Devemos estar preparados para uma próxima pandemia, diz Margareth Dalcolmo

Em conferência que abriu a programação científica da 74ª Reunião Anual da SBPC, a pneumologista e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz falou sobre o enfrentamento da pandemia de covid-19 e o futuro da ciência no Brasil

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A programação científica da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência teve início nesta segunda-feira, 25 de julho, com uma conferência das mais prestigiadas cientistas do País, a pneumologista e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fiocruz no Rio de Janeiro, Margareth Dalcolmo.

Dalcolmo tem sido uma das maiores referências na disseminação de conhecimento sobre a covid-19 desde o início da pandemia, em 2020. Em sua apresentação, a cientista falou sobre o enfrentamento da pandemia e o futuro da ciência no Brasil, e defendeu a importância de olhar para trás para buscar respostas para os desafios do presente e do futuro.

“Não adianta olhar o futuro sem olhar o passado. A história das epidemias é a história do homem. Temos que olhar o passado. Já em 1919, um artigo da revista Science falava das medidas não farmacológicas para conter a propagação de doenças, como cobrir a boca para tossir, evitar multidões, lavar as mãos”, disse. As medidas recomendadas pela prestigiosa revista científica norte-americana para conter a pandemia da gripe espanhola no início do século passado foram justamente as medidas que salvaram vidas nesta nova pandemia de coronavírus, até que as vacinas fossem disponibilizadas.

Outra lição que o passado e o presente ensinam é a necessidade de preservar as florestas para evitar que novas zoonoses sejam trazidas para as cidades e, também, estarmos preparados para o inevitável surgimento delas, considerando as circunstâncias presentes.

“A Amazônia tem uma concentração de vírus enorme, sobretudo de coronavírus. Se nós continuarmos a desmatá-la, fazer pasto, todos os horrores que estamos vendo acontecer, nós seguramente teremos uma nova pandemia nascendo no Brasil, considerando as condições ecológicas atuais”, alertou.

Ela citou o exemplo do surto de febre amarela urbana que tivemos no Brasil recentemente, em São Paulo, entre 2016 e 2019, por conta do desmatamento da Mata Atlântica. “Há uma relação direta do meio ambiente com essas zoonoses”, disse.

E como devemos olhar para frente agora? A cientista falou sobre como a covid-19 pegou o sistema de saúde brasileiro de surpresa, e que por isso a letalidade no Brasil foi uma das mais altas do mundo, em todas as idades, inclusive as crianças. Para ela, essa é uma lição que deve ser reparada imediatamente. “Seguramente neste momento no Brasil devemos pensar sobre como formar equipes de recursos humanos de toda ordem – profissionais de saúde, administradores, médicos, pesquisadores, enfermeiros -, que estejam preparados para serem acionados em eventos de epidemias.”

A conferência está disponível na íntegra no canal da SBPC no YouTube, neste link.

Daniela Klebis – Jornal da Ciência