Continuidade de recursos é primordial para que o Brasil tenha um Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação, defende diretora da SBPC

Professora da UnB, Laila Salmen Espindola reforçou a importância de incentivos para as parcerias entre universidades e empresas, um dos mecanismos que faz com que a Ciência chegue ao mercado de trabalho
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Foto: Divulgação

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falta de continuidade nos recursos e a ausência de bases sólidas que incentivem a relação entre universidades e empresas afetam a transferência de tecnologia desenvolvida pelo pesquisador brasileiro e impossibilitam o País a ter um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação firme e robusto. Estes foram os principais apontamentos feitos pela diretora da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e Conselheira da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), Laila Espindola, na reunião preparatória do Distrito Federal para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).

Realizado na última quarta-feira (17/04) pela FAPDF, o evento contou também com as participações da ex-presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e professora da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante; o secretário-executivo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal (SECTI-DF), Alexandre Villain; a superintendente Científica, Tecnológica e de Inovação da FAPDF, Renata Vianna; a decana de Pesquisa e Inovação da UnB, Maria Emiília Machado Telles Walter; e o doutor em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard (EUA), Edson Kenji Kondo.

Em sua fala, a diretora da SBPC apresentou um panorama da relação entre universidades e empresas ao longo dos últimos 40 anos. “O nosso exemplo do que mais deu certo são as unidades Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). Criadas em 2013, ou seja, há um pouco mais de 10 anos, elas são um modelo que finalmente enxergamos resultados. É a mistura de um modelo alemão com alguns americanos, nos quais o governo entra com a subvenção de 1/3 do projeto, as empresas entram com 2/3 e tem-se, o capital econômico da própria Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT).”

Espindola destacou que dentro da estrutura da Embrapii existe um modelo de incentivo tecnológico, além da propriedade intelectual pertencer aos respectivos pesquisadores envolvidos, que garante uma política de licenciamento da inovação, com base nas condições de valoração do mercado.

Além de serem ambientes de estímulo à pesquisa, as Unidades Embrapii também fortalecem a formação de profissionais. “Hoje, das quase 100 unidades da Embrapii, nós temos mais de 10 mil pesquisadores de universidades federais envolvidos com a produção científica, a aplicação de tecnologias e transferência dessas tecnologias a indústrias com uma efetiva parceria”, complementou.

A diretora da SBPC, que também é professora da Universidade de Brasília, destacou que as parcerias universidades-empresas são benéficas para todos os envolvidos. “Em algumas universidades, o impacto dessas parcerias têm sido importante para equipar os laboratórios e formar os estudantes. Já para as empresas, as parcerias têm sido um apoio para conseguirem modernizar os seus setores de forma essencial.”

Espindola ressaltou que, apesar da Lei de Inovação (Lei 10.973/2016) exigir que as universidades federais tenham políticas de inovação, muitas ainda possuem dificuldade de implementar a lei na prática. Em paralelo, alguns pesquisadores, na negociação direta com empresas, acabam priorizando o relacionamento individual em parcerias, sem envolver a instituição pública ou novos alunos para formação.

Espindola sugeriu “presença da FAPDF, não apenas por meio do fomento, mas com participação ativa em iniciativas facilitadoras da integração universidade-empresa; e particularmente, facilitadora do empreendedorismo de impacto social, assim como em eventos para disseminação da ciência / combate as notícias falsas-criminosas, ambos, particularmente envolvendo a saúde pública no DF”.

A professora da UnB destacou a importância de outros mecanismos necessários na formação de pesquisadores, como os programas de cooperação internacional, que auxiliam nas relações entre universidades e empresas.

“Os programas de cooperação internacional precisam garantir que o estudante/pesquisador tenha a instituição no exterior para estudar e a instituição no Brasil para o seu retorno. Manter esses vínculos, especialmente por meio de assinatura de acordos internacionais, é essencial para o doutor, para as universidades e os países. E como parte desses doutores fica no ensino e parte vai para o mercado/a iniciativa privada, é preciso incentivar a criação de startups, inclusive como um caminho para que esses jovens realizem a transferência do conhecimento adquirido no exterior.”

Por fim, Espindola ressaltou que um cenário satisfatório para as parcerias entre universidades e empresas só é viável com financiamento e incentivos governamentais, daí a importância de uma política nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação bem estruturada e bem coordenada:

“Um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação forte exige coordenação, a fim de garantir recursos com continuidade, com critérios claros e para serem executados no curto, médio e longo prazo, e inclusive para propiciar que muita pesquisa básica já realizada no país, possa ser desenvolvida e transformada em pesquisa aplicada” concluiu.

A reunião preparatória para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação no Distrito Federal está disponível na íntegra no canal da FAPDF no YouTube.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência