Sustentabilidade no prato

Entre a fome e a abundância, cresce a busca por sistemas alimentares mais sustentáveis, justos e saudáveis nas metrópoles brasileiras. Leia na reportagem da nova edição da Ciência & Cultura

WhatsApp Image 2025-09-12 at 09.08.38A urbanização é uma realidade consolidada no Brasil: segundo o Censo de 2022 do IBGE, 87,4% da população — 177,5 milhões de pessoas — vivem em áreas urbanas, enquanto apenas 25,6 milhões permanecem em zonas rurais. Essa tendência acompanha o cenário global. Essa concentração pressiona sistemas alimentares e evidencia a necessidade de modelos mais justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo. O desafio da fome, no entanto, segue no centro da agenda. O relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI 2025), lançado em julho por cinco agências da ONU, estima que 673 milhões de pessoas (8,2% da população mundial) enfrentaram a fome em 2024. O Brasil, por sua vez, saiu do “Mapa da Fome” ao reduzir a subnutrição para menos de 2,5% entre 2022 e 2024, mas ainda registrava 28,5 milhões de pessoas em insegurança alimentar, sendo 7,1 milhões em estado grave. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.

Esses números expõem as contradições de um sistema alimentar que aumentou a produção desde a segunda metade do século XX, mas permanece marcado por desigualdades sociais e ambientais. Houve avanços no combate à fome e diversificação da oferta, mas também maior pressão sobre os recursos naturais e a expansão de dietas baseadas em ultraprocessados, associadas a doenças crônicas e mortalidade precoce, segundo a Carga Global de Morbidade. Os impactos ambientais desse modelo incluem desperdício de alimentos, uso intensivo de solo e água, emissões de gases de efeito estufa e degradação da biodiversidade. Nesse contexto, ganha força o conceito de alimentação sustentável, que une saúde humana, justiça social e preservação ambiental. “É uma alimentação que faz bem tanto para a saúde das pessoas quanto para o planeta”, resume Nathalia Sernizon Guimarães, professora do Departamento de Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A agricultura urbana desponta como alternativa para ampliar a produção e aproximar comunidades da natureza. Hortas comunitárias e sistemas agroflorestais (SAFs) reduzem o desperdício, encurtam a distância entre produtor e consumidor e garantem acesso a alimentos frescos em áreas vulnerabilizadas. “Elas funcionam como uma forma de dar vida a lugares esquecidos da cidade, aproximando as comunidades da natureza e da própria produção de alimentos”, afirma Nathalia Guimarães. Além de verduras e frutas, esses espaços cumprem funções ambientais, como melhoria do microclima e escoamento da água das chuvas, e sociais, ao estimular participação comunitária e educação alimentar. Para Adriana Adell, mestra em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora do Grupo de Trabalho de Saúde da Associação Brasileira de Agroecologia, “essa transformação acontece por meio da mobilização comunitária e da atuação de movimentos sociais, que organizam e fortalecem iniciativas coletivas. O cuidado cotidiano com a terra e o manejo dos espaços ociosos convertem áreas antes abandonadas em territórios de produção de alimentos, encontros, afetos e saúde”.

De forma complementar, cozinhas comunitárias e solidárias também vêm se consolidando como estratégias contra a insegurança alimentar. Instituídas como política pública pelo Programa Cozinha Solidária (Lei nº 14.628/2023), essas iniciativas produzem refeições gratuitas com apoio da sociedade civil e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Atualmente, elas são consideradas tecnologias sociais, com o objetivo de produzir e ofertar refeições gratuitas para grupos em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar e nutricional. Para seu funcionamento, é fundamental a participação da sociedade civil organizada, uma vez que essas cozinhas são operadas por voluntários”, explica Adriana Adell. Para Cláudia Maria Bógus, professora da Faculdade de Saúde Pública e membro do Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, hortas e cozinhas têm papel duplo: “Na medida em que você tem sustentabilidade, consegue ter maior justiça social e justiça alimentar também. Mas é importante salientar que é uma questão de acesso. Essas iniciativas têm um papel de socialização e inclusão, gerando empoderamento e valorização do contato humano, algo essencial para a saúde e para a vida em comunidade”.

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https://revistacienciaecultura.org.br/?p=8820

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