Bolsonaro retira medalha de pesquisadores críticos do governo

Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Lacerda tinham sido escolhidos para receber a Ordem do Mérito Científico por comitê de associações científicas no qual o governo tem minoria

O presidente Jair Bolsonaro revogou nesta sexta-feira (5) uma condecoração oficial dada aos pesquisadores Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Lacerda, críticos da atuação do governo. Eles tinham recebido a Ordem do Mérito Científico no dia anterior, por decreto do presidente.

No entanto, a lista de condecorados com a honraria, uma das mais altas concedidas pelo poder público a pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da ciência no Brasil, é definida por um comitê científico em que o governo tem minoria — a composição obedece a uma regra estabelecida pela legislação. Integram o órgão três representantes da ABC (Academia Brasileira de Ciências), três da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e três de livre escolha do ministro da Ciência e Tecnologia.

A médica Benzaken, hoje diretora da Fundação Oswaldo Cruz Amazônia, tem atuação internacional na área de doenças transmissíveis. No governo Michel Temer, quando ocupou a diretoria de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e Aids do Ministério da Saúde, ela autorizou a produção de uma cartilha dirigida a homens trans. O documento virou alvo de ataques das redes bolsonaristas e acabou sendo retirado de circulação pelo então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em janeiro de 2019. Benzaken foi exonerada.

Já o médico Lacerda, pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, de Manaus (AM), foi um dos primeiros brasileiros a pesquisar o uso de cloroquina contra a covid-19 e suspendeu o estudo depois de verificar que o medicamento aumentava o risco dos pacientes sofrerem problemas cardíacos. Ameaçado de morte e atacado nas redes sociais por militantes bolsonaristas, Lacerda chegou a ser acusado pelos apoiadores do presidente de usar doses acima do normal de cloroquina para “matar pacientes” e com isso desacreditar o medicamento defendido repetidamente pelo presidente.

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