Como a ciência pode nos ajudar a fortalecer a democracia

“Conhecimento rigoroso é essencial para resolver os muitos problemas do País”, escrevem Renato Janine Ribeiro, Fernanda Sobral e Paulo Artaxo, respectivamente, presidente e vice-presidentes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em artigo para a Folha de S. Paulo

Neste domingo (24/7), abre-se em Brasília, no campus da UnB, a 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que nos honra dirigir. Temos uma grande responsabilidade, dados os tempos difíceis que o Brasil atravessa, mas que havemos de superar, sim, todos unidos.

Reafirmamos, neste 74º encontro, nosso compromisso absoluto com a democracia, forjado na luta contra a ditadura, quando as reuniões anuais, do Norte ao Sul do Brasil, eram um momento de respiro e de articulação de projetos para um país democrático.

Nomes ilustres, entre eles dois futuros presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, abrilhantaram nossos encontros, na defesa do Estado de Direito, da democracia e da inclusão social.

Também lutamos, no período da Constituinte, para que ela redigisse uma Constituição Cidadã, que não só restabeleceu o Estado de Direito e as garantias democráticas, como desenhou o que o Brasil quer ser: um país pacífico, justo, próspero, solidário e sem pobreza ou preconceitos.

Além disso, definiu vários meios para chegar a esta meta, como o fortalecimento da educação básica, o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, essencialmente na pós-graduação, a cultura, a saúde, a proteção do meio ambiente e dos indígenas e a inclusão social.

Recentemente, a SBPC lutou pela emenda constitucional 85, que fortalece o papel da ciência no desenvolvimento econômico e social. Nos últimos anos se tem batido para restabelecer e aprimorar nossa educação, pesquisa e demais áreas já mencionadas, gravemente prejudicadas nesse período por políticas de cortes, censura e desmonte das instituições.

Mas o principal é o que vamos mostrar. Tendo como tema “Ciência, Independência e Soberania Nacional”, discutiremos como aqui chegamos e os meios de melhorar o Brasil. Como pode o conhecimento rigoroso resolver problemas legados por séculos de discriminação, décadas de poluição, agravados por políticas de governo insensatas?

Da Batalha do Jenipapo, visitando a história do Grão-Pará, discutindo o legado dos cem anos da Semana de Arte Moderna, até o debate das políticas indigenistas e das consequências da devastação do meio ambiente, mostraremos como a democracia, nosso maior compromisso, é o pilar da construção de políticas de Estado que levem o Brasil à autêntica soberania e independência, e, portanto, tem que ser preservada e melhorada.

Também comemoraremos os 60 anos da UnB, instituição que nos recebe, nascida do ideário de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.

As exposições da 74ª reunião anual mostrarão as faces da ciência dos últimos 200 anos, com destaque para o naturalista Fritz Muller. Vamos contar a história e a importância das urnas eletrônicas, foco do debate político atual e produto do avanço científico e tecnológico brasileiro, em debates, livro e exposição. Falaremos da pandemia e de seus impactos na fome e na educação.

Como fazemos há quase 30 anos, com a SBPC Jovem, a Expot&C e a SBPC Família que fecha a reunião, mostraremos aos jovens e suas famílias como a ciência permeia e melhora nossas vidas.

Sobre os autores:

Renato Janine Ribeiro

Professor titular de ética e filosofia política da USP, é presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e ex-ministro da Educação (governo Dilma, 2015); autor de ‘A Pátria Educadora em Colapso’ (ed. Três Estrelas)

Fernanda Sobral

Vice-presidente da SBPC, é socióloga e professora emérita da UnB

Paulo Artaxo

Vice-presidente da SBPC, é físico e professor titular do Instituto de Física da USP

Folha de S. Paulo