Os 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

Blog Ciência & Matemática, do jornal O Globo, publica artigo assinado pelo presidente da SBPC

Foi no pós-II Guerra Mundial, quando todas as nações do planeta tomavam consciência da necessidade imprescindível de incentivar a ciência para promover o desenvolvimento social e econômico, que Maurício Rocha e Silva, José Reis, Paulo Sawaya e mais três centenas de pesquisadores brasileiros fundaram a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 8 de julho de 1948.

A SBPC foi criada também com a preocupação de estimular a função social da ciência, como lembrou José Reis: “Quando a fundamos, Maurício Rocha e Silva, Paulo Sawaya, Gastão Rosenfeld e eu discutimos muito essa questão e decidimos incluir entre as funções da SBPC a necessidade de criar ou difundir essa consciência social entre os cientistas brasileiros”. Aberta à participação de pesquisadores, professores, estudantes e de todos as pessoas “amigas da ciência”, a entidade foi inspirada pelas similares existentes no Reino Unido – a British Association for the Advancement of Science (hoje, British Science Association – BSA ), criada em 1831 –, e nos EUA – a American Association for the Advancement of Science (AAAS), fundada em 1848.

Desde sua criação, a SBPC tem exercido um importante papel na expansão e no aperfeiçoamento do sistema nacional de ciência e tecnologia, bem como na difusão e popularização da ciência no País. A entidade tem atuado em prol do desenvolvimento sustentável do País em todas as suas dimensões – econômica, social e ambiental – e em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis. Na ditadura, por exemplo, a entidade cumpriu um papel fundamental em defesa da democracia e manifestando-se contra perseguições a professores, pesquisadores e estudantes e as interferências nos sistemas educacional e científico, que pudessem ferir a autonomia das universidades e a liberdade de pensamento.

Com a redemocratização, em 1985, o Brasil ganhou outros ares, mas muitas entidades – entre elas a SBPC – ainda lutam para construir, ampliar e consolidar a democracia, e não permitir que regimes de exceção, censura e cerceamento às liberdades voltem a se instalar no País. A SBPC certamente sempre estará nesta luta, pois a educação e a ciência só podem realizar adequadamente suas funções sociais em um ambiente social e político de plenas liberdades democráticas.

A SBPC contribuiu fortemente para o processo de institucionalização da ciência no Brasil, que emergiu concomitantemente, e para a formulação de uma política nacional de ciência, tecnologia e inovação. Na Constituinte de 1986, teve atuação destacada na afirmação da responsabilidade do Estado em promover o desenvolvimento científico e tecnológico do País, estabelecida no Capítulo IV da Constituição, em defesa do território nacional e da proteção ao meio ambiente, em prol da cidadania, dos direitos das populações indígenas e do direito de todos à saúde e à educação de qualidade.

Sediada em São Paulo, a SBPC está presente em todo o País por meio de suas Secretarias Regionais e da realização de suas famosas Reunião Anuais e Regionais, que já ocorreram em quase todos os estados brasileiros. Conta com 142 sociedades científicas afiliadas e mais de 5 mil sócios ativos, entre pesquisadores, docentes, estudantes e cidadãos brasileiros que apoiam e legitimam sua luta em defesa da educação e do avanço científico e tecnológico do Brasil. Oito de julho, dia de fundação da entidade, foi tomado pelo Congresso Nacional como data de referência estabelecer o Dia Nacional da Ciência (Lei 10221/2001) e Dia Nacional do Pesquisador (Lei Nº 11.807/2008). Em 2019, a Reunião Anual da SBPC ocorrerá em Campo Grande (MS), na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, entre 21 e 27 de julho, tendo como tema central: “Ciência e inovação nas fronteiras da bioeconomia, da diversidade e do desenvolvimento social”.

A SBPC celebrou seus 70 anos, em 2018, em um momento difícil para o País e para as áreas de CT&I e educação, em particular. Coerente com a sua tradição, neste ano de comemoração, a entidade continuou a atuar de forma persistente em defesa da democracia e de políticas públicas adequadas para a educação e para a ciência, tecnologia e inovação, realizando uma série de eventos e ações que abordaram os desafios atuais do País. E continuará a fazê-lo nos próximos anos. Afinal, somos uma sociedade cuja marca histórica em sua trajetória é a luta pela educação, pela ciência e pelo futuro do Brasil, com melhoria da qualidade de vida de sua população e com desenvolvimento sustentável.

Blog Ciência & Matemática/O Globo