“Universidade pública é muito boa, mas precisa gerar sucessores”, afirma Luiz Roberto Curi

A declaração foi durante a primeira edição do SBPC-IB Lecture, projeto promovido pelo Instituto de Biologia (IB) em parceria com a SBPC

Foi realizada nesta semana, no Centro de Convenções da Unicamp, a primeira edição do SBPC-IB Lecture, projeto promovido pelo Instituto de Biologia (IB) em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A iniciativa tem a finalidade de homenagear grandes nomes que contribuem para a ciência, educação e tecnologia do país e trazer para as universidades discussões de grandes temas contemporâneos relacionados à área. A primeira palestra foi ministrada por Luiz Roberto Liza Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), que propôs uma discussão do atual cenário do Ensino Superior no país.

A abertura do I SBPC-IB Lecture teve a participação de Nancy Lopes Garcia, pró-reitora de pós-graduação da Unicamp, e de Edvaldo Sabadini, assessor da Pró-Reitoria de Graduação, e foi conduzida por Marcelo Alves Mori, professor do IB e secretário regional da SBPC. Em sua apresentação, Marcelo explicou que, além de contribuir com o desenvolvimento científico e tecnológico do país e defender os interesses da comunidade científica, é papel da SBPC também combater os empecilhos que impedem o progresso da ciência, como é o caso do fenômeno da disseminação de fake news que envolvem questões científicas.

Luiz Roberto Curi é sociólogo e doutor em Economia pela Unicamp. Desde 2012, é conselheiro do Conselho Nacional de Educação e é o atual presidente do órgão. Após a entrega de um prêmio em reconhecimento por suas contribuições para o ensino no país, ele apresentou a palestra “Perigos e promessas: perspectivas da educação superior”. Em sua exposição, Curi abordou dados do Censo da Educação Superior de 2018, última edição da pesquisa, para abordar os atuais problemas e desafios do setor.

Antes de entrar no tema principal, Luiz Roberto recuperou dados do Ideb e do Pisa, referentes ao Ensino Básico no país, mostrando o quanto muitos dos problemas que chegam às universidades têm início ainda nos níveis fundamental e médio. Os índices apresentados mostram que de cada 100 alunos que ingressam em escolas públicas aos seis anos, apenas 65 concluem o Ensino Médio até os 19 anos. Também mostram que, dos estudantes que concluem o nível médio, 24% tem aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e apenas 9% em Matemática. Além desses problemas, as pesquisas apontam que cerca de 400 mil professores da educação básica pública não têm formação superior adequada. “Essas são consequências graves que impactam as políticas de educação superior. Egressos de Ensino Médio, que praticamente não sabem Matemática ou Português, são candidatos a vagas na educação superior e devem ser reconhecidos com esse déficit. Mas, em geral, não são, faz de conta que não há déficit nenhum”, explica Curi.

Se o ensino básico sofre com essas deficiências, os desafios colocados ao ensino superior aparecem em contrastes e desigualdades regionais e também nas dificuldades de se promover o acesso às universidades. Segundo dados do Censo apresentados por Curi, em 2018 o país registrou mais de 8 milhões de matrículas no Ensino Superior. No entanto, 46% ocorreram no Sudeste, enquanto apenas 8% na região Norte. “Quanto mais as matrículas se expandem no Brasil, mais elas se concentram na região Sudeste. Quanto mais estamos expandimos a educação, menos inclusão adequada a gente tem, menos equilíbrio regional a gente tem. Esse é um dado que limita a expansão”, analisa.

Ele também criticou o que considera efeitos da falta de planejamento pedagógico para as políticas de expansão do Ensino Superior, principalmente nas instituições privadas, que não levam em conta a necessidade de promover o desenvolvimento de áreas estratégicas do país. Luiz Roberto afirma que isso se reflete na quantidade de vagas ociosas nas faculdades e universidades do país: em 2018, segundo o Censo, 75% das vagas oferecidas por instituições privadas não foram ocupadas. Nas instituições públicas, o índice de ociosidade chega a 30%.

Além da necessidade de um maior planejamento para as universidades, o presidente do Conselho defende que as avaliações feitas pelo Ministério da Educação abandonem um modelo burocrático, voltado à verificação de documentos, e olhe para a atuação e produção de professores e alunos. “Não é para isso que as universidades existem. Universidades existem para ampliar o processo formativo, para dar sentido ao estudante do que é pesquisa e formação intelectual, para ampliar esses sentidos. Mas o modelo atual acaba gerando distorções como essas”, afirma Luiz Roberto.

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