“Estou certo de ter cumprido o meu dever, tanto na perspectiva pessoal, como cientista e cidadão, quanto institucional”, disse Marco Antonio Raupp ao entregar o cargo ao seu sucessor no ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Clelio Campolina. Raupp fez um balanço dos avanços obtidos nos mais de dois anos que esteve à frente do cargo, especialmente na condução de programas prioritários para o governo e para o país.
Veja abaixo o discurso na íntegra:
Meus amigos e minhas amigas, colegas, funcionárias e funcionários do MCTI e de suas agências de fomento, unidades de pesquisa e empresas vinculadas.
Um momento como este permitiria reflexões das mais diferentes ordens, como sobre os desígnios da vida de um cientista, as implicações da política na ciência e vice-versa, ou a dedicação ao serviço público como forma de satisfazer os anseios de uma alma cidadã e, ao mesmo tempo, de contribuir para a melhoria da nação.
Seriam reflexões, creio eu, importantes, especialmente para um ambiente como este, sendo o CNPq a “casa da ciência brasileira”. Contudo, prefiro ir direto ao ponto: subtraindo algumas sensações próprias de ocasiões como esta, de despedida, tenho que revelar a vocês que minha alma está feliz.
Aliás, muito feliz! E por uma razão que é ao mesmo tempo a mais simples e a mais gratificante das razões: a do dever cumprido.
Estou certo de ter cumprido meu dever, tanto sob uma perspectiva pessoal, como cientista e cidadão, e também – principalmente – sob uma perspectiva institucional. As metas colocadas para o nosso trabalho estão sendo cumpridas.
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Meus amigos e amigas, o MCTI é um ministério de tamanho médio no contexto da Esplanada, mas quem aqui ou no mundo tem condições de dizer qual é o tamanho da ciência, da tecnologia e da inovação?
Essa indagação, da resposta impossível, mostra o quão desafiante é ao MCTI cumprir com seus desígnios de fazer a ciência, a tecnologia e a inovação caberem em um órgão de governo, ou, então, caberem em um governo todo.
O que resta, portanto, ao MCTI, para cumprir seu papel, é fazer um recorte no tempo e no espaço, de modo a formular para si uma outra questão, esta sim com resposta possível. Essa questão é: diante da compreensão que o governo tem da C,T&I (compreensão essa expressa em orçamento e em apoio político ao Ministério), e frente as demandas do País para a ciência, o que o MCTI precisa fazer de modo a contribuir para a evolução do sistema nacional de C,T&I e, ao mesmo tempo, devolver resultados para a sociedade.
Não precisamos rever toda a trajetória da ciência e da política cientifica brasileiras para verificarmos que o papel atual do MCTI precisa atender a quatro demandas que se inter-relacionam: manter o crescimento da nossa base científica; qualificar mais a ciência brasileira; expandir as atividades de pesquisa e desenvolvimento para o setor empresarial; atuar para que a tríade ciência, tecnologia e inovação seja protagonista do desenvolvimento sustentado do Brasil em termos econômicos, sociais, culturais e ambientais.
Faço questão de dizer que minha alma está feliz porque nesses dois anos e pouco no MCTI trabalhei o quanto pude e estimulei ao máximo meus colaboradores para que o nosso Ministério atendesse HARMONICAMENTE as demandas que cabem a ele na vida do País.
Papers e patentes não se rivalizam, nem são excludentes. Países que lideram rankings na produção de papers, também são destaque na geração de patentes.
Sim, temos que aumentar nossa geração de patentes, mas sem que para isso prejudiquemos a base científica. Do contrário, seria como cortar a árvore para poder colher seus frutos.
Assim, o que fizemos foi plantar mais árvores e adubar as existentes, para que possamos colher mais e melhores frutos.
O edital do CNPq para infraestrutura de pesquisa e o Edital Universal tiveram valores recorde, ao mesmo tempo em que o Programa RHAE, para alocar pesquisadores em empresas, teve um novo edital. Quero destacar também a decisão pela continuidade do programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia.
Em 2013, o orçamento executado pelo CNPq atingiu, pela primeira vez, a casa dos três bilhões de reais. O MAIOR ORÇAMENTO DA HISTÓRIA DO CNPQ!!!
Não por acaso, também em 2013 a Finep contratou O VALOR RECORDE DE 6,7 BILHõES DE REAIS em operações de crédito para empresas inovadoras, valor esse abastecido basicamente por recursos do Programa de Sustentação do Investimento, PSI, do governo federal. Na soma de 2013-2014, da Finep contará ainda com 1,2 bilhão de reais do FNDCT para inovação nas empresas a título de subvenção econômica e projetos cooperativos entre instituições de pesquisa e empresas.
Esse salto na atuação da Finep se deveu à implantação do Plano Inova Empresa, em março de 2013. Do total de 32,9 bilhões de reais previstos para o Inova Empresa, sete bilhões já foram contratados pela Finep, e 11 bilhões estão em fase de contratação.
Sete bilhões de reais, mais onze bilhões, igual a 18 bilhões, portanto consecução de 55% da meta para dois anos.
Vale registrar ainda que encontram-se em análise projetos que somam 46 bilhões de reais.
Esses números resultam de um plano feito na hora certa e com objetivos certos. Mais de 2.600 empresas e mais de 220 ICTs enviaram propostas para os 12 editais lançados. Essas propostas somaram 84 bilhões de reais!!!
Ainda no âmbito do Inova Empresa, concluímos a constituição da Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial e Inovação. Com formato enxuto de Organização Social e inspiração na vitoriosa Sociedade Fraunhofer, da Alemanha, a Embrapii será a ponte que faltava em nosso país para o trânsito fluido, sem entraves burocráticos, entre instituições de pesquisa e empresas, com vistas à realização de projetos de P&D.
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Uma vez que papers e patentes são partes de um mesmo universo, a política científica e tecnológica, a meu ver, precisa contar com instrumentos que possam contemplar áreas do conhecimento que estão na vanguarda da ciência e também são imprescindíveis para a inovação tecnológica.
Me refiro especificamente à nanotecnologia e à biotecnologia, e incluiria também a tecnologia da informação.
Pois bem, sob a coordenação da nossa Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação criamos a Iniciativa Brasileira em Nanotecnologia, com um conjunto de medidas práticas que estão potencializando nossa capacidade de gerar e aplicar novos conhecimentos em nanociência e nanotecnologia. Os atores da Iniciativa Brasileira em Nanotecnologia são instituições de pesquisa e empresas. Já existem parcerias importantes em andamento, com a participação de mais de cem empresas.
Na mesma linha da nanotecnologia, está em fase de conclusão a formatação de um programa para a área de biotecnologia.
Quanto à tecnologia da informação, constituímos um grande programa, o TI Maior, sob responsabilidade da nossa Secretaria de Política de Informática. A ousadia desse programa pode ser resumida no fato de termos atraído para o Brasil quatro centros globais de P&D em TI num período pouco superior a um ano.
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A dupla paper-patente pode ser encarada também de uma perspectiva regional. Com a participação de instituições de ciência e tecnologia, FAPs e órgãos de governos estaduais, o MCTI propôs e trabalhou para a elaboração de um plano de ciência, tecnologia e inovação para a região amazônica. Esse plano está prestes a ser divulgado.
Outra iniciativa, em curso avançado de constituição, visando a geração de conhecimento e sua aplicação, é o Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias. Também o Inpoh é uma Organização Social, que contará com quatro bases no litoral brasileiro e mais um navio de pesquisa. Esse navio já foi comprado, por 80 milhões de dólares, está em fase de construção, resulta de parceria entre o MCTI, a Marinha do Brasil e as empresas Petrobras e Vale.
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Me permitam mais dois exemplos em que se poderá gerar, em igualdade de condições, tanto papers como patentes.
Um exemplo é o novo anel do Laboratório Nacional de Luz Síncroton, em Campinas. Outro, é o Reator Multipropósito Brasileiro, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
Anel de luz síncroton e reator estão em fase de construção e representarão, em suas respectivas áreas de atuação, um salto sem precedentes para a geração de conhecimento científico e tecnológico no Brasil.
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A visão abrangente da ciência e a sua necessidade de gerar resultados para a sociedade e para o País, possibilitou mais um avanço significativo ao MCTI nos últimos dois anos: nossa atuação transversal dentro do governo federal.
Hoje, o MCTI tem parcerias com 19 ministérios. Isso significa que a ciência, a tecnologia e a inovação estão se tornando cada vez mais presentes no governo federal como um todo, promovendo benefícios para diferentes setores da sociedade.
Um exemplo é a nossa participação no sistema nacional de prevenção de desastres naturais e mitigação de seus efeitos, do qual participam também a Casa Civil da Presidência da República e os ministérios das Cidades e da Integração Nacional. A participação do MCTI se dá por meio do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o Cemaden, idealizado, implementado e supervisionado pela nossa Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento. O Cemaden está localizado no Vale do Paraíba, em São Paulo, e funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
Outra atuação do MCTI se dá no Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Viver Sem Limite. Nossa Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social coordena o Comitê Interministerial que tem o papel de formular e implementar políticas e ações para o desenvolvimento de tecnologias assistivas.
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Meus amigos, para que a ciência, a tecnologia e a inovação se realizem, não basta a elaboração de decretos, resoluções ou portarias. Mais que isso, é necessário que sejam criadas condições reais para a ciência se desenvolver e oferecer resultados concretos. É preciso atuar junto aos agentes do conhecimento científico e estimular o sistema a se movimentar e agir.
Foi assim que trabalhamos no MCTI. Talvez resida aí parte do sucesso de nossa execução orçamentária, altamente eficiente nos últimos dois anos. Talvez também esteja aí a explicação para o êxito de nossas parcerias com os diferentes atores do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação.
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Para terminar, quero agradecer às instituições e às pessoas que estiveram comigo nesses últimos dois anos.
Meus agradecimentos à SBPC, à ABC e a todas as sociedades científicas, pelo apoio e também pelas cobranças, sem as quais corremos o risco de ficar paralisados.
À Anpei, que ajudou sobremaneira a efetivar o I, de Inovação, no nome do nosso Ministério. Empresas inovadoras são cada vez mais imprescindíveis ao País.
Meus agradecimentos à Abipti, por ter trazido nas parcerias com o MCTI sua força e sua representatividade junto às ICTs.
Meus agradecimentos à Anprotec, que me fez entender e apreciar mais ainda a atuação dos parques tecnológicos, contemplados com investimentos em valores recordes por parte do MCTI.
Meus agradecimentos ao Consect e ao Confap. A parceria com esses agentes garante a tão desejada execução de uma política de Estado para ciência, tecnologia e inovação.
Meus agradecimentos a todos os dirigentes e funcionários das Unidades de Pesquisa e das empresas vinculadas ao MCTI.
Meus agradecimentos à Agência Espacial Brasileira, na pessoa de seu presidente José Raimundo Braga Coelho. E também ao pessoal da CNEN, e todo o sistema nuclear, em nome do presidente da Comissão, Ângelo Padilha.
Meus agradecimentos ao pessoal do CNPq, na pessoa de seu presidente, Glaucius Oliva. Graças ao empenho dessa equipe e seu líder, juntamente com o Jorge Guimarães e a turma da Capes, neste ano vamos cumprir a meta de conceder as 75 mil bolsas do Programa Ciência sem Fronteiras, sob responsabilidade do governo federal.
Meus agradecimentos ao pessoal da Finep, na pessoa de seu presidente, Glauco Arbix. Com a execução do Plano Inova Empresa, a Finep se tornou outra instituição, muito mais comprometida com a inovação e muito mais dinâmica no seu funcionamento. O Finep 30 dias é a prova disso.
Meus agradecimentos ao secretário executivo do MCTI, Luiz Antonio Elias. Nossa convivência me fez ver o acerto da presidente Dilma Rousseff em solicitar que você continuasse no cargo quando assumi o Ministério. Muito obrigado também à Ana Assad e todo o pessoal da Sexec.
Meus agradecimentos aos secretários e suas respectivas equipes:
Álvaro Prata, de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação.
Carlos Nobre, de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento.
Oswaldo Duarte Filho, de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social.
Virgílio Almeida, de Política de Informática.
Vocês, secretários, é que fizeram o Ministério andar. Feliz do ministro que tem vocês na equipe.
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Meus agradecimentos aos chefes das assessorias Parlamentar, Acioli de Olivo; de Assuntos Internacionais, Franklin Neto; e de Comunicação, Lúcia Muniz. Também ao Bruno Portela, da Consultoria Jurídica.
Meu muito obrigado à Conceição e ao Paulo Marcos e suas equipes. E aos assessores do gabinete, professor Rui Caldas, Bruno, Letícia, Luana e Sérgio.
Meu muito obrigado àqueles que estiveram mais próximos de mim nessa jornada: Daniel Colombo, José Roberto Ferreira, Marcos Toscano e Simone Franco.
Por fim, meu agradecimento à presidente Dilma Rousseff, por ter confiado a mim a missão de comandar o MCTI.
Ao meu sucessor, professor Clélio Campolina Diniz, meus votos de uma gestão com muito êxito e sucesso. Conte comigo para o que precisar!
A todos vocês, enfim, o sincero agradecimento de uma alma feliz!
Muito obrigado!