Trópico pelo Avesso

Artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura discute a relação do cinema brasileiro com o Modernismo

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Apesar de já existir uma relação entre cinema e literatura, as duas artes ainda não se “alinhavam” à época da Semana de Arte Moderna. Foi apenas anos mais tarde que o modernismo mostrou todo seu impacto na sétima arte. Isso é o que mostra o artigo especial da nova edição da revista Ciência & Cultura: A semana de Arte Moderna e o Século Modernista — Extensões.

“A relação do modernismo com o cinema e o campo das imagens só pode ser entendida remontando às suas derivas e dando um salto 30 ou 40 anos depois da Semana de 22 quando veremos emergir o que podemos configurar como um moderno cinema brasileiro”, explica Ivana Bentes, professora e pesquisadora do Programa de pós-graduação em Comunicação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em artigo para a revista.

O diálogo do cinema com o espírito iconoclasta modernista e com o tropicalismo está presente numa série de filmes de diferentes momentos. Porém, o período 1967-1972 pode ser considerado o historicamente mais significativo, quando o tropicalismo musical encontra o moderno cinema brasileiro em construção, com filmes como “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, “O Bandido da Luz Vermelha” (1868), de Rogério Sganzerla, “Brasil Ano 2000” (1968), de Walter Lima Jr., “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, e todo uma série de filmes radicais, como “Triste Trópico” (1974), de Arthur Omar. São filmes “marginais”, experimentais, pouco vistos pelo público da época,  filmes para outros artistas e para um público “no tempo”, sempre por vir.

Segundo a pesquisadora, a relação do moderno cinema brasileiro com procedimentos estéticos e dispositivos produzem uma transmutação cultural que vai da cultura letrada ao cinema por meio de operações de linguagem. Através de processos como a Antropofagia, a Carnavalização e o Modernismo, há uma dissolução e reconstrução que desqualificam uma série de oposições clássicas: eu e outro, nacional e estrangeiro, bárbaro e civilizado, transgressão e ordem. “Esse modernismo plural no cinema, do marginal e experimental nos aproxima da própria dinâmica ‘perversa polimorfa’ da cultura de massa capitalista, capaz de sínteses impensáveis”, diz Bentes.

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