Cientistas brasileiras reconhecidas lá fora

Cresce o número de mulheres ocupando espaços em importantes instituições internacionais. Dessa vez foi a ecóloga Mercedes Bustamante eleita para a Academia Nacional de Ciências dos EUA

Mais uma cientista brasileira ganha reconhecimento internacional com o anúncio, esta semana, da eleição da ecóloga e professora da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante, para a Academia Nacional de Ciências (NAS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

A eleição foi no fim de abril. Antes dela, em dezembro, a Academia Mundial de Ciências (TWAS, na sigla em inglês) também elegeu quatro cientistas brasileiras:

Concepta McManus, da área de ciências da agricultura, também professora da UnB; Mara Helena Hutz, professora titular de genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Heloisa Beraldo, professora titular de química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Claudia Maria Bauzer Medeiros, professora titular de Ciência da Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A eleição de Bustamante chega no contexto de uma mudança histórica da NAS. Dos 120 membros eleitos este ano, 59 são mulheres, a maioria eleita em um único ano, e 30 membros são internacionais.

“O número histórico de mulheres eleitas este ano reflete as contribuições que elas estão fazendo em muitos campos da ciência, bem como um esforço conjunto de nossa Academia para reconhecer essas contribuições e o valor essencial de aumentar a diversidade em nossas fileiras”, afirmou a presidente da NAS, Marcia McNutt, em um comunicado divulgado no site da instituição.

Bustamante explicou que a indicação é feita pelos próprios membros, mas ela não foi informada sobre quais membros a indicaram. Ao longo de sua carreira de pesquisadora,  trabalhou com vários cientistas ligados à NAS. “Até fiquei surpresa porque não sabia que estava sendo indicada”, afirmou em entrevista ao Jornal da Ciência.

A ecóloga atribui a eleição ao resultado de um “trabalho coletivo”, um reconhecimento que ela compartilha com seus alunos de graduação, pós-graduação, os professores parceiros dentro e fora da UnB, uma rede criada em seus quase 27 anos na Universidade. “Eu vejo como um reconhecimento à ciência feita no Brasil dentro da área de ecologia”, comentou. O momento não poderia ser mais importante para mostrar a qualidade da ciência produzida no País, que merece ser fomentada, disse.

Bustamante acredita que esse reconhecimento pode estimular os jovens, principalmente as meninas e mulheres, para a ciência. “Na base da ciência já existem mais mulheres que homens, mas ainda não no topo da carreira”, afirmou. E completou: “Gostaríamos de ter mais mulheres na liderança da ciência no Brasil e talvez esse reconhecimento ajude a impulsionar isso, as jovens pesquisadoras que têm aquele momento da carreira compartilhado com a maternidade, principalmente agora na pandemia, sem escolas. Acho que essa sinalização de apoiar o trabalho das mulheres na ciência gera frutos”, declarou.

Também para Concepta McManus – mais conhecida em sua comunidade acadêmica como Connie – a eleição para a TWAS tem que ser vista como um reconhecimento à qualidade da pesquisa científica feita no Brasil.

“Mostra que fazemos uma ciência de qualidade, que tem um impacto não só no Brasil, mas no resto do mundo, uma ciência que tem relevância para o desenvolvimento”, afirmou McManus, lembrando que a TWAS é uma instituição voltada para países em desenvolvimento.

Pesquisadora da genética de bovinos e ovinos, McManus acha que a eleição para a TWAS impulsiona o trabalho das cientistas, principalmente em sua área que tem uma predominância masculina. “Somos mais chamadas para dar opinião sobre as questões e assuntos da nossa área de experiência”, afirmou.

Irlandesa residente no Brasil há 30 anos, McManus destacou ainda a oportunidade criada pela presença em fóruns internacionais para defender a ciência brasileira. “Acho também que muda um pouco nossa perspectiva, além da ciência, temos que atuar um pouco dentro da questão política, usar esse conhecimento que temos não só na defesa, mas melhoria das políticas para a ciência e tecnologia no Brasil e quem sabe agora em outros países”, declarou.

Janes Rocha – Jornal da Ciência