Tags:

Universidades debatem desafios de gestão na ABC

Em meio a uma das maiores crises na mais importante universidade do País, o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antonio Zago participou nesta segunda feira, dia 22/9, do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro. No debate sobre autonomia, governança, financiamento e avaliação na universidade ele desabafou: “Crise é um período não só de prejuízo, mas também de oportunidades”.
Representantes da USP, UFRJ e UERJ apresentam suas experiências
Em meio a uma das maiores crises na mais importante universidade do País, o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antonio Zago participou nesta segunda feira, dia 22/9, do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro. No debate sobre autonomia, governança, financiamento e avaliação na universidade ele desabafou: “Crise é um período não só de prejuízo, mas também de oportunidades”.
De acordo com Zago, há um conflito na universidade, pois enquanto seus membros são liberais e progressistas quanto aos estímulos externos, as universidades são conservadoras quando se trata de seus próprios negócios. “O mundo está mudando, mas e as universidades? Não conseguiremos avançar enquanto não mudarmos a maneira como os professores são formados”, alertou.
No quesito governança, Zago esclareceu que o reitor e vice-reitor são escolhidos a partir de uma lista tríplice encaminhada ao governador. “O processo envolve um colégio eleitoral com membros do Conselho Universitário, dos Conselhos Centrais (Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa e Cultura e Extensão Universitária) e das Congregações das Unidades e dos Conselhos Deliberativos de Museus e Institutos Especializados. Infelizmente a representação da comunidade é extremamente pequena”, disse.
Com relação aos recursos que dão vida à universidade, o reitor da USP relatou que 78% são transferidos do governo do Estado de São Paulo, mas alertou que essa operação não é submetida a nenhuma avaliação da sociedade. “Não há controle externo sobre o planejamento da universidade, nem um link entre os planos e o orçamento”, revelou. Outra fraqueza apontada por Zago diz respeito à segmentação departamental da universidade brasileira. “A meu ver, ao longo dos anos isso passou a ser lesivo às universidades”, opinou.
Futuro da USP depende de acadêmicos
A USP vem trabalhando com pesquisas organizadas em grandes temas centrais, uma proposta que rompe com o sistema departamental e incentiva os grupos de estudo. “Mas há de se ter cuidado para que a interdisciplinaridade não se torne uma palavra vazia, sem que se apresentem atitudes concretas”, ponderou Zago.
Quanto ao futuro da universidade paulista, Zago afirmou que tudo está nas mãos dos acadêmicos. “O que faz uma universidade não é o reitor, é o conjunto de lideranças dentro da instituição. Foi isso que fez a USP ser forte no passado. O debate era conduzido por pessoas reconhecidas por toda a sociedade. Se os acadêmicos não retomarem com toda a força não haverá futuro para a USP”, concluiu.
Autonomia e accountability
A professora Debora Foguel, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acredita que a universidade brasileira possa mudar. Segundo ela, quando as primeiras universidades do mundo foram criadas na Idade Média, primeiro elas foram voltadas para o ensino, depois para a pesquisa e em seguida para o serviço, contribuindo na resolução de problemas da sociedade. “Apesar de as universidades serem conservadoras, elas são plásticas e têm se adaptado, sendo capazes de se desenvolver no tempo e no espaço que ocupam”, afirmou. 
Segundo ela, as universidades evoluíram, passando de elitistas para instituições de massa. A pró-reitora da UFRJ propôs uma reflexão sobre o ensino superior no Brasil. “É preciso repensar o sistema universitário brasileiro, criar colleges para dar conta de uma vertente mais profissional”, sugeriu.
Para Debora Foguel autonomia não é sinônimo de liberdade acadêmica, assim como accountability não se refere somente à avaliação. “A autonomia deve permitir que a universidade atenda às demandas da sociedade e accountability é um dos componentes dessa autonomia”, ponderou. O termo, que não tem tradução exata para o português, pode ser entendido não apenas como prestar contas em termos quantitativos, mas de auto-avaliação quanto ao trabalho feito, divulgando o que se conseguiu realizar e justificando aquilo em que se falhou.
A pró-reitora da UFRJ acredita que accountability seja um importante conceito a ser trabalhado no Brasil. “Precisamos trabalhar nisso, pois essa é uma das vertentes mais importantes a serem utilizadas pelas universidades. Hoje, quais são as sanções sofridas pela universidade quando ela não atende o planejado?”, perguntou.
Ela apontou que há um longo caminho ainda a ser percorrido, com grandes desafios pela frente. “É uma luta diária para fazer as mudanças, superando limitações que nós mesmos, e nossos colegas, nos impomos”, desabafou.
Excelência custa muito
A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Monica Heilbron apresentou dados sobre a instituição fluminense, que conta com 2.300 professores e cerca de 23 mil alunos de graduação espalhados em 97 cursos. Segundo ela, como não há condições de se ter excelência em tudo, foram escolhidas algumas áreas como foco dos investimentos, entre elas estão Educação, Engenharia, Ciências Ambientais, Energia e Ciências dos Materiais, Biotecnologia e Farmacologia, Saúde e Qualidade de Vida.
Ela explicou que a UERJ está ligada à Secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, mas os recursos são vistos pela Secretaria de Planejamento e Finanças do Estado do Rio de Janeiro. O controle externo é feito pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do Estado. “As avaliações internas são periódicas e feitas por um conselho, mas o MP está engessando o funcionamento da universidade”, explicou.
O orçamento de 2013 da universidade foi de R$ 1.078.938.156,00, mas não cobriram as pesquisas. De acordo com a pró-reitora, além desse montante, normalmente há pelo menos quatro negociações extras ao longo do ano em busca de mais recursos, que ficam em torno de 25% do orçamento, entre 100 e 120 milhões de reais. 
“De onde vêm os recursos para a excelência? Vêm dos grupos de pesquisadores que se articulam com as agências de fomento, empresas da área do petróleo, por exemplo, pois excelência custa muito. A UERJ vem tentando ampliar sua relação com as empresas, pois acredito que as empresas têm que investir sim e muito nas universidades”, disse.
(Edna Ferreira/Jornal da Ciência)