Vencedora do Prêmio Carolina Bori pesquisou urbanização de cidade com integração quilombola

Angélica Azevedo e Silva é estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) e é uma das seis jovens cientistas premiadas em 2025. Realizada pela SBPC, premiação terá cerimônia de entrega no dia 11 de fevereiro, na sede da entidade, em São Paulo

Além de olhar para as futuras cientistas, uma das missões do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”, realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é valorizar pesquisas que tenham um impacto social e que colaborem para um País mais justo e diverso. Este é o caso do trabalho de Angélica Azevedo e Silva, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).

WhatsApp Image 2025-01-28 at 13.36.54Angélica desenvolveu o estudo “Diagnóstico das dimensões da sustentabilidade urbana no município de Cavalcante-GO e Urbanismo Kalunga: sustentabilidade, ancestralidade e identidade” que, como seu nome explica, buscou olhar para a estrutura urbana do município de Cavalcante, em Goiás, considerando também o Território Quilombola Kalunga que ali se encontra.

“Eu comecei a fazer a pesquisa analisando quatro dimensões da sustentabilidade do município: ambiental, social, econômica e cultural. Essa é a metodologia da minha orientadora, que ela construiu a partir da sua tese de doutorado juntamente com outra professora. Depois, eu avancei para uma proposição de diretrizes de planejamento urbano para Cavalcante, porque o plano diretor da cidade já estava antigo. Na realidade, ainda está, ele está passando ainda por esse processo de revisão”, explica a premiada.

O estudo de Angélica propõe diretrizes tanto a nível da cidade como um todo quanto a melhorias específicas de ruas e vias. Dessas diretrizes, a pesquisadora fez o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da graduação, que foi um projeto de melhoria de uma rua de Cavalcante localizada no bairro Vila Morro Encantado, uma área onde moram muitas pessoas quilombolas e kalungas.

“O meu projeto para a rua teve o objetivo de trazer mais visibilidade para essas pessoas. Essa revitalização foi pensada porque ela era totalmente de barro e muito larga. Para a revitalização, eu trouxe soluções baseadas na natureza e elementos que preservam os saberes tradicionais quilombolas. Propus barraquinhas de arquitetura vernacular kalunga, para as pessoas venderem os produtos locais que produzem, propus também alguns equipamentos comunitários no final da rua e uma revitalização de uma praça que já existe no local.”

Questionada sobre por que resolveu realizar este estudo, Angélica conta que viu na Ciência a oportunidade de combater desigualdades.

“A maioria das pessoas que se formam em Arquitetura e Urbanismo acaba atuando em escritórios, trabalhando para clientes de alto padrão e nichos mais especializados. Mas eu nunca me vi nesses espaços, eu sempre tive um objetivo de ajudar as comunidades mais vulneráveis. No curso, eu conheci a minha orientadora que tem essa pegada de realizar uma maior troca de saberes com as comunidades tradicionais e as comunidades de baixa renda. Aí, eu me aproximei dela e entrei para esse laboratório, que é o Laboratório Periférico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, e que presta assessoria sociotécnica para essas comunidades.”

Ao se ver como uma das ganhadoras do Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”, Angélica conta que ficou muito feliz com a conquista e que não esperava que teria tamanho alcance do seu trabalho.

“É uma honra receber esse prêmio, eu nunca imaginei que eu fosse receber um reconhecimento nacional. Agradeço primeiramente a Deus por isso, à minha família, ao meu esposo também por todo apoio que ele foi dando por todo o momento do curso e à minha orientadora, Liza Maria Souza de Andrade, que quis me indicar para esse prêmio. Eu não teria vencido se não fosse por ela”, conclui.

Investimento no futuro

Nesta 6ª edição de Prêmio Carolina Bori “Ciência & Mulher”, as ganhadoras da categoria Graduação serão agraciadas com um prêmio em dinheiro no valor de R$ 10 mil cada, e as vencedoras do Ensino Médio receberão, cada uma, R$ 7 mil. A premiação da SBPC conta com o patrocínio da Fundação Conrado Wessel, do Instituto Serrapilheira, da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e do Complexo Pequeno Príncipe.

Além da premiação em dinheiro, as seis vencedoras terão acesso a uma série de oportunidades para impulsionar suas carreiras científicas. Elas ganharão uma viagem a Recife (PE), onde apresentarão seus projetos na 77ª Reunião Anual da SBPC, que ocorrerá em julho de 2025, e participarão de uma mentoria exclusiva com pesquisadores de destaque, ampliando suas perspectivas acadêmicas e profissionais. As premiadas também serão contempladas com uma visita guiada ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, onde está localizado o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, a única fonte de luz síncrotron da América Latina.

Além das seis vencedoras, também foi concedida uma menção honrosa, que receberá um certificado e um troféu.

A cerimônia de premiação acontecerá no dia 11 de fevereiro, no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antonia, 294 – 3º andar – São Paulo/SP), durante a comemoração do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco, com transmissão ao vivo pelo Canal da SBPC no YouTube.

Criado em 2019, o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” é uma homenagem da SBPC às cientistas brasileiras destacadas e às futuras cientistas brasileiras de notório talento. A premiação leva o nome da primeira presidente mulher da entidade, Carolina Martuscelli Bori, precursora na luta pela regularização da Psicologia enquanto ensino e profissão no Brasil, além de uma defensora da comunicação científica à sociedade.

Confira abaixo a lista das premiadas da 6ª Edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” – Meninas na Ciência:

Categoria ENSINO MÉDIO:

Engenharias, Exatas e Ciências da Terra – Millena Xavier Martins (MG)

Humanidades – Isadora Abreu Leite (MA)

Biológicas e Saúde – Ana Elisa Brechane da Silva (SP)

 

Categoria GRADUAÇÃO:

Engenharias, Exatas e Ciências da Terra – Narayane Ribeiro Medeiros (SP)

Humanidades – Angélica Azevedo e Silva (DF)

Biológicas e Saúde – Beatriz Oliveira Santos (SP)

 

MENÇÃO HONROSA: Lucia Ferreira da Silva (AP)

Rafael Revadam – Jornal da Ciência