“Oportunidades e desafios da internacionalização da ciência brasileira” foi o tema do debate coordenado pela presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, no “Seminário Brasil – Ciência, Desenvolvimento e Sustentabilidade”, realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na última sexta-feira (22/11). Também participaram do encontro, Eliete Bouskela, presidente do conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), José Marques Ribeiro, pesquisador do Instituto Nacional da Saúde dos EUA, Liane Kent, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e universitários bolsistas egressos do Ciências Sem Fronteiras (CSF), Pedro Leme, Tatiana Mota Tavares, Hudson Fonseca e Gabriela Marinho.
Helena Nader abriu o debate dizendo que a ideia do tema foi conhecer os gargalos da internacionalização da ciência no Brasil e saber o que leva os pesquisadores brasileiros a permanecer fora do país. “Podemos aprender muito com eles e propor algumas ações”, afirmou ela. De acordo com a presidente da SBPC, o Brasil deu um passo importante com a criação do programa Ciência Sem Fronteiras. “A presença dos bolsistas do CSF é para avaliarmos o programa e discutirmos para onde podemos ir”, explicou Helena.
Por meio de uma participação gravada, o professor Walter S. Leal que está na Universidade da Califórnia, em Davis, nos EUA, relatou que os estudantes brasileiros de pós-doutorado que estão lá impressionam os orientadores estrangeiros com notas mais altas que os alunos americanos. “Esses estudantes são como embaixadores e mostram as coisas boas que o Brasil tem e podem ser copiadas pelos estrangeiros. Um exemplo disso é o programa de iniciação científica que não existe no exterior”, contou. Ainda segundo ele, a Plataforma Lattes é outra boa ideia brasileira que merece ser copiada. “Aqui nos EUA cada instituição tem seu modelo”, disse.
Leal afirmou que o Brasil tem que aumentar a presença de alunos estrangeiros em suas universidades. Segundo ele, um bom exemplo foi a Escola Avançada de Química, realizada em 2012, em Campinas (SP), que atraiu estudantes do exterior além de três ganhadores do Prêmio Nobel para participar do evento. “Esse tipo de iniciativa ajuda a promover a ciência brasileira lá fora”, afirmou. Mas, ele alerta que é preciso também melhor a presença do Brasil em eventos internacionais. O professor Leal afirmou que o Brasil precisa de uma política mais abrangente, além de acreditar na autonomia das universidades. “A universidade tem que administrar os recursos e o pesquisador deve se concentrar nos projetos”, opinou.
Ascensão
O médico José Marques Ribeiro, que está há 30 anos nos EUA reconheceu que o Brasil de hoje está bem diferente de quando deixou o país. Atualmente, ele que é pesquisador do Instituto Nacional da Saúde dos EUA, disse que a realidade é outra e que o Brasil vive uma situação de ascensão com um aumento quantitativo na ciência. “Mas é necessária uma melhoria qualitativa também e para isso investimentos são fundamentais”, observou.
Para Ribeiro, a ciência brasileira é vista no exterior como artesanal e apontou alguns gargalos que devem ser melhorados. “A burocracia e a dificuldade de importação estão entre os principais problemas. É importante entender que a internacionalização não é só com o hemisfério norte, mas também com a América do Sul”, opinou ele.
Um sistema cartorial, com grades curriculares sem espaço. Essa foi a análise apresentada pela presidente do conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Eliete Bouskela. Ela concorda que as associações entre universidades brasileiras e estrangeiras são insipientes e questiona a permanência de pessoas nas instituições mesmo sem serem produtivas. “Esse é um problema grave, não há espaço nas universidades, ninguém sai independente de serem produtivas ou improdutivas”, alertou. Segundo Eliete é necessária uma avaliação real das pessoas que estão na universidade.
Universidades globalizadas
Já a representante do CNPq, Liane Kent, afirmou que um dos principais desafios do Brasil é com a educação básica. “Precisamos de um ensino mais humanizado e criativo. Países asiáticos estão se voltando para a criatividade, pois esse é o motor da inovação”, disse. De acordo com ela, o país precisa formar profissionais globalizados e empreendedores. “O empreendedorismo deveria estar no currículo em todas as áreas do conhecimento”, comentou.
Segundo Liane, o programa Ciência Sem Fronteiras foi criado para atrair capital humano. “O ganho dos alunos que participam do CSF é mais na vivência cultural. Conhecer outras culturas nos ajuda a ter universidades mais globalizadas”, afirmou.
Os estudantes que participaram do debate concordaram com a representante do CNPq. Para eles estudar no exterior pelo CSF foi uma experiência sensacional. Pedro Leme, aluno de Engenharia Elétrica da UnB, estudou em Washington e estagiou num centro de pesquisas da Nasa. “Lá fora os estudantes de graduação brasileiros impressionam, mas no Brasil são subestimados”, lamentou.
Gabriela Marinho, aluna de Geologia da Uerj, passou um ano na Universidade de Toronto, no Canadá, também pelo CSF. Ela disse que teve oportunidade de fazer matérias que não são oferecidas aqui. “Busquei meu aperfeiçoamento profissional. Voltei mais flexível e mais independente. Mudei minha visão de mundo e também a forma como vejo minha universidade”, declarou.
Ao final, a presidente da SBPC, Helena Nader alertou sobre os gargalos à internacionalização. “As universidades precisam mudar de fato, precisamos falar bem o inglês que é língua internacional. Mas nosso grande gargalo é a legislação brasileira que atrapalha o dia-a-dia da ciência e a internacionalização”, resumiu.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência)