Seja pela simplicidade do meio ou pelos múltiplos formatos de programa à disposição do público, o rádio ainda é, hoje, um veículo com grande potencial de alcance. De acordo com a pesquisa Kantar Ibope Media, de 2019, 92% dos adultos conectados escutam rádio offline. O levantamento mostra, ainda, que o rádio é o meio líder em confiança no Brasil e que 64% dos ouvintes consideram a maioria das notícias consumidas em rádio verdadeiras.
No Brasil, rádio e ciência caminham juntas desde a década de 1920, quando Roquette-Pinto e Henrique Morize fundaram, na Academia Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com fins exclusivamente educacionais e culturais. No âmbito da divulgação científica em rádio, merece destaque, ainda, o programa semanal “E por falar em ciência”, desenvolvido no início de 1990, na Universidade Federal Fluminense, pela jornalista Erika Franziska, que foi transmitido durante cinco anos.
Com foco, sobretudo, nas rádios comunitárias, em setembro, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lançou o projeto de divulgação científica em rádios, como parte da programação da SBPC Jovem e Família da 72ª Reunião Anual. As primeiras ações envolveram reuniões com pesquisadores, articulações com comunicadores populares e gestores de rádios universitárias e, no dia 10 de outubro, o site entrou no ar.
Segundo Rute Andrade, pesquisadora da Fundação Museu do Homem Americano (Fundham) e conselheira da SBPC, a ideia surgiu a partir da demanda dos ouvintes de uma coluna semanal sobre ciência, elaborada por ela para a Rádio Cultura, de São Raimundo Nonato (PI). “Temos levado informações sobre o novo coronavírus e a covid-19 em todos os seus contextos via rádio, à luz da ciência. Com esse trabalho chegando a pessoas sem acesso à internet, estimulei que a ciência no rádio fosse uma pauta nos eventos da SBPC neste ano de 2020”, comenta a pesquisadora.
Para o professor Marcelo Kischinhevsky, pesquisador de rádio e diretor da Rádio UFRJ, uma das primeiras emissoras a participarem do projeto, o trabalho de divulgação científica em áudios desenvolvido pela SBPC é fundamental. “A SBPC teve um papel decisivo, nos anos 1990, na criação da primeira rede de rádios universitárias, formada, à época, com poucas emissoras e que é o embrião do projeto que hoje a gente vem tocando na Rede de Rádios Universitárias do Brasil, a Rubra”, explica.
João Malerba, jornalista membro do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária da UFRJ, e coordenador de projetos do Criar Brasil, pontua que as rádios comunitárias são meios de comunicação com o objetivo de ativar a cidadania e quebrar a barreira entre emissor e receptor, buscando o engajamento da comunidade em questões relevantes da localidade, a partir da comunicação. Ele lembra que as rádios comunitárias vão se transformando ao longo do tempo, mas permanece a relevância do meio mesmo com as mudanças sociais e tecnológicas.
Para Cláudia Linhares Sales, diretora da SBPC, o repositório é um dos grandes legados da 72ª Reunião Anual. Segundo ela, a realização do evento de forma remota, acentuou a necessidade da produção de conteúdos voltados a um público que não tem fácil acesso à Internet. “O reconhecimento da necessidade de alcançar essas pessoas nos levou a criar o repositório de áudios, com conteúdos, que passaram por uma curadoria, produzidos por divulgadores de todo o Brasil. O projeto nos proporcionou reunir e disseminar o conhecimento científico aos rincões do nosso país continental. O rádio é um instrumento atual e poderoso de comunicação”.
Reunindo 212 áudios de 36 iniciativas, de todas as regiões do País, em formatos variados, como radionovela, depoimentos, histórias infantis, entre outros, e temas diversos, o repositório de áudios está no site da 72ª Reunião Anual, podendo ser acessado livre e gratuitamente.
Este e outros temas debatidos e apresentados durante a Reunião Anual podem ser encontrado na nova edição do Jornal da Ciência impresso, de nº 791, que já está no site e pode ser baixado gratuitamente em PDF. Todas as palestras, mesas-redondas, conferências e atividades estão disponíveis no canal da SBPC no Youtube e no site da RA.
Giselle Soares – Jornal da Ciência