Cerimônia de entrega do 5º Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher valorizou a pluralidade

Evento realizado pela SBPC em 06 de fevereiro contou com representantes dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e das Mulheres, além de especialistas da comunidade científica

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizou nessa terça-feira (06/02) a cerimônia de entrega do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”. Em sua 5ª edição, a honraria teve como vencedoras a química Yvonne Mascarenhas, na área de Engenharias, Exatas e Ciências da Terra; a antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha, na área de Humanidades; e a biomédica Regina Pekelmann Markus, na área de Biológicas e Saúde.

“São três mulheres que dedicaram e dedicam até hoje as suas vidas ao desenvolvimento da Ciência, formando pessoas e criando redes de conhecimento que são fundamentais para transformar o nosso País”, destacou a vice-presidente da SBPC, Francilene Garcia, responsável por coordenar a premiação.

O evento, sediado no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP, em São Paulo, contou com as presenças da secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marcia Barbosa, da secretária-executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi, além de demais personalidades científicas e políticas.

“Esse prêmio se dá em homenagem a uma pessoa que, antes de ser presidenta da SBPC, dedicou anos e anos de sua vida à sociedade: Carolina Bori”, afirmou o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, na abertura do evento.

Criado em 2019, o Prêmio Carolina Bori foi idealizado para destacar o papel feminino no avanço científico nacional. Neste ano, as premiações foram para a categoria “Mulheres cientistas”, que gratifica grandes nomes do País por suas contribuições excepcionais à Ciência.

“Nós sabemos que, historicamente, o gênero feminino foi excluído de todas as posições de poder e protagonismo. Esse Prêmio foi criado para ser uma grande homenagem às mulheres na Ciência”, complementou Janine Ribeiro.

Na abertura da cerimônia, Garcia explicou a estrutura do Prêmio Carolina Bori, que nos anos pares premia as meninas cientistas e nos anos ímpares, as mulheres já consolidadas na academia. Nas premiações das “Mulheres cientistas”, a SBPC convida as suas sociedades afiliadas a indicarem nomes de personalidades marcantes da ciência nacional.

“Na primeira edição, nós tivemos 29 indicações de cientistas, vindas de 25 sociedades afiliadas. Na terceira edição do prêmio, nós tivemos 35 sociedades afiliadas participando, com 35 indicações. Nesta quinta edição nós tivemos um recorde, com 50 indicações de especialistas, vindas de 52 sociedades científicas”, ressaltou.

A premiação contou com o patrocínio do Instituto Serrapilheira e da Microbiológica Química e Farmacêutica, além do apoio da Fundação Péter Murányi, todos sócios institucionais da entidade. Conforme descrito no Edital da premiação, as instituições patrocinadoras são convidadas a fazer parte do júri que avalia e seleciona as vencedoras. O Serrapilheira foi representado Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto.

A vice-presidente da SBPC também destacou a parceria que a entidade fechou com o CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) para a premiação, que forneceu métricas para uma análise quantitativa da atuação de cada pesquisadora indicada.

Garcia também pontuou a importância do prêmio, o primeiro no País a realizar esse tipo de reconhecimento para as duas fases da carreira científica: aquela bem no início, antes mesmo ou durante a graduação, e a outra ponta, quando a trajetória está bem solidificada, com conquistas e contribuições expressivas.  “Esse prêmio nos dá muita esperança porque nos mostra que, mesmo sem políticas públicas contínuas dedicadas às mulheres na Ciência, nós conseguimos ter cientistas brilhantes.”

Cada vencedora recebeu um troféu e um prêmio em dinheiro, viabilizado por meio das duas instituições patrocinadoras.

“A emoção agora é muito grande. Então, quando a emoção é grande, a razão parece que se inibe, né?”, brincou a química Yvonne Mascarenhas, ao receber seu troféu. “Eu só posso dizer que é uma grande honra e uma grande satisfação ver esse prêmio sendo distribuído não só para mim, mas para mulheres que fizeram coisas boas para a educação, para a população brasileira, para a cultura e para o nosso desenvolvimento científico.”

Também bastante emocionada, a antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha agradeceu o reconhecimento por sua carreira. “A gente faz o que pode, faz com o que a gente tem. Eu fico extremamente honrada com essa homenagem, da SBPC e das antropólogas aqui presentes, e espero estar à altura daquilo que foi dito sobre mim.”

Já a biomédica Regina Pekelmann Markus citou algumas das pesquisadoras presentes no evento e que colaboraram com a sua trajetória científica. “Todo esse percurso é bom, porque ele é coberto de pessoas, ele é junto das pessoas. Eu moro num País que sabe o que é acolher, eu moro num País que sabe o que é diversidade e ele dá chances. E o mundo só reage às violências e às desigualdades com a diversidade.”

Além de homenageadas, as vencedoras também gravaram depoimentos contando suas trajetórias. Os relatos completos estão disponíveis no canal do YouTube da SBPC.

Desafios das mulheres na ciência

As representantes do Governo Federal também trouxeram falas sobre os desafios das mulheres na Ciência. Secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marcia Barbosa apresentou uma prévia de dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que serão publicados em breve e detalham a discrepância entre gêneros na academia.

“Em um panorama geral, existe um equilíbrio entre gêneros na graduação, com exceção em algumas áreas do conhecimento. Porém, à medida em que a pesquisadora vai subindo a carreira, a porcentagem de pesquisadoras com o mesmo título vai caindo. Nós precisamos garantir a equidade na academia.”

Já a secretária-executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi, ressaltou o cenário atual. “Dados da Unesco provam que ainda há uma barreira invisível para o avanço das mulheres cientistas no mercado de trabalho. As mulheres estão apenas em 3 de cada 10 ocupações em Ciência no País, apesar de representarem 44% da nossa força de trabalho.” Guerezi afirmou que o Ministério receberá ainda neste mês de fevereiro dados da Lei da Igualdade, que pautarão novas políticas. 

Um dia de homenagens

O evento também contou com uma série de homenagens para além das ganhadoras. A primeira foi para a professora, Vanderlan Bolzani, que foi responsável pela criação do prêmio. “A Vanderlan criou esse prêmio pensando no reconhecimento de meninas e mulheres cientistas. E o reconhecimento que ela mesma, como cientista, está tendo no Brasil e no mundo é de impressionar. É uma mulher nordestina, pequena e danada, como ela gosta de se referir”, contou a diretora da SBPC, Fernanda Sobral.

A pesquisadora não pode estar presente na cerimônia, mas deixou um depoimento em vídeo: “Uma sociedade que mudou a história da política científica neste País, a nossa SBPC, criada no pós-guerra, não tinha uma premiação para meninas e mulheres na Ciência. Fiz a proposta do prêmio e fiquei feliz que ela foi aceita. É um momento muito especial para a nossa SBPC.”

A SBPC também aproveitou para agradecer a última homenagem recebida. Em janeiro, a entidade foi condecorada com a Medalha “Armando de Salles de Oliveira”, um reconhecimento da Universidade de São Paulo (USP). A universidade, que celebra 90 anos de fundação neste ano, ainda doou uma série de publicações, que serão incorporadas no acervo do Centro de Memória Amélia Império Hamburger (CMAIH), da entidade.

A cerimônia completa de entrega do 5º Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” está disponível no canal do YouTube da SBPC.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência