Renato Janine Ribeiro é diplomado membro titular da Academia Brasileira de Ciências

Presidente da SBPC é o primeiro estudioso do campo da Filosofia a integrar a entidade científica mais antiga do País
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Fotos: ABC

Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o filósofo Renato Janine Ribeiro foi diplomado membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em cerimônia realizada no dia nessa quinta-feira,  8 de maio na Escola Naval, no Ri de Janeiro. Professor-titular de Ética e Filosofia política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Janine Ribeiro é o primeiro especialista da área filosófica a ocupar uma cadeira na instituição científica mais antiga do País.

Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado pela Université de Paris-I, Panthéon-Sorbonne, e doutorado pela própria USP, Janine Ribeiro já publicou 21 livros, organizou 4 obras coletivas e escreveu 104 capítulos de livros. Em seus estudos, costuma refletir sobre o papel da filosofia e da ética dentro da estrutura política e importância destes pensamentos como ativos em defesa da democracia e da sociedade.

WhatsApp Image 2024-05-09 at 19.02.17Entre os meses de abril e outubro de 2015, Janine Ribeiro foi ministro da Educação. Em seu mandato, atuou diretamente em prol da transparência e do diálogo sobre o ensino público brasileiro. Foi o responsável por divulgar os dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2015, que mostrou as defasagens educacionais do País e que também encabeçou uma série de debates sobre a reformulação dos métodos de ensino-aprendizagem. Também atuou diretamente com o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), expandindo os acordos entre o Governo Federal e entidades privadas que possuíam notas máximas em seus cursos.

Desde 2021, Janine Ribeiro é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em seu primeiro mandato (2021-2023), o especialista encabeçou a entidade nas lutas contra o contingenciamento de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e também trabalhou no combate à desinformação, intensificada durante o governo Bolsonaro. Agora, lidera a SBPC nos diálogos em prol da expansão do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia e pela ampliação dos diálogos sobre democracia no País.

Novos membros da ABC

Eleitos na Assembleia Geral da ABC de 4 de dezembro de 2023, estavam presentes na cerimônia da noite de 8 de maio na Escola Naval 18 dos 20 novos membros titulares. Além Janine Ribeiro, foram diplomados Nancy Lopes Garcia (Ciências Matemáticas, Unicamp); das Ciências Físicas, Andrea Brito Latgé (UFF), Daniela Lazzaro (ON) e Luis Carlos Bassalo Crispino (UFPA); das Ciências da Terra, Marly Babinski (USP); das Ciências Biológicas, Neusa Hamada (INPA) e Vera Lucia Imperatriz Fonseca (USP); das Ciências Biomédicas, Ana Maria Caetano de Faria (UFMG), Marcio Lourenço Rodrigues (Fiocruz) e Patricia Chakur Brum (USP); das Ciências da Saúde, Monica Roberto Gradelha (UFRJ) e Selma Maria Bezerra Jeronimo (UFRN); das Ciências Agrárias, Francisco Murilo Zerbini Junior (UFV) e Segundo Sacramento Urquiaga Caballero (Embrapa). Das Ciências da Engenharia, Eduardo Antônio Barros da Silva (UFRJ), Julio Romano Meneghini (USP) e Teresa Bernarda Ludermir (UFPE); das Ciências Sociais; e a membra correspondente Karen Barbara Strier (Ciências Biológicas, Universidade de Wisconsin-Madison).

Não puderam comparecer a bioquímica Cristina Wayne Nogueira, da área de Ciências Químicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e o engenheiro agrônomo Antonio Costa de Oliveira, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em função das fortes chuvas na região. Dos três novos membros correspondentes, não estavam presentes Alberto Rodolfo Kornblihtt (Ciências Biológicas, Argentina) e José Alejandro Madrigal (Ciências Biomédicas, Reino Unido).

Para recepcionar os novos membros foi convidado o vice-presidente da ABC para a região Sul, o antropólogo Ruben George Oliven, residente em Porto Alegre. Ele explicou sua ausência como mais uma questão decorrente do negacionismo climático, “é a reação do meio ambiente à ação predatória de alguns setores da sociedade”, pontuou. “A ciência tem muito a contribuir para evitar novas tragédias. A ABC tem alertado e vai continuar alertando a sociedade e o poder público sobre a importância de seguir os ensinamentos da ciência”, disse.

Oliven apresentou de forma resumida as ações da ABC, mostrando aos novos membros todas as frentes de trabalho nas quais podem se engajar. Falou sobre as mudanças mais recentes, como a inserção de mais mulheres e a primeira presidência de uma cientista mulher.  Destacou também a eleição recente de Davi Kopenawa como membro colaborador, ressaltando que a defesa dos direitos dos povos indígenas e da conservação da floresta amazônica são temas muito caros à Academia Brasileira de Ciências.

“A ABC tem dez áreas e cada uma delas elegeu novos membros. O convívio com cientistas de distintas áreas é fascinante, na medida em que nos coloca em contato com pessoas que trabalham com diferentes temas e de modos diversos, mas que compartilham a curiosidade que é típica dos cientistas e a desenvolvem através de suas pesquisas.”

O cientista apontou ainda a posição enfática em defesa  da ciência que a ABC assumiu durante o período obscurantista por que o país passou. “Preocupamo-nos também com a questão da Desinformação Científica, sobre a qual estamos publicando um documento que alerta sobre as consequências nefastas de divulgar mentiras sobre vacinas, sobre o clima e sobre a evolução humana. Os desastres que têm assolado o Brasil nos últimos tempos nos dão razão”, observou.

Enfim, Oliven afirmou que a Academia é suprapartidária: “o partido da ABC é a ciência”. E defendeu o fato de a ABC ser considerada “cautelosa”, explicando que ela só se pronuncia quando tem uma posição embasada em pesquisas e evidências. “É este seu papel. Ela é uma instituição séria. Séria, mas não sisuda”, brincou.

Palavras da presidente

A presidente da ABC, Helena Nader, agradeceu a todos os parceiros ali representados que possibilitam a realização das atividades da ABC, especialmente aquela cerimônia: CNPq, Marinha do Brasil, Capes, Faperj e Finep. Ela concordou com Galvão sobre haver muito a celebrar esse ano, especialmente a consolidação da nossa jovem democracia, que remonta apenas a 1986.

Helena considerou motivo de celebração a volta do Brasil à arena internacional, focada especialmente na sustentabilidade ambiental e social. Em 2024, nosso país está sediando a reunião do G20, grupo de países que concentra 80% da economia mundial. O tema de debate escolhido foi “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”. “Queremos que isso seja alcançado com uma transição ambiental justa e inclusiva”, apontou a presidente.

No âmbito do G20, a organização do Science 20 (S20) pela Academia foi um dos marcos do ano. “Nós escolhemos como tema ‘Ciência Para a Transformação Global’ e definimos cinco forças-tarefa”, explicou Helena, relacionando-as: Inteligência Artificial, Bioeconomia, Processo de Transição Energética, Desafios da Saúde, e Justiça Social. “Nada disso se resolve da noite para o dia, são processos de transição, como a energética. Nosso documento final será discutido, dialogado, e em torno do dia 20 de julho esperamos que seja assinado por todos os presidentes das Academias e das agências internacionais envolvidas.”

Sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, Helena Nader reiterou que a política precisa conversar com a ciência. “O ponto de não retorno climático está próximo, de fato, mas parte do desastre poderia ter sido prevenido com ciência. Nosso Código Florestal não está sendo cumprido. Cabe a todos nós aqui, como membros da sociedade civil, cobrar”.

Para os novos membros, Helena Nader deu um aviso: “Podem arregaçar as mangas, vocês serão instados a trabalhar.” Apresentou os Grupos de Trabalho em atividade, aos quais os membros que estão chegando podem se juntar. Ela pediu ainda a colaboração ativa de todos para levar aos Três Poderes, nos três diferentes níveis (Federal, Estadual e Municipal), a voz da ciência.

“Precisamos fazer a política ouvir a ciência, para o estabelecimento de políticas públicas que ponham em prática as recomendações da ciência. Aprendemos que apenas nossa união como sociedade é que faz repercutir a voz da ciência. Juntos, somos mais fortes para construir uma sociedade inclusiva, social e ambientalmente justa, um Brasil soberano que tenha a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação como alicerces.”

Encerramento

O final da cerimônia foi marcado pelas palavras do secretário executivo do MCTI, Luís Fernandes, representando a ministra de CT&I, Luciana Santos. Ele relatou que foi instituído um programa emergencial custeado pelo FNDCT para recuperar o sistema estadual de ciência e tecnologia do Rio Grande do Sul, em parceria com o governo local.

“Estamos aqui para celebrar a ciência, mas não podemos esquecer das ameaças tão recentes ao nosso sistema de CT&I e da resistência incisiva e contínua da comunidade científica, por meio das instituições aqui representadas”, recordou. Aos presentes, Fernandes reiterou: “é necessário um compromisso permanente em fazer a defesa da ciência e da democracia.”

A Sessão Solene ABC/CNPq 2024 foi encerrada com um coquetel no Salão Nobre da Escola Naval, oferecido pela Fundação Conrado Wessel.

Jornal da Ciência, com informações da ABC