Conforme está descrito no portal do Teia (Territórios, Educação Integral e Cidadania), núcleo de estudos da Faculdade de Educação da UFMG, “na perspectiva de uma educação que seja integral, a educação é parte fundante de um projeto político de sociedade que tem como propósito a garantia de todo direito a aprender e a desenvolver-se como cidadão ativo. Dessa forma, a educação não pode estar apenas fechada nos muros da escola, sendo necessária uma articulação com outros espaços de formação – família, bairro, organizações sociais – criando, assim, redes de aprendizagem e territórios educativos”. O Teia é coordenado pela professora Lúcia Helena Alvarez Leite que compôs a mesa sobre educação integral na Reunião Anual da SBPC, no campus da UFMG, em Belo Horizonte.
De acordo com ela, a escola no Brasil ainda é uma redoma de vidro, sem contato com a sociedade. Isso reflete uma perspectiva colonial muito presente e que foi construída sob orientação eurocêntrica que excluía os povos indígenas e as nações africanas. Nesse paradigma, a escola tem o papel de civilizar e salvar indígenas e negros. “Nós defendemos uma escola ‘decolonial’, o que significa um projeto educacional comprometido com a liberdade”, afirmou.
Uma das características da escola colonial é ver a diversidade como causadora do fracasso escolar. O sucesso depende unicamente do esforço do indivíduo, assim como o fracasso é de responsabilidade dele. Esses dois parâmetros são medidos por avaliações externas, pela adequação ou não a currículos unificados. “A despeito de assumir um discurso universalista, de ser uma escola para todos, esse modelo é autoritário e excludente”, enfatizou Lúcia Leite. Uma escola integral recusa o universalismo e a subalternização, ao invés disso, abraça a diversidade.
Para a pesquisadora mineira é possível pensar a educação de outras formas. “Temos que pensar o indivíduo em sua integralidade, ir além das atividades puramente intelectuais”, disse. Por isso ela defende uma educação para além dos muros da escola, que inclua a comunidade vizinha, os territórios da cidade e os saberes populares.
Isso se traduz, por exemplo, em autonomia para construir os currículos escolares e as formas de avaliação, como defendeu a coordenadora do Centro de Referências em Educação Integral, Júlia Dietrich, também presente à mesa. O Centro é uma iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que tem como objetivo promover a pesquisa, o desenvolvimento, o aprimoramento e a difusão gratuita de referências e estratégias que contribuam para a formulação de políticas públicas de educação integral no Brasil. “Nosso modelo escolar é fragmentado e pobre em interações. Temos que repensar os tempos, os agentes, os espaços e os saberes da escola”, disse. Para ela, o currículo deve ser um projeto político-pedagógico, daí a necessária participação dos estudantes e professores. “A realidade da escola tem que ser construída no cotidiano das pessoas que estão na escola, ou seja, localmente”, finaliza.
Patricia Mariuzzo, para o Jornal da Ciência