Antropofagia ontem e hoje

Artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura mostra como uma ideia modernista revolucionou o pensamento brasileiro e influenciou diferentes gerações

WhatsApp Image 2022-07-04 at 10.15.59No centenário da Semana de Arte Moderna, a Antropofagia ainda marca presença como um dos principais temas de seu legado. Isso é o que mostra o artigo especial da nova edição da revista Ciência & Cultura: A semana de Arte Moderna e o Século Modernista — Extensões.

Embora a ideia de antropofagia apareça sempre conectada à Semana de 22, na verdade, ela é posterior ao grande evento de São Paulo. Todo o ideal antropofágico surge da busca modernista por uma “identidade nacional” nas artes (e também fora dela). E as sementes desse projeto nacionalista podem ser identificadas no “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, publicado no Correio da Manhã em 18 de março de 1924 por Oswald de Andrade. Nele, o autor defende que a poesia seja um produto cultural nacional e expressa o desejo de que o Brasil passe a ser uma cultura de exportação, como foi o pau-brasil.

O “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” foi duramente criticado pelo Movimento Verde-Amarelo, de 1926, constituído por Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, que julgava que o mesmo tinha fortes influências europeias (especialmente francesas). Oswald de Andrade revidou com a criação da Escola da Anta, dando origem a um novo movimento — o Movimento Antropofágico, em 1928. Assim, o “Manifesto Antropófago” (ou “Antropofágico”) foi publicado seis anos após a Semana de Arte Moderna.

O texto polêmico e radical do artista foi publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em maio de 1928. Segundo Frederico Coelho, professor dos cursos de Literatura e Artes Cênicas e da Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PPGLCC) do Departamento de Letras da PUC-Rio, a Antropofagia ganha força como o termo que permite a experimentação de diferentes repertórios, de diferentes tempos e espaços, para pensar um Brasil e não Brasil. “Aqui, a prática Tupinambá da deglutição do inimigo mais valente pode ser vista como metáfora de nossa deglutição dos repertórios culturais dominantes (de fora) e sua transformação em força interna (de dentro)”, explica o pesquisador, em artigo para a revista.

E hoje? Como pensar a Antropofagia no contexto contemporâneo globalizado e conectado em tempo real? Para Coelho, a principal lição da ideia de Antropofagia é justamente seu caráter revolucionário — isto é, não a busca de raízes ou essências nacionais, mas o ímpeto experimental e construtivo, visando sempre um futuro. “A Antropofagia pode ser uma marca brasileira porque o Brasil segue como um país que precisa lidar com sua situação periférica em mercados altamente tecnológicos. O país consegue produzir uma série de produtos e saberes de ponta, competir em grandes mercados culturais, porém ainda parte de um espaço ainda visto como “precário”, diz. “Para além da natureza, para além da beleza tropical, para além dos estereótipos e clichês para turistas no carnaval, o que temos hoje de resultado da antropofagia como perspectiva crítica brasileira no contexto das potências mundializadas é justamente a capacidade de resiliência, criação, adaptação e inovação”, finaliza.

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