Vacina contra leishmaniose visceral é apresentada em palestra

A leishmaniose visceral é uma doença grave em expansão no Brasil. É considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das seis principais doenças parasitárias e com uma incidência anual de 500 mil novos casos em todo o mundo. Para ajudar a mudar esse cenário, a bióloga Ana Paula Salles Moura Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou o trabalho, realizado junto com o professor Ricardo Tostes Gazzinelli, que resultou na vacina contra a leishmaniose visceral canina, a Leish-Tec®.
Trabalho foi vencedor do Prêmio Péter Murányi 2014, na categoria Saúde.
A leishmaniose visceral é uma doença grave em expansão no Brasil. É considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das seis principais doenças parasitárias e com uma incidência anual de 500 mil novos casos em todo o mundo. Para ajudar a mudar esse cenário, a bióloga Ana Paula Salles Moura Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou o trabalho, realizado junto com o professor Ricardo Tostes Gazzinelli, que resultou na vacina contra a leishmaniose visceral canina, a Leish-Tec®.
Na palestra realizada nesta sexta-feira, 25, na Universidade Federal do Acre (Ufac), durante a 66ª Reunião Anual da SBPC, a professora explicou todas as etapas da pesquisa que resultou na vacina, comercializada no Brasil pelo Laboratório Hertape desde 2008. “Esse é um exemplo raro de parceria de sucesso entre uma instituição pública, a UFMG, e uma empresa nacional, fazendo o produto chegar ao mercado rapidamente”, ressaltou a bióloga.
A leishmaniose visceral é transmitida ao homem e ao cão através da picada de um inseto popularmente conhecido como mosquito-palha (flebotomíneo). Ao picar o hospedeiro, o mosquito se infecta e depois pode transmitir a doença quando picar novamente, o homem ou o cão, depositando os parasitas que vão se multiplicar e migrar para alguns órgãos, como fígado e baço. “O cão é considerado o principal reservatório urbano da doença. No Brasil, hoje, as autoridades de saúde pública orientam que os animais contaminados sejam sacrificados, daí a importância da vacina, que mostrou resultados animadores”, declarou Ana Paula. 
Durante a pesquisa foram realizados testes com cães, considerando exames parasitológicos (a detecção do parasita nos cães, após a vacinação), e 96% dos animais vacinados foram protegidos. “A eficácia da vacina foi demonstrada com a ajuda do exame parasitológico. É importante que a vacina se encaixe no sistema de controle da doença”, disse a pesquisadora.
Antes praticamente limitada à região Nordeste, a leishmaniose visceral se espalhou por todo o território nacional. Na região Norte, o número de óbitos em humanos causados pela doença já é maior que a dengue. Entre 2000 e 2011, por exemplo, foram notificados 333 mortes na região decorrentes de leishmaniose visceral, ante 276 causadas por dengue. Os estados do Pará e do Tocantins lideraram o número de notificações: 153 e 173, respectivamente.
Próximo passo
A vacina desenvolvida pelos pesquisadores da UFMG é do tipo recombinante – aspecto que a torna a única do gênero no mundo. Este tipo de vacina representa um novo conceito de imunização, pois protege o animal com mais eficácia e segurança. Trata-se de um trabalho de engenharia genética pelo qual é extraído do vírus apenas as informações genéticas necessárias para que o organismo reconheça a doença. Essas informações são recombinadas dentro de outro vírus, completamente inofensivo, que produz o antígeno. Ao contrário das vacinas do tipo vivas-atenuadas, a recombinante apresenta baixíssimo risco de o animal ou a pessoa desenvolver a doença.
Pela inovação, os pesquisadores foram agraciados com o Prêmio Péter Murányi 2014, que contemplou com R$ 200 mil a melhor pesquisa científica em saúde. “Esse tipo de prêmio não só valoriza o pesquisador, como dá visibilidade ao trabalho de pesquisa”, disse Ana Paula.
A pesquisadora da UFMG disse que os estudos continuam com o objetivo de melhorar o que foi conseguido até agora e buscar uma vacina para humanos. “Nosso trabalho despertou o interesse da GlaxoSmithKline em iniciar os testes para uma vacina para humanos. Esperamos já em 2015 terminar a primeira fase e avançar para os testes de segurança”, afirmou.
(Edna Ferreira/Jornal da Ciência)