Ciências sociais contribuem para o desenvolvimento do País, confirma estudo

Diagnóstico das CHSSALA traça um panorama da pesquisa nacional nessas áreas e a sua distribuição geográfica
Foto: SBPC
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O relatório final do Projeto Diagnóstico das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (CHSSALLA), a ser divulgado no início de 2020, vai derrubar alguns dos estereótipos sobre estas áreas. O principal deles é o de que tratam de temas que só interessam a elas mesmas, fechadas em suas próprias pesquisas, sem aplicabilidade ou longe dos grandes problemas do país.

“Na verdade, o que observamos foi uma diversidade muito grande de temas tratados pelos pesquisadores das CHSSALLA, relacionados diretamente, sim, com nossos grandes desafios”, afirma a economista Mayra Juruá Gomes de Oliveira, coordenadora do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), instituição responsável pela execução do projeto.

Muito além da melhoria da educação e formação dos professores, os profissionais de ciências sociais e humanas contribuem em assuntos relacionados com o desenvolvimento científico propriamente dito em áreas consideradas estratégicas ou prioritários pelas políticas de estado, como saúde, aeroespacial, água, biomas, clima e nuclear, entre outros listados na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI).

“Um exemplo típico é a aproximação das neurociências com a psicologia”, exemplifica a socióloga Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) ao CGEE e realizado sob orientação do Fórum de Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas (FHCSSA), o Projeto Diagnóstico das CHSSALLA traça um panorama da pesquisa nacional e a sua distribuição geográfica. A equipe do CGEE analisou e cruzou os dados sobre estudantes e formados em doutorados e suas pesquisas durante o período 2006-2016. Encontraram 67 mil pesquisadores que incluem docentes da Pós-Graduação mais titulados no doutorado.

Mais de 48 mil teses foram produzidas nestes dez anos por aqueles estudantes e docentes como resultado de programas, incentivos, políticas públicas, fomentadoras estaduais e regionais. O cruzamento de informações colhidas nos currículos permitiu identificar as áreas de interseção entre as ciências sociais e as demais.

“Por exemplo, temos um certo número de teses produzidas sobre violência na sociologia, mas também na educação, antropologia, nas letras”, destaca o presidente do FHCSSA, Mário Cezar Silva Leite. Professor Titular do Departamento de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso, Leite acredita que os dados constituem argumentos suficientes para contestar os critérios de cortes estipulados pelo governo sobre o orçamento das bolsas de estudos e programas de fomento científico.

Alegando falta de verbas, o governo atual decidiu cortar as bolsas de estudo da Capes e do CNPq em cursos classificados como 3 e 4, preservando os 5, 6 e 7. “Assim vamos acabar com a produção não dos grandes, do que já está assentada, consolidada, mas com os programas 3 e 4 que estão na grande maioria os espalhados pelo país”. Essa também é a preocupação da Fernanda Sobral, que é Colaboradora Sênior do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB).

O Projeto CHSSALLA revelou um início de descentralização na formação de doutores pelo país, com boa parte dos estudantes de novos cursos de doutorado em outras regiões – notadamente o Nordeste – permanecendo nos locais onde se formaram, ao invés de migrar para o Sudeste como foi o processo histórico até então. Mas o corte das bolsas dos cursos 3 e 4 pode interromper essa tendência ainda incipiente.

“O fortalecimento da ciência em outras regiões que não apenas o Sudeste é super importante para o desenvolvimento do país”, sentencia Sobral. Ela destaca ainda a contribuição das CHSSALLA para o subsídio a políticas públicas. “Outra coisa que se fala muito na política atual é que as ciências humanas não dão retorno imediato, econômico ou em produtos”, diz a vice-presidente da SBPC. “O que percebemos é que elas podem não estar dando resultado em dólar, mas estão retornando em termos de subsídios para uma série de políticas públicas”.

Os dados utilizados no estudo foram extraídos de bases oficiais do governo federal como as plataformas Sucupira e Lattes, e desenhado em duas etapas. A primeira prevê um panorama descritivo da pesquisa realizada nas grandes áreas, buscando traçar os perfis dos acadêmicos, das pesquisas e das fontes de financiamento. Na segunda está sendo realizada uma análise dos dados levantados da produção científica para a produção do relatório sobre a contribuição para os objetivos da Estratégia Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI). Nos dias 23 e 24 de setembro foram apresentados os principais resultados do diagnóstico na sede da SBPC em São Paulo, para as sociedades científicas que compõem o Fórum.

Janes Rocha – Jornal da Ciência