Evento na ABC discute reforma no ensino superior

Para assegurar a estabilidade do desenvolvimento econômico, o país precisa produzir invenção e, para isso, deve reestruturar o atual modelo de ensino superior a fim de produzir capital humano mais criativo para agregar valor aos produtos nacionais.
Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior que acontece na próxima semana no Rio de Janeiro irá debater e apresentar propostas para o setor
Para assegurar a estabilidade do desenvolvimento econômico, o país precisa produzir invenção e, para isso, deve reestruturar o atual modelo de ensino superior a fim de produzir capital humano mais criativo para agregar valor aos produtos nacionais.  
É com essa visão que o diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz  Davidovich, antecipa alguns pontos a serem discutidos no  Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, a se realizar na sede da ABC, no Rio de Janeiro, na próxima semana, de 22 a 24 de setembro. 
Conforme entende Davidovich, o modelo de ensino superior do país – vigente desde a reforma universitária de 1968 – está  ultrapassado e dificilmente conseguirá atender às novas demandas mundiais, em que o conhecimento passa a ser “a ferramenta poderosíssima” para o desenvolvimento econômico. 
“Quando se vê países mais desenvolvidos faturando em razão do desenvolvimento de produtos de alta tecnologia, percebe-se que esse é um novo mundo que deve ficar cada vez mais acirrado”, observou. 
Dessa forma, o diretor da ABC alertou que o Brasil só conseguirá agregar valor aos produtos internos, competindo em pé de igualdade no cenário internacional, por intermédio do conhecimento. 
“Não conseguiremos obter uma posição internacional importante enquanto não conseguirmos agregar valor aos nossos produtos”, disse Davidovich, ele também físico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mencionando os produtos que compõem a pauta de exportação do Brasil, basicamente matérias primas (minério e produtos agrícolas, como soja e milho). 
“O Brasil não pode se acomodar em ser um exportador de commodities, de matérias primas, em que os preços são altamente sensíveis a variações de políticas mundiais”, analisou. 
Na visão de Davidovich, os países detentores de economias estáveis, que conseguem se descolar de outros países em termos de desenvolvimento, são aqueles que conseguem agregar valor a seus produtos, investindo em alta tecnologia. 
Investimento em capital humano criativo 
Para conquistar novos patamares de desenvolvimento, o diretor da ABC recomenda investimento em capital humano qualificado e no aumento do nível profissional-técnico dos estudantes do Brasil. 
“Precisamos formar alunos não apenas com grande acúmulo de conhecimento, mas principalmente estudantes criativos que tenham capacidade de inventar” disse. E acrescentou: “o país precisa de pessoas criativas e, para isso, é muito importante reformulamos nosso sistema de ensino superior”.
Embora algumas universidades  brasileiras figurem na lista de destaque internacional, o Davidovich demonstra pessimismo em relação ao sistema nacional de ensino superior. “Nossas universidades, em todas as avaliações internacionais, mesmo as melhores do Brasil, não estão em posição confortável”, atestou. 
Diante do atual modelo de ensino superior, o diretor da ABC disse que o Brasil fica em desvantagem em relação a outros países. “Em desvantagens não apenas aos chamados países de primeiro mundo, mas também em relação a países emergentes.” 
Ele cita o exemplo da China onde vem sendo realizada uma reestruturação robusta do ensino superior. “Estão aumentando a flexibilização dos cursos e diversificando as instituições. E nós aqui com uma estrutura que data basicamente da reforma universitária de 1968”, atestou. 
Caminhos a trilhar 
Com as discussões no Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, o físico da UFRJ acredita ser possível chegar a uma conclusão sobre o caminho que o Brasil precisa percorrer para que as nossas instituições de ensino e pesquisa alcancem níveis de qualidade comparáveis às melhores universidades mundiais. Será possível também identificar em quais modelos de educação superior o Brasil poderia se basear e quais são os desafios para a internacionalização das instituições de ensino do país, dentre outros pontos.
Davidovich acredita que o evento será um momento para se fazer grande reflexão, ao reunir governo, empresas e representantes de órgãos nacionais e internacionais. “Acredito que deverá render bons resultados. Poderemos comparar experiências e refletir um pouco sobre o panorama da educação superior do Brasil, porque do jeito que está o país não irá para frente.”
Veja aqui a programação preliminar do evento
Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência