontal.

Para participar, basta gravar um breve vídeo, com duração de 30 segundos a um minuto, acessar este link, preencher um breve formulário e seguir as instruções para carregá-lo. O depoimento pode ser gravado em celular mesmo, em alta definição, com o aparelho na horizontal. Mande seu vídeo e demonstre seu apoio à ciência brasileira!

Jornal da Ciência