Desde o seu nascimento, no dia 8 de julho de 1948, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) percebeu que a luta por melhores condições de trabalho dos pesquisadores e por uma estrutura de ciência no Brasil só seria possível por meio da articulação política.
O contato com deputados, senadores, presidentes, entre outros atores decisivos da cadeia política, se mantém pelos 75 anos de história da entidade, ultrapassando barreiras partidárias. Nos últimos anos, com o acirramento de ações de desmonte da ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), a relação com parlamentares foi essencial para manter o complexo nacional de ensino e pesquisa e o próprio funcionamento da SBPC.
“Apoiar a SBPC faz parte de uma visão estratégica de País, uma visão estratégica de desenvolvimento, de quem aposta na soberania brasileira. Acho que o mundo político tem uma importância fundamental, até porque tudo se resolve na política. As decisões políticas definem os projetos e definem as prioridades. Então, é papel da política a difusão da ciência”, explica a deputada federal Jandira Feghali.
A história de Feghali com a ciência vem desde seu primeiro mandato como deputada estadual constituinte, em 1986, representando o Estado do Rio de Janeiro. Na época, esteve envolvida diretamente com a distribuição de recursos para a Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e contra o contingenciamento de verbas da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz.
“Eu tenho a visão de que soberania, independência e Projeto Nacional de Desenvolvimento têm na inovação e na ciência, o seu esteio fundamental. Inclusive, na industrialização, agregando inovação. É impossível se pensar em desenvolvimento sem pensar na estrutura científica, e a situação da ciência brasileira hoje é de busca de reversão de todo o estrago que foi feito pelo governo anterior, que negou o papel da ciência, das instituições e dos pesquisadores”, complementa a deputada.
A visão de retomada da estrutura científica também é compartilhada por Vivi Reis, deputada federal até 2022, que apoiou a SBPC:
“Nos últimos anos, nós vivemos um período de muito negacionismo, mas antes disso, ainda na gestão de Michel Temer, com o teto de gastos, já foi bem difícil garantir recursos para que, de fato, fosse priorizada a ciência brasileira. Já no governo Bolsonaro, veio o processo de verdadeira decadência e de desmonte”, detalha a ex-parlamentar, que segue nas mobilizações políticas em prol da ciência e do meio ambiente.
“Hoje nós temos esperança que isso mude, mas, ao mesmo tempo, não podemos apenas esperar do atual governo, são necessárias medidas efetivas. A gente já percebeu agora, no início do ano, algumas mudanças [de visão], como os reajustes das bolsas de pós-graduação. Isso já é uma sinalização positiva, mas ainda não é o suficiente, é necessário muito mais.”
Vivi Reis se orgulha de ter realizado o mandato que mais encaminhou recursos para o estado do Pará, região que a elegeu, além de uma trajetória pautada pela ciência:
“Além da emenda parlamentar que nós conseguimos para a SBPC, nós também conseguimos emendas parlamentares para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e para o Instituto Federal do Pará, que tem um papel importantíssimo de desenvolvimento para o Estado. Inclusive, existem municípios em que só têm aquele Instituto Federal como uma esperança de formação de novos sujeitos.”
Brasil precisa de uma política científica contínua
Para a senadora Leila Barros, popularmente conhecida como Leila do Vôlei, a luta pela ciência passa pelo apoio às instituições e pela difusão de conhecimento à sociedade:
“Apoiar a SBPC é um dever de todos nós que acreditamos no poder transformador da ciência e da educação. A instituição tem um papel fundamental na definição dos rumos das políticas de ciência e tecnologia e da educação em nosso país. Por isso, sempre entendi como necessário colaborar com ações e iniciativas que fortaleçam a SBPC e, consequentemente, a ciência brasileira. Ela é crucial para a formação de novos cientistas e para a difusão do conhecimento”, reforça.
Além do apoio à entidade, a senadora Leila do Vôlei tem mobilizado ações em prol de recursos contínuos para CT&I, como o projeto de lei (PL) nº 5176/2019, que está tramitando na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. O PL defende que parte do Fundo Social do Pré-sal seja destinado para financiar pesquisas de ciência e tecnologia. A parlamentar também possui articulações diretas com entidades de ensino e pesquisa, como a Universidade de Brasília (UnB).
“A ciência brasileira é reconhecida mundialmente por sua qualidade e pela sua contribuição para o avanço do conhecimento. No entanto, enfrentamos desafios relacionados ao financiamento da pesquisa, à formação de novos cientistas e à difusão do conhecimento. Precisamos de uma política científica forte e consistente, que valorize nossos cientistas e promova a ciência como uma prioridade nacional”, conclui.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência