Um alerta para aprendermos com o passado

Historiadores dizem que Marcha Virtual pela Ciência pode ser um momento de reflexão sobre o aprendizado com outras tragédias do passado

“A Marcha Virtual pela Ciência é uma oportunidade de dizer que a experiência dramática que vivemos hoje também tem uma história que deve ser compartilhada pela maior parte da população” afirma Márcia Maria Menendes Motta, presidente da Associação Nacional dos Professores Universitários de História (Anpuh). “Só assim, a população consegue entender melhor quais os esforços precisam ser feitos para que a pandemia termine o mais rápido possível”.

A Marcha Virtual pela Ciência será realizada em 7 de maio, com atividades transmitidas pelas redes sociais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (@SBPCnet) no Facebook e no YouTube. O objetivo da manifestação é chamar a atenção para a importância da ciência no enfrentamento da pandemia de covid-19 e de suas implicações sociais, econômicas e para a saúde das pessoas.

Para a presidente da Anpuh, a pandemia traz à tona a questão sobre o tipo de Estado que desejamos, o que se conecta com um dos temas de destaque da Marcha, o desmonte dos sistemas públicos de educação e saúde. “Isso nos permite refletir sobre as intervenções desse estado e políticas públicas necessárias para salvaguardar as populações menos favorecidas”.

Para Motta, a pandemia do coronavírus nos leva a resgatar histórias e experiências coletivas do passado, que são elementos muito importantes para se entender como comunidades muito pobres, em situações desafortunadas, conseguem construir alternativas de sobrevivência que muitas vezes escapam ao conhecimento mais geral.

O economista Alcides Goularti Filho, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), destaca que desde o início do coronavírus na China, muitos relembraram as trágicas epidemias do passado, principalmente a Gripe Espanhola (1918) nos Estados Unidos e a Meningite no Brasil dos anos 1970, que a ditadura militar tentou ocultar. “É um mecanismo de resgate na história de experiências já vivenciadas, na tentativa de entender o presente e encontrar soluções”, analisa.

Nesse contexto, diz Goularti, a participação de cientistas sociais e das humanidades na Marcha Virtual para a Ciência é fundamental. “Na verdade, acho que, depois da medicina e a biologia, que agora estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia, as áreas que mais estão contribuindo são as ciências humanas”, disse Goularti.

Na visão dele, as disciplinas que pesquisam as humanidades e a sociedade são capazes de demonstrar como estamos nos comportando, os efeitos do confinamento, as angustias, como as pessoas estão lidando com a situação. “Nossa postura sobre o mundo, o que vamos construir depois disso? Vai ficar tudo como antes? Ou temos que rever nossas posturas? Tudo isso quem nos ajuda a entender melhor são os filósofos, psicólogos, antropólogos. Essa é a grande contribuição das ciências humanas, sociais, para pensar hoje e o pós-coronavirus”, conclui o presidente da ABPHE.

Ao longo desta semana, a SBPC divulgará entrevistas, vídeos e depoimentos escritos de representantes das entidades científicas e acadêmicas, pesquisadores, estudantes e professores sobre temas de ciência, educação e saúde e convocando para a Marcha. Todos são convidados a participar dessa grande manifestação em defesa da vida, da ciência e do desenvolvimento sustentável do País!

Janes Rocha – Jornal da Ciência