SBPC lamenta profundamente morte do geneticista e professor Warwick Estevam Kerr

Kerr foi um dos maiores especialistas em genética de abelhas do mundo, professor de várias universidades brasileiras, presidente da SBPC e diretor científico da Fapesp e do Inpa
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta profundamente a morte de seu presidente de honra, o renomado geneticista Warwick Estevam Kerr, neste sábado (15). Kerr foi presidente da SBPC de 1969 até 1973. A SBPC expressa seus sentimentos à sua família. Ele será velado a partir das 17h deste sábado e cremado amanhã (16), às 10h, no Memorial Campos Elísios, em Ribeirão Preto (SP).

Kerr é considerado um dos maiores especialistas em abelhas do mundo. Dedicou sua vida a estudar a genética das abelhas, especialmente da espécie Apis Mellifera Scutella.Desenvolveu a abelha africanizada, uma espécie hibrida que é menos agressiva que as outras, mais produtiva e resistente à varoa (doença causada por ácaros que acomete as colmeias). Ele ficou conhecido internacionalmente em 1950, quando realizou um trabalho inédito sobre a determinação de castas em abelhas do gênero Mellipona (sem ferrão).

O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, ressaltou que Kerr foi um grande cientista,  humanista e um grande educador. “Ele teve uma contribuição muito importante para a ciência brasileira e mundial, para a genética, no estudo das abelhas e na formação de pessoas. Ele foi um batalhador permanente. Durante décadas, lutou pela ciência e pela educação brasileiras”.

A diretora da SBPC, Ana Maria Bonetti, lamentou profundamente a morte de Kerr e o exaltou, dizendo que ele era, além de um grande ser humano, um dos maiores cientistas do Brasil. Segundo ela, por onde ele passava, contribuía com seu ensinamentos. “Por onde ele passou, ele deixava uma mensagem de qualidade para que a vida e a educação das pessoas fossem melhores. Ele, por exemplo, recebia alunos de ensino básico até grandes pesquisadores de renome internacional com a mesma disposição. Ele foi, e deve continuar sendo, um grande exemplo para quem está na academia, pois para ele  a ciência, a inovação e a educação são determinantes para que o Brasil se torne cada vez melhor”.

Bonetti lembrou ainda que Kerr recebeu muitas honrarias, distinções e títulos em reconhecimento pelo seu intenso trabalho, dos quais destacou que em 1990 tornou-se membro estrangeiro da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos, sendo o primeiro brasileiro a ser convidado para ingressar nessa na instituição. Em 1994, foi admitido pelo presidente da República à Ordem Nacional do Mérito Científico no Grau de Grão Cruz. Em 1999, figurou entre os 30 cientistas do Século XX, ao lado de Santos Dumont, Einstein, Sabin, Osvaldo Cruz, selecionados entre os maiores cientistas de todo o mundo.

“A morte do Kerr já era esperada, pela idade e pela doença, mas isso não a torna menos triste”, lamentou Helena Nader, presidente de honra da SBPC.  Nader também exaltou o trabalho do pesquisador e disse que ele tinha um conceito de cidadania e pátria que poucos pesquisadores têm. “Ele podia ter ficado fazendo a ciência dele, mas ele não se contentou. E ele saiu desbravando o Brasil. Ele é responsável pelo desenvolvimento de diversas instituições, inclusive no Norte do Brasil, em uma época em que as pessoas não acreditavam no potencial da região, nem que era possível fazer ciência ali. Ele contribuiu para criação do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), na década de 70, e da Universidade Estadual do Maranhão. Isso sem falar nas outras instituições ”, disse.

“Eu espero que a vida do professor Kerr e seus ensinamentos sirvam de exemplo para os jovens que muitas vezes pensam que não têm o que fazer nesse país. Ele mostrou que vale a pena lutar”, finalizou Nader.

Para o presidente de honra, Ennio Candotti, a morte de Kerr representa uma grande tristeza para a comunidade cientifica no geral. “É um dia de luto e tristeza profunda. Inclusive, aqui na Amazônia, as abelhas também estão de luto. Eu acho que podíamos determinar o dia de hoje, 15 de setembro, ‘O dia das abelhas’, em sua homenagem”, disse.

Kerr foi presidente da SBPC, de 1969 até 1973, e deste período Candotti lembra que ele foi um grande mestre na entidade, inclusive, no período marcado pelas inúmeras crises entre o governo militar e a comunidade científica e universitária. “Ele foi um grande mestre, um exemplo de resistência no período da ditadura. Tenho certeza que crescemos com ele. Ele sempre manteve os princípios de ética e moral elevados e, por isso, a sua morte deixa um grande silêncio para todos nós”.

Em depoimento publicado no Facebook, o presidente de honra da SBPC, Sérgio Mascarenhas, também lamentou a morte do pesquisaddor Kerr. “Meu querido Kerr faleceu materialmente. Mas viverá para sempre por seus legados como ser humano e cientista para sempre. Meu coração chora por vê-lo partir, mas se consola no grande amor de nossa amizade de mais de meio século! A ciência mundial o honrará sempre, e o Brasil, nessa terrível crise, perde um de seus maiores líderes”.

Biografia

Warwick Estevam Kerr, nasceu em 9 de setembro de 1922 em Santana do Parnaíba, em São Paulo, e era formado em engenharia agronômica pela Escola Superior Luiz de Queiroz. Depois de formado em Agronomia e concluído seu doutorado em Genética, foi nomeado professor da Escola Luiz de Queiroz e tornou-se chefe do Departamento de Genética, o qual esteve à frente por quatro meses, tendo o seu laboratório reconhecido como um dos melhores de Piracicaba.

Iniciou sua carreira numa época em que houve grande desenvolvimento dos estudos na área de genética em São Paulo, graças à presença de eméritos cientistas que estavam dando início às pesquisas neste campo na Universidade de São Paulo (USP).

Em 1955 foi nomeado chefe do Departamento de Biologia em Rio Claro, São Paulo, dez anos depois teve a oportunidade de assumir a chefia do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina da USP- Ribeirão Preto, onde se tornou professor titular em 1971.

De 1975 a 1979 trabalhou no Inpa. Ao assumir a função, o instituto possuía apenas um mestre e um doutor. Ao término do seu período, o instituto contava com 50 mestres e 60 doutores.

Após sua saída do Inpa, foi para a Universidade Estadual do Maranhão, onde criou o Departamento de Biologia e foi reitor até o ano 1988.

Depois de terminar suas atividades no Maranhão, Kerr foi convidado a continuar suas pesquisas na Universidade Federal de Uberlândia (MG).

 

As  sociedades científicas abaixo endossaram a nota de pesar  da SBPC divulgada no sábado.

Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (ABECO)

Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS)

Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBF)

Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)

Sociedade Brasileira de Parasitologia (SBP)

Sociedade Brasileira de Química (SBQ)

Sociedade Brasileira de Toxinologia (SBTx)

 

Vivian Costa – Jornal da Ciência