A sociedade brasileira passou a viver um acirramento da violência nos últimos oito anos, resultado de um regime de ódio que “explodiu” nas manifestações de 2013 e acabou se refletindo na ação da policial, constatou o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares.
Segundo ele, o crescimento da violência policial letal no País está registrando números “dantescos”, atingindo 6.416 homicídios em 2020, sendo predominante em alguns estados, como no Rio de Janeiro, onde 40% dos homicídios na cidade são perpetrados pela polícia.
Soares foi o convidado da seção “Bate-papo: a violência na sociedade brasileira”, na grade de programação da 73ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Tendo como comentaristas a advogada e procuradora Deborah Duprat e o antropólogo Otávio Velho, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A seção Bate-Papo é uma das novidades da 73ª RA.
Considerado um dos mais importantes especialistas em segurança pública do Brasil, Soares situou o crescimento da violência policial em um contexto de avanço do discurso bélico da extrema direita que culminou com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. No entanto, segundo ele, esse discurso já vinha fermentando na sociedade desde o término da ditadura civil-militar (1964-1985), que acabou criando o que ele chama de “enclave institucional”, uma força policial que não se submete ao poder civil.
“O ódio passou a ser nossa referência no regime de afetos”, analisou Soares. Para ele, a pandemia do coronavírus, além da tragédia em mortes causada pela má gestão da crise sanitária, contribuiu para a construção de uma “atmosfera tóxica e venenosa”.
“Tudo isso concorre para que a violência se amplie e efetivamente vimos um crescimento dos homicídios dolosos, com ênfase extraordinária nas vítimas jovens negros e pobres”, reiterou.
Assista ao bate-papo na íntegra, no canal da SBPC no YouTube.
Jornal da Ciência