O trabalho do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI) responsável por emitir alertas de risco geo-hidrológicos para estados e municípios, conseguiu reduzir em 80% o número de mortes em desastres naturais no país, desde 2011, ano em que foi criado.
A estimativa foi feita pelo pesquisador Carlos Nobre (IEA/USP) durante debate online realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na tarde desta quinta-feira (24). O webinar foi o primeiro de uma série sobre o papel atual e futuro das unidades de pesquisa do MCTI.
Nobre foi o responsável pela criação do Cemaden em 2011, após a tragédia registrada na região serrana do Rio de Janeiro naquele ano, na qual morreram 918 pessoas e outras 100 ficaram desaparecidas.
“Depois de 2011 houve inúmeros desastres com mais chuva que aquele ano em vários lugares do Brasil e que o Cemaden mandou alertas. Reduziu em 80% o número de mortes. Esse trabalho de 11 anos do Cemaden está sendo muito importante para reduzir os riscos dos desastres naturais”, disse o pesquisador, durante o webinar.
Menor orçamento da história
Apesar de sua crescente importância na prevenção de desastres, o Cemaden foi uma das unidades de pesquisa do Governo Federal que teve de lidar com o baixíssimo orçamento em 2021.
Ano passado, o órgão recebeu R$ 17 milhões, contra R$ 107,3 milhões em 2012, segundo dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Ministério da Economia. A queda foi de 84%. Para 2022, estão previstos repasses de R$ 23 milhões.
Mesmo evitando discutir tópicos relacionados a orçamento e pessoal – muito pelo entendimento de que não há o que ser feito sobre o assunto no atual governo e que o cenário só vai mudar após as eleições – o pesquisador Osvaldo Moraes, diretor do Cemaden, salientou que a unidade foi uma das menos impactadas pelos cortes orçamentários feitos por Bolsonaro nos últimos anos.
Esta relativa manutenção dos valores, segundo ele, se deveu a um certo “terrorismo” praticado por ele no trato com o MTCI.
“Tem uma coisa que costumo brincar: eu sou belo terrorista, no sentido que sou muito franco nas relações que tenho com todos os ministros. Eu digo ‘ministro, o Cemaden presta um serviço imediato para a sociedade. Quando algum desastre acontecer e nós tivermos o argumento de que alguma coisa não funcionou porque não tivemos recursos, eu vou voltar a dar aulas na universidade onde estou lotado, já o ministro tem um peso político a pagar’”, disse.
Na última quarta-feira, matéria do UOL revelou que nove equipamentos instalados em 2016 em áreas de risco pelo Cemaden para acompanhar deslizamentos estão parados há quatro anos por falta de verba do governo federal. Um deles estava justamente em Petrópolis.
Em nota publicada em seu site, o Cemaden esclareceu que os dados gerados por tais equipamentos foram usados somente para pesquisa, não para geração de alertas, e que Petrópolis conta com outras 15 estações geotécnicas em funcionamento atualmente.