“As pessoas querem, sim, vir para a universidade pública”

A 70ª Reunião Anual da SBPC se despede da Ufal após uma semana de debates e atividades culturais e científicas marcadas pela participação intensa do público: mais de 12 mil pessoas já passaram pelo evento

Ainda a todo o vapor neste sábado, com o “Dia da Família da Ciência”, a SBPC realizou na noite de ontem a cerimônia de encerramento da 70ª edição de sua Reunião Anual, sediada na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió. Durante a semana, o evento mobilizou toda a comunidade acadêmica, bem como público local. Até momento, mais de 12 mil pessoas já visitaram a Universidade para participar das atividades deste que é o maior evento científico da América Latina. “As pessoas querem, sim, vir para universidade pública”, celebrou a pró-reitora de Extensão da Ufal e coordenadora da SBPC Jovem, Joelma Albuquerque, em seu discurso na cerimônia.

O cenário geral de cortes orçamentário e crise no País não atrapalhou o sucesso desta Reunião Anual. De fato, o balanço geral do evento mostra que o contexto atual incentivou uma mobilização ainda mais intensa de toda a comunidade, para mostrar a pujança da ciência feita no Brasil e, principalmente, para debater os problemas do País e os rumos para a retomada do desenvolvimento científico e social.

Só de inscritos, esta edição teve mais de 4 mil, oriundos de 355 cidades de toda a Federação – 25 estados e Distrito Federal. Um destaque foi a participação na sessão de pôsteres, que teve uma taxa recorde de trabalhos apresentados: 95%. Normalmente as abstenções giram em torno de 10 a 12%. Além disso, a qualidade das apresentações foi bastante ressaltada pelos avaliadores e visitantes, conforme contaram os organizadores.

As atividades da programação científica, sem contar os minicursos, contabilizaram mais de 11 mil participantes. Ou seja, em média, cada sessão teve quase 100 pessoas assistindo. As conferências, em particular, tiveram uma média de público de 135 pessoas a cada apresentação. “Foi um sucesso estrondos esta Reunião”, declarou o secretário-geral da SBPC, Paulo Hoffman, ao apresentar o balanço da semana.

Os coordenadores locais das atividades da Reunião Anual também apresentaram um balanço individual das sessões SBPC Educação, SBPC Jovem, SBPC Afro e Indígena e SBPC Cultural.

Segundo contou a coordenadora da SBPC Educação e pró-reitora de graduação da Ufal, Sandra Regina Paz, mais de 2500 pessoas participaram das atividades realizadas nos campi da Ufal em Arapiraca, Delmiro Gouveia e Maceió, entre os dias 19 e 21 de julho. A SBPC Educação é uma atividade que antecede a programação geral da 70ª Reunião Anual e tem como foco discutir com professores da educação básica os problemas enfrentados em sala de aula e nas escolas. No total, foram oferecidas 100 atividades, além da apresentação de 270 trabalhos.

Sobre a SBPC Jovem, Joelma Albuquerque estima que 12 mil pessoas visitaram as atividades nesta semana. “Até quarta-feira, tínhamos 60 escolas com visitas cadastradas para trazer mais de 2,2 mil alunos”, comemorou, afirmando que isso prova a importância de realizar eventos que promovam uma maior interação entre a Universidade e a comunidade local.

Para a diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Ufal e coordenadora geral da SBPC Afro e Indígena, Lígia Ferreira, realizar este evento dentro da SBPC, nos três campi da Ufal, com 74 atividades científicas e culturais, além de um espaço infantil, foi um desafio possível apenas graças às colaborações e parcerias. “Tivemos 2800 pessoas inscritas. Isto nos dá a noção da importância de um evento como este dentro da SBPC. As comunidades indígenas, quilombolas e do movimento negro ocuparam a nossa Universidade”, afirmou.

Legado

“Os frutos desta Reunião Anual da SBPC não vão ser colhidos agora: eles vão amadurecer e se multiplicar muito pelos próximos anos”, avaliou o vice-reitor da Ufal e coordenador da comissão local da RA, José Vieira Cruz. “A Ufal foi aberta à comunidade”, ressaltou.

A reitora da Universidade, Valéria Correia acrescentou que a realização da Reunião Anual da SBPC foi um “presente” para a Ufal, especialmente neste contexto difícil por que passa o Brasil. “A gente se tornou uma vitrine para o País. O impacto deste evento é imensurável”, afirmou, destacando a ampla cobertura do evento nos meios de comunicação – a transmissão online ao vivo da cerimônia de abertura, no domingo, 22 de julho, teve mais de 20 mil visualizações. Correia também ressaltou a qualidade dos debates, dos temas levantados, que incentivaram a participação massiva dos estudantes e de toda a comunidade nas discussões. Ela também elogiou a coragem da SBPC de propor e conduzir discussões sobre a política nacional atual e a publicação, durante o evento, do “Manifesto SBPC em defesa da CT&I, da Educação, do Desenvolvimento Sustentável e da Democracia no País”. “Esse documento me emocionou. Foi uma SBPC militante em defesa da CT&I, mas principalmente em defesa da educação e das universidades”, afirmou.

Para o presidente da SBPC, essa Reunião teve um papel importante de promover na Ufal uma discussão sobre a política nacional, ao apresentar as propostas de políticas públicas e convidar presidenciáveis para debatê-las.

O “Debate com os presidenciáveis” foi um dos destaques da programação desta Reunião Anual. Com base na pesquisa Datafolha, divulgada no último mês de junho, a SBPC convidou os três pré-candidatos com maior intenção de voto. Luiz Inácio Lula da Silva foi representado pelo ex-ministro de C&T Sérgio Rezende. Jair Bolsonaro foi convidado, mas a entidade não teve resposta da equipe de campanha até o último dia de atividades do evento. Marina Silva enviou um vídeo com suas ideias para a área de CT&I e declarou que recebeu as propostas da SBPC e elas serão consideradas em seu programa de governo. Com a ausência de Bolsonaro, foram convidados Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. Ciro enviou seu vídeo com suas ideias para a área de CT&I e se dispôs a um encontro com a diretoria da SBPC. Por um problema de agenda, Alckmin não pode comparecer, mas se dispôs a um encontro com a diretoria da SBPC para discutir o setor. A equipe de Manuela D’Avila procurou a SBPC para propor um encontro futuro com a diretoria para discutir a agenda do setor.

“A nossa entidade é apartidária, mas não é apolítica. A gente espera que, com essas discussões democráticas envolvendo toda a sociedade, a gente reverta o retrocesso que estamos vivendo em vários domínios da vida social brasileira e construa um país melhor para todos”, enfatizou Moreira.

Daniela Klebis – Jornal da Ciência