A arte e a ciência juntas no combate ao obscurantismo

No segundo dia do ciclo de outubro da 72ª Reunião Anual da SBPC, especialistas debateram saídas para o fomento à cultura brasileira diante dos ataques do governo federal

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Ao contrário do que se pensa, o governo Jair Bolsonaro tem uma política cultural. Porém é uma política de inviabilização do setor que, diante desse cenário, precisa buscar alternativas. Esta foi a essência do debate realizado nesta terça-feira (6/10) dentro do painel “A situação atual das políticas culturais no Brasil”, no segundo dia da programação da 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de outubro.

Apresentado pelo presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, e coordenado pelo ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, o painel contou com a participação do cineasta Sílvio Tendler, da professora e crítica literária Flora Sussekind e o ex-secretário da Cultura da cidade de São Paulo, Alê Youssef.

Documentarista cuja obra resgatou grandes personagens da história brasileira como JK e Jango, Glauber Rocha e Milton Santos, Silvio Tendler destacou a importância da aliança entre a arte e ciência e tecnologia que, para ele, são aliados na resistência ao projeto de desmonte promovido pelo governo. “Estamos juntos, na mesma canoa, remando com todas as forças para evitar o naufrágio e o desmembramento de nosso país”, afirmou Tendler e concluiu: “Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo.”

Pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Flora Sussekind fez uma análise retrospectiva das ações do governo Bolsonaro na área da cultura. Para ela, embora pareça que a transformação do ministério em secretaria e a indicação de figuras que defendem nazismo, ditadura e censura para o comando da pasta, demonstram que há, sim, uma estratégia por trás.

“Há uma política cultural do governo Bolsonaro e é necessário dialogar com ela”, disse Sussekind. Para ela, essa política consiste de medidas que têm por objetivo tornar irrelevantes os órgãos públicos dedicados à cultura, até o ponto em que ninguém espere nada mais deles. “A irrelevância é de tal ordem que não necessita nem extinguir porque a extinção se dá com o próprio não-funcionamento”.

Filósofo e gestor cultural, Alê Youssef concordou com Tendler e Sussekind: “A cultura está sob ataque no Brasil e como disse a Flora, existe, sim, uma política de enfraquecimento de tudo o que a cultura pode representar, especialmente de diversidade.”

Sua exposição partiu para uma análise prospectiva sobre o que fazer diante do cenário atual. Para ele, o desafio passa por uma articulação de instituições, movimentos culturais e também pelo potencial de municípios e estados que possam dialogar minimamente e ofereçam alternativas de fomento para dar continuidade às atividades culturais. “Nossa resistência tem que ser proativa”, declarou.

Juca Ferreira reiterou o ataque à cultura com a sistemática destruição de instituições como o Iphan e a Casa de Rui Barbosa como características da política cultural do governo Bolsonaro. “Estávamos acostumados com o descaso à cultura, mas a extrema direita tem uma visão formulada e clara de destruição e substituição da cultura por algo artificial, uma construção heroica e valores como os de sustentação do nazismo e fascismo”, definiu Ferreira.

Assista ao painel “A situação atual das políticas culturais no Brasil” na íntegra pelo canal da SBPC no Youtube.

Jornal da Ciência