Adeus a um grande amigo

Conheci o Darcy em meados de 1985, quando comecei a trabalhar como estagiária na revista Ciência Hoje, então capitaneada pelo físico Ennio Candotti. Junto com Ennio, Roberto Lent e Alberto Passos Guimarães, Darcy havia fundado a revista em julho de 1982, a principal iniciativa de divulgação científica do país na época. Como estagiária de jornalismo, minha função era selecionar e resumir as principais notícias de ciência publicadas na imprensa, o que resultaria, alguns meses depois, na criação do Informe semanal – hoje conhecido como Jornal da Ciência.
ICH se despede de Darcy Fontoura de Almeida. O geneticista, biofísico e um dos fundadores da revista Ciência Hoje foi vítima de pneumonia dupla aos 83 anos.
Conheci o Darcy em meados de 1985, quando comecei a trabalhar como estagiária na revista Ciência Hoje, então capitaneada pelo físico Ennio Candotti. Junto com Ennio, Roberto Lent e Alberto Passos Guimarães, Darcy havia fundado a revista em julho de 1982, a principal iniciativa de divulgação científica do país na época. Como estagiária de jornalismo, minha função era selecionar e resumir as principais notícias de ciência publicadas na imprensa, o que resultaria, alguns meses depois, na criação do Informe semanal – hoje conhecido como Jornal da Ciência.
Rapidamente o Informe cresceu, se diversificou e se transformou em um dos mais importantes instrumentos de pressão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e de política científica do país. Darcy e Ennio se revezavam para escrever os editoriais do Informe, sempre combativos em defesa do desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Eram tempos de formação das primeiras fundações estaduais de amparo à pesquisa.
Quase todos os dias, no fim da tarde, Darcy saía do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e aparecia na redação da CH para corrigir as provas do Informe ou da revista antes de entrarem em gráfica. Exímio revisor, ele conseguia como ninguém descobrir os erros tipográficos que, como dizia Monteiro Lobato, se escondem e se fazem positivamente invisíveis, mas, uma vez impressos, “se tornam visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas”.
Era uma presença alegre, afável, carinhosa. Era também brincalhão: gostava de passar em todas as salas para cumprimentar cada um. Mas era seríssimo no trabalho. Quando se sentava à máquina para escrever o editorial, ou com as provas para revisar, ninguém ousava interrompê-lo. Nas reuniões da SBPC, estava sempre lá, fossem no Sul, Norte ou Nordeste.
Fui reencontrar o Darcy em 1997, após cinco anos afastada da CH. Mas dessa vez ele deixou a diretoria meses depois. Já aposentado, trabalhava nas memórias de Carlos Chagas Filho, seu grande mentor intelectual.
Muito tempo depois, tive oportunidade de escrever seu perfil com meu colega, Roberto Barros de Carvalho, para a CH. Fomos muito bem recebidos em seu apartamento da Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, por ele e sua mulher, a jornalista Suely Spiguel. Descobri então um Darcy emotivo, de origem humilde, que teve uma infância sofrida, com dificuldades econômicas, mas sempre dedicado aos estudos. Torcedor do Fluminense, chegou a trabalhar como taquígrafo e participar de programas de auditório para ganhar a vida.
A universidade abriu um mundo novo para o Darcy. Foi lá que ele encontrou sua vocação de pesquisador e, mais tarde, de divulgador da ciência.
Hoje, às 3h, vítima de uma pneumonia dupla e internado há 10 dias no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, Darcy nos deixou aos 83 anos. Uma pessoa elegante, altiva e essencialmente simples.