Duas semanas depois da carta de protesto contra o que ainda era uma ideia, cientistas e acadêmicos foram ao Senado Federal reafirmar o repúdio à decisão do governo interino de unificar os ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação e de Comunicações.
“A comunidade acadêmica não tem nada contra o ministro Gilberto Kassab, uma pessoa capaz, um politico importante que pode trazer força política. O que questionamos é por que Comunicações. Por que não Saúde? Por que não Educação? Enquanto o Brasil não entender ciência, tecnologia e inovação como uma política de Estado, vamos andar para trás”, afirmou a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader.
O diretor da Academia Brasileira de Ciências, Elíbio Rech Filho, emendou assinalando que a decisão administrativa, além de combinar atividades muito mais distintas do que supõe a fusão, é uma sinalização “evidente redução de importância da ciência e tecnologia” na nova configuração política.
“A atual fusão dos ministérios já causa sérios danos à imagem do Brasil e prejudica a pesquisa e a formação dos futuros pesquisadores, sinalizando a redução da importância da pesquisa no país. Vemos risco de descontinuidade nos processos, operacionalização e intensificação dos investimentos, o que implicará em atraso perigoso para o país, muitas vezes irrecuperável”, afirmou.
Retrocesso
O secretário executivo da Andifes, que representa os reitores das universidades federais, Gustavo Balduíno, ressaltou que a medida é uma resposta simbólica de conveniência política, mas mesmo seu objetivo nominal – a redução de custos – é questionável.
“Cancelar três secretarias vai resolver o problema do país? Qual é a racionalidade administrativa da fusão? Certamente nenhum de nós acha que vai aumentar a eficiência. É um retrocesso. Se reduzisse 0,5% da taxa de juros seria mais eficiente para reduzir o déficit público”, afirmou.
A audiência na CCT do Senado contou com ampla presença de representantes de várias instituições científicas e educacionais, que lotaram o plenário da comissão, todos com críticas à medida adotada pelo presidente interino Michel Temer. Entre os senadores presentes, idem.
“Algo conseguimos nessa audiência, a unanimidade diante do equívoco do governo interino de reunir os dois ministérios. Temos que definir como agir para impedir que isso de fato continue”, resumiu o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).