Embora os brasileiros sejamos conhecidos como um povo pacífico, o atual século nos fez conviver com um grau de violência acima da média entre os países em desenvolvimento. Nos últimos dois anos, as agressões, coações e uso da força – armada ou não – têm aumentado intensamente.
Seja no campo, nas cidades, perpetrado pelo Estado ou por milícias e gangues privadas, todos os indicadores de violência registram evolução preocupante. É o que mostra a nova edição do Jornal da Ciência Especial.
A sociedade passou a viver um acirramento da violência nos últimos oito anos, resultado de um sentimento de ódio que “explodiu” nas manifestações de 2013 e acabou se refletindo na ação policial. As mortes violentas, que vinham em queda desde seu ápice em 2017, voltaram a subir em 2020, segundo levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Foi justamente o ano da pandemia do novo coronavírus que já matou, só no Brasil, quase 600 mil pessoas. Ou seja, a tragédia do vírus se somou à violência cotidiana que assola o país. As agressões têm endereço e cor. A maior parte dos atingidos são as “minorias”, em especial negros e indígenas, mulheres e a comunidade LGBTQIA+. A exposição à violência tem tido um efeito pouco comentado na mídia, que é o adoecimento mental das comunidades afetadas.
O quadro não é novo, mas tem sido agravado por ações do governo federal que desmontam políticas públicas de promoção de direitos, aparelham os órgãos de controle e incentivam a violência civil e militar. Os indígenas têm sido os grandes alvos desde 2019. Conforme aponta o relatório “Conflitos no Campo”, da Comissão Pastoral da Terra, as mortes de indígenas provocadas pela covid-19 foram intensificadas pelo governo federal, que fomenta abertamente a invasão dos territórios deles, em aliança com bancadas inimigas daquelas etnias no Congresso Nacional e que assim tem aprovado, com folga de votos favoráveis, legislações minando direitos históricos. O mesmo acontece com as comunidades quilombolas, que foram deixadas praticamente à própria sorte durante a pandemia.
Outro efeito nefasto da covid-19 foi o aumento da violência contra as mulheres. Os feminicídios em 2020 também reverteram uma tendência de queda que vinha desde 2017. Segundo especialistas entrevistadas pelo Jornal da Ciência, são vários fatores que se combinam para um resultado catastrófico, entre eles a convivência, durante o isolamento social, das mulheres com seus principais algozes que estão, na maioria dos casos, dentro do próprio lar.
Esperava-se que pelo menos a paralisação das atividades causada pela pandemia diminuísse a marcha da devastação ambiental. Infelizmente não foi o que aconteceu, conforme demonstrou o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) em seu último relatório. Um dos pesquisadores brasileiros que participou da elaboração do documento, na parte dos impactos regionais das mudanças climáticas, explica a situação.
A SBPC não se limita a denunciar e lutar contra as injustiças. Também traz propostas e soluções. Confira nesta edição ações práticas da instituição que enfrentam dois grandes problemas: a violação à liberdade de pensamento e a desigualdade social. A pesquisa “A liberdade acadêmica está em risco no Brasil?” é uma iniciativa do recém-lançado Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade, que já começou a mapear as violações e ameaças ao exercício da liberdade acadêmica e de cátedra no país. E na Paraíba, a regional da SBPC está tocando um projeto inédito em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) para levar a ciência às comunidades mais vulneráveis.
Confira a nova edição do Jornal da Ciência baixando gratuitamente o exemplar em pdf e Boa Leitura!
Renato Janine Ribeiro
Presidente
Fernanda Sobral
Vice-presidente