A relevância da Ciência na COP28

“Há mais de 50 anos, a Ciência alertou os governos e a sociedade dos riscos que a mudança climática teria para nosso planeta. Agora, a Ciência busca métodos para sairmos da encrenca que estamos com a bagunça no clima”, comenta o vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo, que está em Dubai participando da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
WhatsApp Image 2023-12-06 at 12.24.40
Painel da WMO/IPCC sobre Science for Climate Action discutindo aprimoramentos nos métodos de reportar inventários de emissões de gases de efeito estufa

Com tanta política sendo jogada na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), a pergunta sobre a relevância da Ciência nesta edição é muito atual. Vimos o presidente da COP (que preside uma companhia petrolífera) falar que não existia Ciência colocando a necessidade de eliminar combustíveis fósseis do planeta. Negacionismo científico a todo vapor, para beneficiar as companhias de petróleo. Rapidamente, vários debates mostraram que SIM, a Ciência exige mudanças profundas no uso de energia no planeta, e inclusive a eliminação do petróleo.

A Ciência está também presente na importante questão dos chamados “tipping points”, ou pontos de não retorno climático. Muitas das mudanças que já estamos fazendo no clima do planeta não têm volta. São irreversíveis. Mas onde exatamente estão os tipping points? E onde está o tipping point da Amazônia? Está quando atingirmos 40% do desmatamento da floresta? Ou será que está quando atingirmos 3 graus de aumento de temperatura global? E quanto ao derretimento das geleiras da Groenlândia ou da Antártica? Este importante tema foi palco de várias apresentações na COP28, e a Ciência está fazendo progressos notáveis nesta área.

Outro ponto importante foi a discussão das bases científicas dos inventários de emissões que cada nação é obrigada a reportar à Convenção Climática. A diversidade de processos que levam a emissões de gases de efeito estufa, e a necessidade de cada país de reportar valores que lhes beneficiem em termos de emissões fazem deste tema um problema enorme. Como quantificar as emissões de cada país e processo de maneira justa e a mais precisa possível? Comparar emissões de CO2, CH4, N2O entre si e de cada país é uma tarefa hercúlea e o IPCC ajuda desenhando softwares de suporte que podem ser usados pelos países para submeteram seus relatórios à UNFCC.

Hoje, na COP28, os negociadores climáticos brasileiros fizeram uma reunião com toda a delegação brasileira. O embaixador André Corrêa do Lago (secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores), com Ana Toni (secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente), João Paulo Capobianco (secretário-executivo do MMA) e outros que estão participando da negociação discutiram seus pontos para dar transparência às posições brasileiras na Conferência. Em particular, os negociadores foram questionados sobre emissões da agricultura, desmatamento, resíduos sólidos etc. Capobianco deu uma resposta brilhante: que o governo brasileiro nas negociações foca na redução de emissões do petróleo, já que é responsável por 83% das emissões. Os demais setores na estratégia política têm importância relativa menor, mas que têm também que ser levados em conta. Mas não se pode esquecer das emissões do petróleo. Nota 10 para Capobianco.

Há mais de 50 anos, a Ciência alertou os governos e a sociedade dos riscos que a mudança climática teria para nosso planeta. Agora, a Ciência busca métodos para sairmos da encrenca que estamos com a bagunça no clima. A Ciência nunca foi tão importante para ajudar a humanidade.

Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC, para o Jornal da Ciência*

*O físico Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC e professor titular da USP, reporta ao Jornal da Ciência, ao longo desta semana, os destaques da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, que reúne 197 países entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes